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janeiro 28, 2025

Babygirl (2024)

 


Título original: Babygirl
Direção: Halina Reijn
Sinopse: Uma executiva bem-sucedida coloca sua família e carreira em risco se envolver com seu estagiário bem mais jovem. No thriller erótico de Halina Reijn, Romy (Nicole Kidman) é uma executiva que conquistou seu posto como CEO com muita dedicação. O mesmo se aplica a sua família e o casamento com Jacob (Antonio Banderas). Tudo o que construiu é posto à prova quando ela embarca em um caso tórrido e proibido com seu estagiário Samuel (Harris Dickinson), que é muito mais jovem. A partir daí ela anda corda bamba de suas responsabilidades e, também, nas dinâmicas de poder que envolvem suas relações.


Halina Reijn, cineasta holandesa de grande expressão em sua carreira de direção e atuação, entrega com Babygirl uma obra provocadora que reflete sobre o desejo, o poder e os limites entre o que é ético e o que é moralmente aceitável. Ao longo da narrativa, a cineasta constrói uma história repleta de tensão emocional, erotismo e um toque de crítica à sociedade contemporânea, especialmente no que se refere ao ambiente corporativo e à exploração do prazer feminino. Com um elenco estelar e uma fotografia que leva o espectador para dentro das emoções mais íntimas dos personagens, o filme se torna uma exploração da sexualidade feminina e da dinâmica de poder que envolve os relacionamentos modernos.

Babygirl é um thriller psicológico e erótico que traz a atuação de Nicole Kidman, Harris Dickinson e Antonio Banderas, e apresenta uma história que gira em torno de Romy (Nicole Kidman), uma CEO de uma grande corporação que está em um casamento aparentemente estável com Jacob (Antonio Banderas), mas vê sua vida virar de cabeça para baixo quando um jovem estagiário, Samuel (Harris Dickinson), entra em sua vida. O filme explora a tensão entre o desejo reprimido e as expectativas sociais, levando os personagens a vivenciarem um caso quente e proibido, mas também cheio de complexidades emocionais e existenciais.

Halina Reijn é uma cineasta que consegue balancear os aspectos artísticos e técnicos de forma imersiva e convincente. Sua direção em Babygirl oferece uma estética que reflete a tensão entre os sentimentos de culpa e prazer, ao mesmo tempo em que propõe uma desconstrução das dinâmicas sexuais e de poder no mundo moderno. No entanto, é possível perceber que o filme peca em sua estrutura narrativa ao tentar ir além do seu próprio alcance.

A escolha de Reijn de tratar de temas tão polêmicos, como o desejo entre pessoas de diferentes idades, e as complexas interações no ambiente corporativo, coloca Babygirl em um território delicado. Ao invés de simplesmente mostrar um caso de natureza proibida, o filme explora as contradições internas dos personagens, fazendo com que o público questione o que é moralmente aceitável quando se trata de relações de poder e consentimento.

Ainda que a ideia de questionar essas dinâmicas seja válida e até estimulante, o roteiro acaba caindo em certos exageros, com momentos de tensão que podem ser previsíveis, mas que se esforçam em criar uma atmosfera carregada de tensão sexual. Reijn parece tentar provocar o espectador, mas acaba mergulhando em um território onde a manipulação emocional dos personagens não é tão bem fundamentada quanto poderia ser.

A fotografia de Babygirl é um dos pontos altos do filme. A paleta de cores escolhida por Reijn é sóbria e intensa, com tons de azul escuro e cinza dominando a maior parte da obra. Esses tons frios contrastam com os momentos de calor nas cenas mais íntimas, criando uma separação entre os momentos de tensão emocional e os de desejo ardente. A iluminação é outra característica que chama atenção, com planos fechados e luzes direcionadas que intensificam o foco nas expressões faciais e nos gestos dos atores. Isso não apenas ressalta a vulnerabilidade dos personagens, mas também faz com que o espectador se sinta parte do processo de descoberta e tensão.

Além disso, as cenas íntimas entre Romy e Samuel são filmadas de maneira cuidadosa, evitando a exploração gratuita do corpo. O foco está sempre na psicologia dos personagens e na maneira como eles lidam com os sentimentos que surgem a partir do contato físico, o que dá à narrativa uma dimensão emocional. A câmera se aproxima dos rostos dos personagens, capturando não apenas os momentos de prazer, mas também a confusão, o arrependimento e a busca por algo além do físico. Isso é uma marca registrada do estilo de Reijn, que sabe onde aplicar os momentos de exposição para manter a profundidade da história.

A trilha sonora de Babygirl acompanha o ritmo de sua trama, complementando a tensão e os dilemas dos personagens. A escolha de músicas como "Need You Tonight", da banda INXS, e "Careless Whisper", de George Michael, é um reflexo direto da ambiguidade emocional que permeia o filme. As canções possuem um tom melancólico e sensual, que dialogam com o clima de incerteza e desejo reprimido.

Essa inserção musical no filme não se dá de forma gratuita, mas sim como uma extensão da própria narrativa. As músicas estão atreladas às sensações que os personagens experimentam, e muitas vezes funcionam como uma espécie de espelho do que acontece na trama, intensificando os momentos de crise emocional e de reflexão sobre o prazer e a perda.

Nicole Kidman, como Romy, entrega uma performance de grande intensidade, mergulhando nas complexidades de uma mulher que se vê dividida entre a lealdade ao marido e o desejo por um novo amor, mais jovem e transgressor. A atriz consegue expressar com maestria o conflito interno de sua personagem, criando uma personagem que, apesar de sua posição de poder, é vulnerável e profundamente humana. Sua atuação se destaca especialmente nas cenas de introspecção, onde os sentimentos de confusão e desejo são expressos por meio de pequenos gestos e olhares intensos.

Harris Dickinson, como Samuel, o estagiário jovem, também traz uma atuação sólida, com uma performance convincente que contrasta a energia jovem e irreverente de seu personagem com a experiência e a complexidade de Romy. Ele está à altura de Nicole Kidman, criando uma dinâmica de poder que é ao mesmo tempo atraente e problemática. Juntos, Kidman e Dickinson formam uma dupla que mantém o espectador na ponta da cadeira, aguardando o próximo movimento.

Antonio Banderas, embora presente em um papel secundário como Jacob, o marido de Romy, desempenha com competência sua função no enredo. Seu personagem traz uma estabilidade que se contrapõe ao caos emocional criado pela relação extraconjugal de Romy. Mesmo que o papel não seja central, Banderas é eficaz ao representar a frieza e o desgaste de um casamento que, apesar de aparentemente sólido, está prestes a ruir.

O principal foco de Babygirl é explorar a relação entre desejo, poder e consentimento, colocando esses temas em uma luz desconfortável e complexa. A dinâmica entre Romy e Samuel está longe de ser uma simples história de romance ou atração; ela questiona as fronteiras entre prazer e exploração, entre liberdade e submissão.

A obra também lança um olhar atento sobre a mulher no comando, uma personagem que tem tudo, mas se vê fragilizada por um desejo que a coloca em uma posição vulnerável. O filme propõe uma reflexão sobre o impacto das relações pessoais no ambiente profissional, onde a liberdade individual pode se chocar com as expectativas da sociedade. Em certo sentido, Babygirl é uma metáfora para as mulheres que buscam assumir o controle de suas vidas sexuais e afetivas, mas acabam sendo rotuladas como transgressoras ou, pior, como manipulatórias.

Contudo, o filme também não deixa de ser autoconsciente. Há uma certa ironia em como a história se desenrola, principalmente ao explorar a obsessão que, muitas vezes, o público tem com a sexualidade feminina, e como essa obsessão pode ser tanto libertadora quanto destrutiva. A tensão entre esses elementos é o que torna Babygirl uma obra provocadora e desafiadora, mas, ao mesmo tempo, sua execução acaba sendo mais ambiciosa do que o roteiro consegue alcançar.

Babygirl é um filme que, ao mesmo tempo em que questiona e desconstrói as dinâmicas tradicionais de relações de poder e desejo, acaba se perdendo em sua própria ousadia. A direção de Halina Reijn é envolvente e promissora, mas a obra poderia se beneficiar de um maior aprofundamento em suas ideias centrais. A fotografia e a trilha sonora são espetaculares, e as atuações de Nicole Kidman e Harris Dickinson são notáveis, com performances que dão vida a personagens que são complexos e interessantes, mas que em alguns momentos não encontram a profundidade emocional que a história parece prometer.

Ao final, Babygirl é uma produção que vai dividir opiniões. Para alguns, pode ser uma experiência cinematográfica desafiadora e cativante; para outros, uma história que tenta ser mais do que é, deixando de lado a sutileza em favor de uma provocação que nem sempre atinge o objetivo. Em suma, é uma história de desejo, poder e o jogo de manipulação que ocorre dentro dessas esferas, mas que nem sempre consegue equilibrar as tensões de maneira eficaz.

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