Poucos filmes chegam aos cinemas carregados de expectativas tão monumentais quanto Megalópolis, a obra que Francis Ford Coppola sonhou por décadas e finalmente realizou. Concebido como um épico sobre a construção de uma utopia moderna e financiado pelo próprio diretor, Megalópolis aspirava ser a grande obra-prima de sua carreira tardia. No entanto, o resultado é um desastre completo, que não apenas falha em atingir suas ambições, mas se torna um marco de tudo o que pode dar errado em uma produção cinematográfica.
A trama de Megalópolis é, ao mesmo tempo, simples e impossível de acompanhar. Em um futuro próximo, Nova York foi devastada por um desastre não especificado, e Cesar Catilina (Adam Driver), um visionário arquiteto, propõe reconstruir a cidade como "Nova Roma", uma utopia que mistura ideais clássicos com tecnologia futurista. O conflito surge quando Cesar enfrenta resistência do prefeito local, interpretado por Giancarlo Esposito. A história tenta explorar questões de poder, idealismo e sacrifício, mas a narrativa é tão desarticulada que se perde completamente. A introdução de um romance insosso entre Cesar e Julia (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, só agrava a confusão. Parece que Coppola queria incorporar elementos de tragédias shakesperianas e dramas políticos, mas sem a habilidade de conectar essas ideias em algo coerente.
Se há algo que Megalópolis faz bem inicialmente, é a fotografia. Filmado por Mihai Malaimare Jr., colaborador frequente de Coppola, o filme apresenta uma paleta dourada que evoca riqueza e opulência. No entanto, esse estilo visual rapidamente se torna repetitivo e cansativo. O dourado, que deveria simbolizar grandiosidade, transforma-se em um truque visual desgastado, incapaz de sustentar o interesse por mais de duas horas. Apesar de algumas composições de cena belíssimas, a falta de variação tonal dá ao filme uma uniformidade que só reforça sua natureza enfadonha.
Poucos filmes conseguem desperdiçar tanto talento quanto Megalópolis. Adam Driver, que já demonstrou ser um ator versátil, entrega aqui uma performance forçada e teatral, mas sem o carisma necessário para carregar o filme. Giancarlo Esposito parece preso em um papel unidimensional, enquanto Aubrey Plaza, normalmente uma presença magnética, é reduzida a uma figura caricata que não consegue contribuir para a narrativa. Nathalie Emmanuel e Shia LaBeouf completam o elenco principal, mas ambos são prejudicados por personagens sem profundidade e diálogos insuportavelmente artificiais. É como se cada ator estivesse em um filme diferente, e ninguém soubesse qual é o tom pretendido.
A trilha sonora, composta para ser épica e emocional, é uma mistura desastrosa de clichês românticos e melodramas ultrapassados. Ao invés de intensificar a narrativa, ela se torna uma distração constante, sublinhando momentos que deveriam ser sutis com uma ênfase desnecessária. Os efeitos visuais também são uma montanha-russa de qualidade. Algumas cenas mostram um uso impressionante de CGI para criar paisagens futuristas, enquanto outras parecem saídas de um filme B dos anos 2000. O uso inconsistente da tecnologia torna impossível imergir no mundo que Coppola tenta construir.
Com 140 minutos de duração, Megalópolis é agonizantemente arrastado. Cenas que deveriam avançar a trama são prolongadas sem propósito, enquanto momentos cruciais são tratados de forma apressada e confusa. A edição parece incapaz de decidir quais aspectos da história são importantes, resultando em uma narrativa que nunca encontra seu equilíbrio. Além disso, subtramas que poderiam adicionar camadas à história são introduzidas apenas para serem abandonadas, deixando o espectador desorientado e desinteressado.
Para quem já não era fã de Francis Ford Coppola, Megalópolis representa o ápice de tudo o que há de problemático em seu estilo. O diretor, cujos filmes como O Poderoso Chefão, Apocalypse Now e Jack eu simplesmente abomino, parece aqui completamente desconectado da realidade do cinema contemporâneo. Sua visão é grandiosa, mas sem propósito, e o filme acaba sendo um testemunho de sua incapacidade de adaptar seu estilo às demandas narrativas e técnicas atuais.
Em resumo, Megalópolis é um fracasso de proporções épicas. É um filme que tenta ser tudo, mas não consegue ser nada. Uma experiência torturante que deixa o espectador aliviado quando os créditos finais aparecem. Para Coppola, que investiu milhões de seu próprio dinheiro nesse projeto, o resultado é nada menos que um desastre monumental. Um lixo cinematográfico que será lembrado, infelizmente, como um dos piores filmes da década.
Nenhum comentário:
Postar um comentário