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dezembro 08, 2024

Os Últimos Românticos (2019)

 


Título original: Os Últimos Românticos
Direção: João Cândido Zacharias
Sinopse: Dois jovens compartilham diferentes pontos de vista sobre o mesmo encontro sexual em um espaço público.


A simplicidade nunca foi tão reveladora quanto em Os Últimos Românticos (2019), de João Cândido Zacharias. O curta de 12 minutos explora um encontro casual entre dois homens, desdobrando suas percepções contrastantes sobre um momento íntimo. Este ponto de partida aparentemente simples é elevado por diálogos realistas e performances marcantes, que transcendem as expectativas e entregam uma experiência universal, mesmo dentro de um tema muito específico.

Como no trabalho anterior do diretor, Sandra Chamando, a habilidade em dirigir os protagonistas é fenomenal. Maurício José e Lucas Canavarro dão vida aos personagens com naturalidade, tanto nas atuações quanto nos diálogos, capturando com precisão a autenticidade de situações que muitos já vivenciaram. Essa abordagem direta e emocional reflete a capacidade do diretor de transformar momentos cotidianos em arte, sem necessidade de artifícios ou exageros. O roteiro, também assinado por Zacharias, equilibra leveza e profundidade, abordando questões sobre conexão, memória e vulnerabilidade.

Outro aspecto notável do roteiro é que, apesar de sua simplicidade, é surpreendentemente rico em nuances. Ele aborda temas como sexualidade, intimidade e as diferentes maneiras de experimentar e interpretar os mesmos momentos. A dualidade apresentada pelos protagonistas — um que enxerga o evento com nostalgia e outro com desconforto — desafia o espectador a refletir sobre as complexidades das relações humanas e os limites entre o privado e o público.

Os Últimos Românticos também encontrou ressonância internacional, tendo sido exibido em festivais como o Indie Lisboa, Pink Apple Queer Film Festival, e FIRE!! Barcelona LGBT Film Festival, além de receber uma menção especial do júri no Espacio Queer Film Festival. Isso demonstra não apenas a relevância temática da obra, mas também seu apelo universal, capaz de tocar audiências diversas.

O filme prova que a extrema simplicidade não implica falta de qualidade. Pelo contrário, é uma celebração da narrativa minimalista, onde cada detalhe, desde as expressões dos atores até as escolhas técnicas, contribui para uma obra coesa e emocionalmente poderosa. João Cândido Zacharias reafirma aqui seu talento em capturar a essência do cotidiano, transformando o ordinário em algo extraordinário. Em uma era de produções cada vez mais grandiosas e complexas, Os Últimos Românticos lembra que o verdadeiro impacto está na sinceridade com que histórias simples são contadas. Essa simplicidade contagiante seria, mais tarde, atingida pelo diretor no seu longa de estreia, A Herança (2024).

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