Páginas

novembro 07, 2024

Feios (2024)

 


Título original: Uglies
Direção: McG
Sinopse: Em um futuro distópico que impõe rígidos padrões de beleza, uma adolescente aguardando sua cirurgia plástica obrigatória sai em busca da amiga desaparecida.


No filme Feios (Uglies, 2024), dirigido por McG e baseado na obra de Scott Westerfeld, vemos mais um exemplo do que parece ser a marca registrada dos lançamentos de ficção científica da Netflix: uma premissa intrigante com potencial, mas que se dissolve em efeitos visuais de baixa qualidade e uma abordagem rasa de temas complexos. A história, ambientada em um futuro distópico, propõe uma sociedade onde todos passam por uma cirurgia estética aos 16 anos para se tornarem "Pretties" — pessoas visualmente ideais, vivendo uma vida utopicamente livre de conflitos. No entanto, a execução do filme acaba frustrando expectativas, com CGI tão rudimentar que, por vezes, parece que estamos assistindo a uma animação mal-feita.

O filme é estrelado por Joey King como Tally Youngblood, uma jovem ansiosa pela transformação que a tornará uma "Pretty". No entanto, sua jornada toma outro rumo quando descobre segredos obscuros sobre o procedimento. King é também produtora executiva, mas mesmo seu envolvimento não conseguiu elevar o filme acima de suas limitações. Em um filme sobre beleza e padronização, era de se esperar que as "Pretties" fossem visualmente impactantes, mas o casting deixa a desejar — os personagens “bonitos” se destacam pela falta de apelo estético, talvez devido a um orçamento insuficiente para contratar um elenco que realmente refletisse o ideal de beleza que o roteiro critica.

McG, conhecido por uma direção estilizada e dinâmica, como em As Panteras Detonando, tenta aplicar uma energia similar aqui, com cenas de ação e elementos de ficção científica, como hoverboards e tecnologia futurista. Contudo, em Feios, esses momentos caem no exagero e, junto com os efeitos visuais fracos, parecem deslocados, quase risíveis, especialmente em comparação com filmes lançados recentemente. A proximidade com A Substância, outra obra de 2024 que explora a pressão pela perfeição estética, torna a comparação inevitável, destacando ainda mais as falhas de Feios em lidar com esse tema. Enquanto A Substância mergulha em uma análise mais profunda e complexa, Feios passa uma impressão de superficialidade, com diálogos pouco inspirados e uma narrativa previsível, focando-se em reviravoltas que soam forçadas e inconsistentes com o desenvolvimento dos personagens.

Esse é um típico filme voltado para adolescentes, focado em uma trama ágil e efeitos chamativos, mas com profundidade zero. O roteiro não explora adequadamente as questões éticas e filosóficas que uma sociedade obcecada pela perfeição estética poderia levantar. O tema, que poderia ser uma crítica contundente à cultura da aparência e à pressão para se conformar a padrões de beleza, acaba se perdendo em clichês e soluções fáceis. Assim, a complexidade do mundo distópico proposto por Westerfeld fica diluída em uma adaptação que parece mais preocupada em preencher os requisitos de uma ficção adolescente comum do que em entregar uma mensagem impactante.

É difícil prever para onde a Netflix levará essas produções de qualidade duvidosa, mas Feios é um exemplo de como uma adaptação literária pode falhar ao não capturar a profundidade e o impacto da obra original. Entre atuações que não se destacam, visuais que deixam a desejar e uma trama que não se sustenta, o filme acaba se tornando uma experiência frustrante, reafirmando a necessidade de um cuidado maior ao transpor temas complexos para o cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário