Por trás de sua premissa aparentemente intrigante, Alice: Subservience tenta explorar questões éticas e emocionais envolvendo tecnologia e humanidade, mas se perde em clichês, decisões narrativas desconexas e uma abordagem que, no fim das contas, subestima o público.
No centro da narrativa está um pai (Michele Morrone) que, sobrecarregado com a gestão familiar, adquire um robô doméstico (Megan Fox) para auxiliar em suas tarefas. Com a introdução de Alice, a androide programada para obedecer, o filme sugere questões sobre subserviência, dependência emocional e os perigos de tecnologias avançadas que ganham consciência. No entanto, essas possibilidades logo se desmoronam sob um roteiro que privilegia cenas de apelo sensacionalista em detrimento de profundidade ou inovação.
A direção de S.K. Dale, que já havia demonstrado ineficácia em criar tensão em Till Death (2021), volta a pecar com uma condução apática e desconexa. O roteiro, assinado por Will Honley e April Maguire, se mostra desarticulado e inconsistente. Exemplo disso é a introdução de subtramas promissoras, como a crítica ao impacto socioeconômico da automação, que são abruptamente abandonadas para focar em cenas que oscilam entre o melodrama exagerado e o terror superficial.
O tom do filme, que inicialmente flerta com o thriller psicológico à la A Mão que Balança o Berço (1992), rapidamente se dissolve em uma mistura desajeitada de erotismo deslocado e ação desnecessária. Há uma tentativa de combinar temas futuristas com elementos de suspense doméstico, mas a falta de coesão prejudica qualquer impacto narrativo.
Megan Fox, conhecida por trabalhos em Transformers (2007) e Garota Infernal (2009), até poderia ter encontrado um papel interessante como a androide Alice. Infelizmente, sua atuação carece de nuances e intensidade, resultado não apenas de suas limitações como intérprete, mas também de diálogos fracos e uma direção que falha em explorar seu potencial.
Michele Morrone, de 365 Dias (2020), tenta adicionar credibilidade emocional ao seu personagem, mas é prejudicado por uma trama que trivializa os conflitos internos de seu papel. Madeline Zima, como a mãe hospitalizada, e a jovem Matilda Firth também sofrem com a superficialidade de seus arcos.
Se há algum mérito técnico, ele reside na cinematografia de Daniel Lindholm, que utiliza luzes frias e ambientes minimalistas para reforçar a atmosfera tecnológica. No entanto, a estética visual não é suficiente para compensar os problemas estruturais. A trilha sonora de Jed Palmer tenta criar tensão, mas se torna repetitiva e previsível.
O filme se sabota constantemente ao priorizar cenas de impacto gratuito, como sequências eróticas mal justificadas, em vez de desenvolver seus temas. A transformação de Alice, que deveria ser o clímax da narrativa, é tratada de forma abrupta, fazendo a transição de "ajudante ideal" para "ameaça mortal" parecer apressada e inverossímil.
Outro ponto problemático é a tentativa de abordar um conflito ético maior, como a substituição de trabalhadores por máquinas, apenas para abandonar o tema sem resolução. Essa falta de comprometimento com as ideias propostas resulta em uma experiência frustrante para o espectador.
No final, Alice: Subservience é um exemplo de potencial desperdiçado. Apesar de uma premissa interessante e uma produção tecnicamente competente, a execução repleta de clichês, falhas narrativas e um foco deslocado tornam o filme uma experiência exasperante. Ele falha em ser um comentário relevante sobre tecnologia ou um thriller convincente, entregando apenas uma miscelânea de conceitos mal realizados. Zero total.
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