Não Se Mexa (Don't Move), filme de suspense da Netflix dirigido por Adam Schindler e Brian Netto, propõe um cenário perturbador: uma protagonista paralisada e à mercê de um serial killer nas profundezas de uma floresta isolada. A trama, que tem como ponto central Iris (Kelsey Asbille), capturada e imobilizada por Richard (Finn Wittrock), poderia ter sido explorada com nuances psicológicas e dilemas de sobrevivência. No entanto, o filme cai em armadilhas previsíveis e limitações técnicas que prejudicam o desenvolvimento e afastam a obra da potencial inovação.
O enredo começa com uma promessa. Iris, em meio ao luto pela perda do filho, encontra Richard em um penhasco, onde o serial killer a aborda com um discurso falso sobre suicídio e sofrimento emocional, uma “isca” para capturá-la. Assim que consegue convencê-la a descer com ele, Richard a captura e a submete a uma injeção de um composto que induz paralisia temporária. Aqui, o que poderia ter sido um estudo psicológico de um predador e sua presa se resume a uma perseguição desajeitada, com momentos previsíveis de “quase fuga”, um efeito repetitivo que impede a criação de tensão real.
Schindler e Netto, que já dirigiram produções menores de terror, pecam ao explorar a premissa sem adicionar camadas ou mesmo originalidade ao vilão e à narrativa. Com a direção repartida entre duas pessoas, esperava-se talvez uma soma de perspectivas que trouxesse inovação ou, ao menos, uma abordagem esteticamente interessante, o que não se concretiza. Schindler e Netto mantêm um ritmo lento, sem variar ou elevar a intensidade dos momentos-chave, resultando em cenas repetitivas e muitas vezes aborrecidas.
O roteiro de Não Se Mexa, escrito por T.J. Cimfel e David White, é repleto de clichês. Richard é retratado como o típico serial killer sem motivações, caracterizado por falas e ações previsíveis e sem um arco que gere complexidade. Seu comportamento estereotipado torna difícil para o espectador vê-lo como uma ameaça convincente. O roteiro também falha em explorar o potencial dramático e psicológico de uma protagonista que lida com uma condição tão extrema quanto a paralisia, perdendo a oportunidade de evocar a claustrofobia e a vulnerabilidade de alguém indefeso diante de uma ameaça mortal.
Finn Wittrock, conhecido principalmente por papéis em produções de Ryan Murphy como American Horror Story, mantém aqui sua expressão típica e uma entrega superficial. Sua interpretação em Não Se Mexa reflete o que já se tornou um problema comum com os "discípulos" de Murphy, como Nicholas Alexander Chavez (o Lyle Menendez de Monstros) e Evan Peters (com sua dezena de personagens também de American Horror Story e o Dahmer de Monstro), ambos igualmente explorados mais pela aparência e carisma do que pela profundidade dramática em produções similares. Wittrock, como Chavez e Peters, parece ter sido escolhido mais por seu visual do que por um potencial de atuação cativante, resultando em uma performance que acrescenta pouco ao personagem.
Como Richard, Wittrock luta para transmitir a intensidade necessária para um vilão ameaçador. Suas falas e atitudes são quase caricaturais, carecendo de uma autenticidade ou de uma complexidade que pudesse transformar Richard em um antagonista verdadeiramente aterrorizante. Em vez disso, ele se encaixa no estereótipo de “vilão de produção genérica” – alguém cujo passado ou motivações nunca são explorados e cujas ações parecem servir mais ao enredo do que a uma psicologia plausível.
Visualmente, Não Se Mexa é um filme que oferece muito pouco. A cinematografia é correta, mas sem qualquer traço de inventividade que poderia transformar a floresta em um cenário claustrofóbico ou misterioso. Os efeitos visuais são igualmente desleixados, com momentos que comprometem a credibilidade, especialmente em cenas em que a paralisia de Iris deveria ser demonstrada com maior impacto. A trilha sonora, por sua vez, é excessivamente usada para tentar forçar uma tensão que o roteiro e a atuação não conseguem sustentar, resultando em uma sobrecarga sonora que mais incomoda do que aumenta o suspense.
Além disso, a montagem falha em construir um ritmo adequado. Em vez de criar uma tensão crescente, os cortes são previsíveis e não permitem uma conexão emocional com os personagens ou com a situação extrema de Iris. Há também uma inconsistência visual em algumas cenas, que parecem desconexas e comprometem o ritmo do filme.
A premissa de uma personagem paralisada à mercê de um assassino tinha um potencial psicológico e físico imenso para o horror e o suspense. No entanto, a maneira como Não Se Mexa aborda o conceito falha em manter o espectador engajado. A própria ideia de paralisia – algo que poderia induzir uma sensação de terror profundo no espectador – é tratada de forma tão inconsistente que parece mais um detalhe secundário do que o elemento central do horror.
Há uma cena, por exemplo, em que uma fila de formigas começa a caminhar sobre o corpo imóvel de Iris, algo que, em mãos mais criativas, poderia simbolizar o desespero de estar preso em um corpo inerte. Em vez de expandir esse tipo de exploração psicológica, o filme cai na sequência rotineira de perseguição e fuga. Para piorar, o vilão não demonstra qualquer método realista ou estratégia inteligente, o que torna sua ameaça mais aborrecida que aterrorizante.
Ao final, Não Se Mexa não passa de mais uma tentativa frustrada de thriller psicológico que, na prática, se torna apenas um passatempo fácil e esquecível. Com uma premissa interessante desperdiçada por uma execução fraca e previsível, o filme falha em sustentar uma atmosfera de tensão. Não há impacto emocional ou psicológico – apenas uma sucessão de cenas previsíveis e uma atuação que em nenhum momento acrescenta algo memorável ao personagem de Wittrock.
Não Se Mexa é mais um exemplo das produções descartáveis da Netflix que tentam aproveitar o gênero de terror sem oferecer uma abordagem nova ou cativante.
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