Páginas

dezembro 08, 2024

Aqui (2024)

 


Título original: Here
Direção: Robert Zemeckis
Sinopse: Ambientado em um único lugar, Aqui acompanha diversas famílias ao longo de gerações, todas conectadas por este espaço que um dia chamaram de lar. Estrelado por Tom Hanks e Robin Wright, é uma emocionante jornada de amor, perdas, risos e memórias, que nos transporta desde o passado mais distante até um futuro próximo. Uma viagem pela linha do tempo da humanidade, contada de forma emocionante e surpreendente, onde tudo acontece em um único lugar: Aqui.


Robert Zemeckis sempre foi um cineasta de extremos: sua habilidade de unir tecnologia de ponta com narrativas emotivas o tornou responsável por alguns dos maiores sucessos do cinema contemporâneo. Obras como De Volta Para o Futuro e Forrest Gump não apenas moldaram a cultura popular, mas também mostraram como o diretor sabe manipular o sentimentalismo com maestria. Em Aqui (Here, 2024), Zemeckis embarca em uma jornada igualmente ambiciosa, adaptando a aclamada graphic novel de Richard McGuire para as telas, uma tarefa que, por si só, parecia impossível. No entanto, o resultado final é uma experiência cinematográfica única e arrebatadora, apesar de suas imperfeições.

O filme é ambientado em um único espaço: uma sala que testemunha momentos da existência humana desde a era dos dinossauros até um futuro distante. É uma premissa que soa teatral e, de fato, Aqui em muitos momentos parece mais uma peça filmada do que uma produção tradicional. Essa abordagem, no entanto, é onde reside grande parte de sua força. A sala se torna um palco onde diferentes eras coexistem, fragmentando o tempo e transformando o espectador em um montador de quebra-cabeças emocionais e históricos.

A transposição dos quadrinhos para o cinema foi brilhantemente realizada por meio de uma edição que literalmente faz jus à ideia de "quadrinhos". As transições temporais são fenomenais, exibindo eventos que ocorrem simultaneamente em épocas distintas. Esse efeito não apenas preserva a essência da obra original, mas também exige um envolvimento ativo do público, convidando-o a criar uma linha do tempo mental enquanto a história se desenrola diante de seus olhos.

Zemeckis mais uma vez mostra seu domínio técnico ao utilizar uma tecnologia de inteligência artificial para rejuvenescer atores como Tom Hanks e Robin Wright. A presença dos dois juntos novamente é nada menos que emocionante, evocando lembranças de Forrest Gump enquanto trazem peso emocional às suas performances. A tecnologia, desta vez, é utilizada com sutileza, sem causar o desconforto que tantas vezes acompanha essas experimentações digitais. Tom Hanks, rejuvenescido, é incrivelmente convincente, enquanto Robin Wright oferece uma performance que equilibra emoção e contenção.

O elenco de apoio também merece destaque. Paul Bettany se sobressai com sua interpretação profundamente humana, trazendo nuances para um personagem que atravessa diferentes momentos históricos. Kelly Reilly e Michelle Dockery, embora em papéis mais limitados, complementam o elenco com atuações sólidas e marcantes.

A parceria de Zemeckis com Alan Silvestri é, sem dúvida, uma das melhores decisões do filme. A trilha sonora original é cativante, pontuando os momentos mais dramáticos e sensíveis com perfeição. Além disso, a escolha de músicas clássicas como canções dos Beatles e Everly Brothers para marcar as épocas adiciona uma camada extra de autenticidade e nostalgia. A música se torna um elemento fundamental na construção da atmosfera de cada período, conectando o espectador emocionalmente com as diversas narrativas.

Em Aqui, o tempo é tanto o protagonista quanto o antagonista. O filme aborda de maneira poética e, muitas vezes, devastadora, os ciclos da vida: aniversários, casamentos, funerais, pandemias e os momentos mais mundanos que compõem nossa existência. É impossível não se emocionar ao ver o passar do tempo afetar os personagens, especialmente em cenas que retratam doenças como Alzheimer e a inevitabilidade do envelhecimento.

Embora o sentimentalismo exacerbado possa afastar alguns críticos, para mim, foi exatamente essa entrega emocional que tornou o filme tão impactante. Ele captura a essência do que significa ser humano em toda sua fragilidade e resiliência. Mesmo os momentos mais clichês conseguem encontrar ressonância devido à habilidade de Zemeckis em equilibrar técnica e emoção.

Como esperado, muitos críticos foram duros com o filme, apontando sua estrutura fragmentada e a dificuldade de conexão emocional com algumas narrativas. Essa fragmentação, de fato, impede que certos personagens ou histórias tenham tempo suficiente para se desenvolver completamente. Entretanto, essa mesma característica é o que confere ao filme sua identidade única. Ele não tenta ser uma narrativa tradicional, mas sim uma meditação sobre o tempo e a memória.

Para aqueles que preferem uma experiência cinematográfica mais linear, Aqui pode parecer desconexo ou até frio em alguns momentos. Porém, para quem está disposto a embarcar em sua proposta experimental, o filme oferece uma recompensa rica e profunda. É uma obra que exige atenção, paciência e, acima de tudo, disposição para sentir.

Aqui não é um filme para todos, mas para aqueles que se permitem ser tocados por sua ousadia e emotividade, ele é uma experiência inesquecível. Zemeckis prova mais uma vez ser um mestre na direção de atores e na utilização da tecnologia para servir à narrativa. Apesar de suas falhas, o filme é um lembrete poderoso da efemeridade da vida e da importância de valorizar cada momento. Recomendo assistir no cinema, onde sua grandiosidade visual e emocional pode ser plenamente apreciada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário