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dezembro 03, 2024

Jurado Nº 2 (2024)

 


Título original: Juror #2
Direção: Clint Eastwood
Sinopse: O pai de família Justin Kemp atua como jurado em um julgamento por assassinato de destaque, se vê enfrentando um grave dilema moral... podendo influenciar o veredito do júri e talvez condenar — ou libertar — o assassino acusado.


Clint Eastwood, uma lenda viva do cinema, entrega com Jurado Nº 2 o que foi anunciado como seu último trabalho como diretor. O filme, um drama de tribunal com nuances psicológicas, é uma obra que inevitavelmente carrega o peso de sua filmografia extensa e da expectativa de um adeus cinematográfico. Ainda assim, o resultado é um trabalho correto, mas sem o brilho esperado de um canto do cisne.

Jurado Nº 2 acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jurado em um julgamento de assassinato que, ao longo do processo, percebe que pode ter sido o responsável pelo crime que está sendo avaliado. Essa premissa instigante traz uma carga emocional e moral significativa, colocando o protagonista em um dilema: confessar sua culpa e enfrentar as consequências ou permanecer em silêncio e influenciar a decisão dos demais jurados.

Essa premissa é o ponto mais forte do filme, pois explora os limites da justiça e da responsabilidade individual. Contudo, o desenvolvimento do roteiro é prejudicado por uma direção que, em vários momentos, não consegue sustentar a tensão ou aprofundar as complexidades morais sugeridas. O ritmo arrastado e as escolhas previsíveis acabam enfraquecendo o potencial da narrativa.

Nicholas Hoult é, sem dúvida, o destaque do elenco. Seu retrato de Justin é sutil e eficaz, capturando com habilidade o conflito interno de um homem tentando equilibrar a culpa e a necessidade de fazer o que é certo. Hoult transmite um amplo espectro emocional sem exageros, consolidando-se como um ator de versatilidade impressionante.

Por outro lado, Toni Collette, como a promotora Faith Killebrew, entrega uma performance apática, longe do vigor que seu papel demandava. Sua personagem, que poderia ser uma força motriz no desenrolar da história, acaba se perdendo em um roteiro que não lhe oferece grandes oportunidades. J. K. Simmons, sempre competente, interpreta um papel secundário que tinha grande potencial dramático, mas suas cenas são abruptamente interrompidas, deixando a sensação de desperdício de talento. Chris Messina, como o advogado de defesa, oferece uma atuação genérica e sem caráter distintivo.

A direção de Eastwood, marcada por seu estilo clássico e direto, é eficiente, mas sem ousadias. O filme possui um visual impecável, com fotografia limpa e enquadramentos elegantes, mas falta um frescor que o distinga de seus trabalhos anteriores. O estilo antiquado — quase como um filme dos anos 1990 atualizado apenas pela qualidade técnica moderna — confere à obra um tom ligeiramente brega, algo que é característico de Eastwood, mas que aqui parece mais um traço de desgaste do que uma escolha estilística.

A trilha sonora é outro ponto fraco. Quase inexistente, sua ausência não cria o silêncio reflexivo almejado, mas sim um vazio que diminui o impacto emocional das cenas. Essa escolha minimalista poderia ser poderosa se houvesse uma narrativa mais vigorosa para sustentá-la, mas no contexto do filme, acaba contribuindo para o ritmo lento.

O filme aborda questões relevantes sobre moralidade, culpa e justiça. Eastwood levanta dilemas sobre a falibilidade do sistema legal e a possibilidade de redenção pessoal, mas as respostas ficam pela superfície. A tensão do tribunal, que deveria ser o centro nervoso da trama, carece de energia e se dilui em cenas que parecem desconectadas ou pouco desenvolvidas.

Ainda assim, há momentos de brilho, especialmente nas interações entre Justin e outros jurados, que revelam preconceitos e interesses pessoais que influenciam suas decisões. Esses instantes trazem um realismo desconfortável, lembrando o impacto de clássicos como 12 Homens e uma Sentença, mas sem atingir a mesma profundidade ou intensidade.

Sendo este possivelmente o último filme de Eastwood, é impossível não refletir sobre seu legado. Jurado Nº 2 é um filme que, embora competente, não representa um clássico final digno de sua carreira. A obra reflete tanto suas qualidades como contador de histórias quanto as limitações de um diretor que, aos 93 anos, talvez não tenha mais a energia criativa para ousar.

Em última análise, Jurado Nº 2 é um bom filme, mas não um grande. Apesar de um enredo interessante e uma atuação excepcional de Nicholas Hoult, a direção antiquada e o roteiro superficial impedem que a obra alcance todo o seu potencial. Para os fãs de Clint Eastwood, é uma despedida que vale a pena conferir, mas que talvez deixe um gosto agridoce, muito mais pela promessa de sua última obra do que por sua execução propriamente dita.

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