Páginas

dezembro 07, 2024

Blitz (2024)

 


Título original: Blitz
Direção: Steve McQueen
Sinopse: Na Londres da Segunda Guerra Mundial, George, de nove anos, é evacuado para o campo por sua mãe, Rita, para escapar dos bombardeios. Desafiador e determinado a voltar para sua família, George embarca em uma jornada épica e perigosa de volta para casa enquanto Rita o procura.


Steve McQueen retorna com Blitz, um drama histórico ambientado durante dois dias do bombardeio nazista em Londres durante a Segunda Guerra Mundial. Conhecido por sua abordagem contundente em filmes como 12 Anos de Escravidão e Shame, McQueen tenta capturar a crueza de uma Londres devastada e resiliente. Embora o filme apresente um contexto histórico poderoso e uma direção visual refinada, ele tropeça em sua narrativa fragmentada e performances inexpressivas, que comprometem sua capacidade de impactar o público.

A mixagem de som é uma das qualidades mais notáveis de Blitz. Cada explosão, sirene e o retumbar das paredes que desmoronam é reproduzido com tamanha precisão que imerge o espectador no caos da guerra. A qualidade sonora complementa a cinematografia de Yorick Le Saux, que substitui Sean Bobbitt, colaborador habitual de McQueen. Embora Le Saux traga uma abordagem mais polida e "streamer-ready", sua cinematografia falha em capturar a visceralidade que Bobbitt trazia em projetos anteriores do diretor.

As cenas que mostram a blitzkrieg em si, embora poucas, são de qualidade impecável. Elas destacam a destruição em detalhes dolorosamente realistas e poderiam ter sido exploradas em maior profundidade. Ao optar por um enfoque mais intimista, McQueen restringe o impacto visual que o filme poderia ter oferecido em relação às consequências dos bombardeios em larga escala.

O jovem Elliott Heffernan, estreando como o protagonista Tom, não consegue transmitir a complexidade emocional necessária para um papel tão central. Sua atuação é monótona, e a falta de empatia que seu personagem desperta compromete o envolvimento do espectador. A situação é agravada pela performance de Saoirse Ronan, que interpreta Grace, uma enfermeira resiliente. Apesar de estar cotada para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, sua atuação carece de expressividade, reduzindo a dinâmica entre os personagens a algo morno e tedioso.

Esse "dueto amorfo" é especialmente frustrante porque ambos os personagens deveriam ser os corações pulsantes do filme. Ronan, com um histórico de atuações elogiadas, parece deslocada neste papel, contribuindo para que o filme se arraste em momentos que deveriam ser intensos e emocionantes.

O maior problema de Blitz está em seu roteiro, que é fraco e episódico. Ao se passar em apenas 48 horas, a narrativa poderia ter sido coesa e focada, mas acaba se tornando fragmentada. O filme transita entre subtramas que não são desenvolvidas adequadamente, o que reduz o impacto dramático. Embora McQueen seja um mestre em criar tensão e explorar a humanidade em situações extremas, aqui ele perde a mão, apresentando uma história que se dissolve em clichês e momentos desconectados.

A tentativa de capturar o espírito de comunidade e solidariedade durante um período tão sombrio é admirável, mas a entrega carece de autenticidade. Em vez de emocionar, o filme frequentemente recorre a discursos genéricos que pouco contribuem para a narrativa.

Se por um lado o roteiro decepciona, o filme ganha mérito ao retratar de forma crua a época da Blitz. As condições precárias dos abrigos subterrâneos, a tensão constante dos ataques aéreos e a tentativa das pessoas de manter a dignidade em meio ao caos são aspectos que McQueen representa com honestidade. Essas cenas são as mais eficazes para transportar o público àquela Londres devastada.

Blitz tinha todos os elementos para ser um retrato poderoso de um dos momentos mais sombrios da história moderna, mas escorrega em escolhas narrativas que diluem seu impacto. Apesar de momentos de grande valor técnico, como a mixagem de som e algumas sequências visualmente impressionantes, o filme é prejudicado por atuações inexpressivas e um roteiro fragmentado. McQueen, conhecido por seu olhar afiado e abordagens ousadas, aqui parece contido, entregando um filme que, embora tecnicamente competente, falha em provocar a emoção e reflexão que se esperaria de um diretor de sua estatura.

No final, Blitz se torna um esforço admirável, mas ineficaz, que deixa o público com a sensação de que algo muito maior e mais significativo poderia ter sido alcançado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário