Na comédia de ação Thelma (2024), dirigida por Josh Margolin, a talentosa June Squibb finalmente recebe o reconhecimento de um papel principal após uma carreira de mais de 70 anos. Ao mesmo tempo, o filme entrega uma narrativa previsível que, apesar de começar com força, tropeça em seu próprio excesso.
Inspirado por experiências pessoais do diretor com sua avó, Thelma segue a história de Thelma Post (June Squibb), uma senhora de 93 anos que é enganada por um golpista telefônico. Determinada a recuperar o que é seu, Thelma embarca em uma jornada cheia de situações absurdas, acompanhada por um amigo idoso (Richard Roundtree, em sua performance final) e seu scooter motorizado.
Com elementos cômicos que lembram filmes clássicos de "velhinhos espertos", Thelma tenta trazer frescor ao gênero ao transformar a protagonista idosa em uma heroína de ação, com toques que parodiam filmes como Missão: Impossível. O elenco inclui nomes como Parker Posey, Clark Gregg e Malcolm McDowell (o eterno Alex de Laranja Mecânica), que assume o papel do antagonista de maneira caricata, mas funcional.
O início do filme é, sem dúvida, o seu ponto mais forte. Há um equilíbrio perfeito entre comédia e ação, com piadas inteligentes que fluem naturalmente. June Squibb brilha desde o primeiro momento em cena, carregando o filme com carisma e autenticidade. É um deleite vê-la assumir o papel de uma personagem que, apesar da idade avançada, demonstra força, humor e determinação.
A cinematografia de Tami Reiker (The Old Guard) usa cores vibrantes para refletir a energia jovial de Thelma, enquanto a trilha sonora de Rob Simonsen (Ghostbusters: Mais Além) adiciona um tom leve e espirituoso que casa bem com o ritmo inicial. Infelizmente, essa magia se desfaz gradualmente.
Conforme o filme avança, as piadas começam a perder o impacto, tornando-se repetitivas e previsíveis. A ação, que inicialmente parecia uma brincadeira com os clichês do gênero, se torna genérica, quase como uma paródia que se leva a sério demais. É aqui que o filme revela sua maior falha: a incapacidade de manter o frescor inicial.
O roteiro de Margolin tenta sustentar o interesse com sequências de ação mirabolantes e diálogos cheios de trocadilhos, mas acaba repetindo ideias até que elas percam a graça. Muitos momentos lembram filmes como Dois Velhos Rabugentos (1993), de Jack Lemmon e Walter Matthau - e não de forma positiva. Essa familiaridade tira qualquer senso de novidade que o filme poderia oferecer.
Se há algo que salva Thelma de ser uma experiência completamente esquecível, é a performance espetacular de June Squibb. Sua entrega é sincera, divertida e, acima de tudo, cativante. Ela transforma diálogos simples em momentos memoráveis e se compromete com a fisicalidade exigida pelo papel, chegando a realizar algumas de suas próprias acrobacias, o que é impressionante considerando sua idade.
Richard Roundtree também merece menção, entregando um desempenho comovente em seu último papel. No entanto, o restante do elenco, embora talentoso, fica preso em personagens bidimensionais que não exploram plenamente o potencial dos atores envolvidos.
Josh Margolin, em sua estreia como diretor, demonstra talento para criar momentos cômicos pontuais e um estilo visual agradável. No entanto, a direção carece de consistência, especialmente no segundo e terceiro atos. Enquanto Margolin claramente tenta transmitir uma mensagem sobre envelhecimento com dignidade e agência, essa ideia se perde em meio a uma execução que não consegue decidir se quer ser sátira, homenagem ou algo novo. A produção da Magnolia Pictures aposta na nostalgia e no carisma dos atores veteranos, mas não fornece um roteiro ou uma direção que os sustente adequadamente.
Thelma é um filme que tinha todos os ingredientes para ser terrivelmente engraçado e inovador, mas termina como uma mistura de clichês que já vimos muitas vezes antes. Filmes sobre "velhinhos espertos" são tão comuns que, a menos que tragam algo realmente original, dificilmente deixam uma marca duradoura. O primeiro ato é promissor, mas o filme rapidamente descamba para o território do óbvio e do exagerado.
Apesar de tudo, a performance de June Squibb vale cada minuto. Sua atuação é um lembrete do que um ator talentoso pode fazer mesmo com material limitado. No entanto, como um todo, Thelma fica aquém de seu potencial, sendo mais uma adição ao gênero do que uma reinvenção dele. Uma estreia decente para Josh Margolin, mas que ainda deixa muito a desejar.
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