Páginas

novembro 28, 2024

Saturday Night: A Noite Que Mudou a Comédia (2024)

 


Título original: Saturday Night
Direção: Jason Reitman
Sinopse: Às 23h30 de 11 de outubro de 1975, um grupo feroz de jovens comediantes e roteiristas mudou a televisão para sempre. Esta é a história do que aconteceu nos bastidores nos 90 minutos que antecederam a primeira transmissão de Saturday Night Live.


Jason Reitman, conhecido por dirigir obras como Amor Sem Escalas e Juno, tenta com Saturday Night: A Noite Que Mudou a Comédia capturar a energia criativa e a tensão por trás da estreia do lendário programa Saturday Night Live (SNL). Contudo, o filme, que poderia ser uma celebração universal da comédia e do impacto cultural do SNL, é uma obra que não transcende seu contexto americano. Em vez disso, parece uma cápsula autocentrada, destinada apenas à audiência que já nutre apreço pelo programa. Para o público estrangeiro, ou até mesmo para aqueles que não enxergam no SNL um marco histórico, o longa é uma experiência exaustiva e, francamente, irrelevante.

Desde suas primeiras cenas, fica claro que o filme é moldado para um público específico: fãs do SNL e entusiastas da história da comédia americana. Ele se estrutura em torno da preparação frenética para a estreia do programa em 1975, centrando-se na figura de Lorne Michaels, interpretado por Gabriel LaBelle, e em sua equipe criativa. Embora a premissa pareça promissora, especialmente para abordar a história de um dos programas mais longevos da televisão americana, a execução deixa muito a desejar.

Para começar, Saturday Night exige que o espectador já conheça e valorize figuras como John Belushi, Chevy Chase e Gilda Radner. No entanto, mesmo esses personagens são tratados de forma superficial. Belushi, por exemplo, é retratado de maneira melancólica, mas sem profundidade que explore as nuances de sua complexa personalidade. Gilda Radner (Ella Hunt), uma das maiores comediantes de sua geração, é relegada a um papel secundário, quase uma coadjuvante em um filme onde deveria brilhar. Para quem não está familiarizado com essas figuras, o filme soa como uma coleção de referências obscuras e desconexas.

O SNL, frequentemente exaltado como revolucionário na comédia americana, é um programa que divide opiniões, mesmo em seu país de origem. Para muitos, suas piadas são datadas, repetitivas e carregadas de humor regional que raramente ressoa fora dos Estados Unidos. Reitman tenta capturar o impacto cultural do programa, mas sua abordagem não consegue comunicar essa relevância para um público global.

As piadas e diálogos verborrágicos do filme frequentemente caem em um território de constrangimento, com momentos que parecem mais preocupados em reforçar a grandiosidade do SNL do que em realmente serem engraçados. A insistência em mostrar o programa como um marco universal acaba soando arrogante, especialmente para audiências que nunca se conectaram com o humor ou o formato do SNL.

A estrutura narrativa de Saturday Night é outro ponto fraco. O filme introduz dezenas de personagens, muitos dos quais desempenham papéis insignificantes na trama principal. Essa superpopulação narrativa dificulta o engajamento do espectador, que se perde em meio a diálogos rápidos e cenas que parecem desconectadas.

Em teoria, a intenção era replicar o caos criativo que permeava os bastidores do SNL. Na prática, o resultado é uma narrativa caótica, que não sabe onde focar e desperdiça grande parte de seu elenco. O próprio Gabriel LaBelle, em uma tentativa de capturar a energia obsessiva de Lorne Michaels, acaba se perdendo em um desempenho caricatural que beira o irritante.

Reitman opta por longas cenas ininterruptas e diálogos frenéticos, que deveriam transmitir a intensidade do processo criativo nos bastidores do SNL. No entanto, essa escolha estética rapidamente se torna cansativa. As cenas são visualmente monótonas e verbalmente exaustivas, exigindo uma atenção que o roteiro não recompensa.

Além disso, o filme recorre repetidamente a deus ex machina para resolver conflitos. Momentos que deveriam ser o clímax emocional ou narrativo são resolvidos de forma abrupta, deixando o espectador frustrado. Essa falta de desenvolvimento enfraquece ainda mais uma narrativa que já era inconsistente.

Um dos aspectos mais comentados sobre Saturday Night é sua evidente intenção de agradar à Academia. O filme já aparece em listas de previsões ao Oscar de Roteiro Original, mas é difícil entender o porquê. O roteiro, longe de ser inovador, se apoia em um humor forçado e em diálogos que raramente soam naturais. Tentar empurrar piadas a cada minuto não faz de um roteiro “original”; faz dele, no máximo, desesperado. A crítica americana talvez veja o filme como uma homenagem nostálgica, mas para audiências mais exigentes, ele falha em entregar qualquer substância.

Assistir a Saturday Night: A Noite Que Mudou a Comédia é como folhear um álbum de memórias de uma família que você não conhece, enquanto te forçam a rir de piadas internas que não fazem sentido. É um filme que não consegue justificar sua existência fora dos Estados Unidos e que, mesmo dentro de seu contexto cultural, parece mais preocupado em exaltar o SNL do que em contar uma boa história.

Jason Reitman, que já demonstrou ser um cineasta competente, parece aqui estar preso em um projeto autocentrado, que fala mais sobre seu amor pessoal pelo SNL do que sobre qualquer relevância real do programa. Para quem não é fã do programa, o filme é insuportável. Para quem é, talvez seja uma experiência mais agradável, mas isso não o torna um bom filme.

Saturday Night tenta se apresentar como uma comédia universal, mas acaba sendo apenas uma nota de rodapé na história do cinema — um exemplo de como nem todo marco cultural merece ser celebrado na telona.

Nenhum comentário:

Postar um comentário