Eu Sou Racista? (Am I Racist?, 2024), dirigido por Justin Folk e estrelado por Matt Walsh, é uma tentativa infeliz de mocumentário que explora o movimento de diversidade, equidade e inclusão (DEI) nos Estados Unidos. Ao longo dos seus 101 minutos, o filme é uma montanha-russa de constrangimentos e falhas monumentais, de modo que, ao final, parece mais um dos piores filmes da década. Longe de ser provocativo ou satírico, ele se perde em piadas sem graça, atuações forçadas e uma abordagem que insulta a inteligência do público ao invés de engajá-lo em uma reflexão genuína. Desde o primeiro ato, até o momento em que os créditos surgem como uma verdadeira libertação, o filme é uma obra que melhor seria esquecida.
A proposta inicial é seguir Walsh, que se infiltra em workshops e espaços DEI para, teoricamente, desmascarar o que ele considera uma cultura de “vitimização”. A ideia em si, apesar de controversa, poderia ter gerado um conteúdo inteligente e irônico. No entanto, o roteiro se resume a ataques superficiais e caricaturas rasteiras, que passam longe de qualquer coisa minimamente engraçada ou instigante. O enredo falha em construir uma narrativa coesa, soando como uma coleção de cenas desconectadas. Enquanto Walsh assume o papel de um “treinador de DEI” que tropeça em suas próprias palavras, a câmera documenta sua falta de jeito e suas tentativas desajeitadas de “desconstruir” o que ele considera os excessos do “woke”.
Ao contrário do que se espera de um mocumentário, o tom do filme é insuportavelmente literal. Em vez de criar uma atmosfera em que o público pudesse questionar as situações mostradas, o filme entrega suas “piadas” sem qualquer sutileza. Piadas de humor ácido podem ser eficazes em sátiras, mas aqui tudo é superficial e forçado. Não há construção de situações cômicas autênticas, apenas um desdobramento constrangedor de clichês e estereótipos.
O roteiro, escrito e estrelado por Matt Walsh, é uma das piores coisas que se poderia imaginar em um projeto cinematográfico. As falas de Walsh são simplistas, e as “punchlines” são praticamente inexistentes. É como assistir a um monólogo de piadas ruins, e as tentativas de Walsh de representar um personagem atrapalhado e perdido no mundo DEI não só são patéticas, como beiram o ofensivo em várias passagens. Sua performance é rígida e desprovida de qualquer carisma, transformando o protagonista em uma figura quase insuportável de se acompanhar.
A atuação de Walsh, além de tecnicamente fraca, revela uma falta de entendimento do que faz uma sátira ser eficaz. Seu personagem, ao invés de ser um espelho cômico e exagerado de um ponto de vista crítico, é apenas uma figura desastrada que tenta forçar o riso com caretas e falas construídas de forma absolutamente antinatural. Em comparação com outros mocumentários de qualidade, que utilizam sutileza e inteligência para criar humor e reflexão, Eu Sou Racista? parece uma paródia de si mesmo.
Justin Folk, na direção, faz escolhas que não auxiliam a narrativa. A cinematografia é genérica e carece de inventividade visual, algo essencial para mocumentários, que muitas vezes aproveitam ângulos e edições para brincar com a ideia de documentário. Em vez disso, Folk parece seguir uma fórmula básica, que não oferece nada de novo ao gênero. Há pouca ou nenhuma intenção artística nas escolhas de câmera e edição, e a montagem é feita de maneira apática, sem ritmo ou timing cômico.
A estética do filme é tão sem vida quanto sua narrativa, e a falta de criatividade nas transições e nos enquadramentos faz com que ele se arraste como uma série de entrevistas mal conduzidas. Folk parece não ter noção de como manter a atenção do público ou como explorar o potencial do gênero. Em vez disso, entrega um produto audiovisual tedioso, que não prende o olhar ou a mente.
O filme apresenta um desfile de personagens “woke”, representados de maneira tão distorcida que se tornam irreconhecíveis como seres humanos. Esses personagens, de professores universitários a escritores de livros sobre diversidade, são retratados como caricaturas sem profundidade, o que evidencia a falta de complexidade do roteiro. Seria até risível, se não fosse trágico, ver autores de livros sobre inclusão serem transformados em alvos fáceis para as piadas rasas e sem inspiração de Walsh e Folk.
Esses personagens de esquerda são desenhados para representar um “outro” demonizado, e suas ideias são reduzidas a clichês e frases prontas. No entanto, ao invés de causar humor ou reflexão, esses retratos unidimensionais só servem para alienar o público. Em muitos momentos, o filme perde a oportunidade de criar uma verdadeira sátira sobre os excessos de ambos os lados da política, preferindo apostar em uma abordagem reducionista que beira o insulto. É uma escolha que não só empobrece a narrativa, como faz o filme parecer uma propaganda ideológica mal disfarçada.
É necessário falar sobre o que talvez seja a característica mais insuportável do filme: seu humor. As “piadas” de Eu Sou Racista? são repetitivas, mal formuladas e, acima de tudo, sem graça. É um humor tão forçado que se torna exaustivo, como se cada cena tentasse provar algo sem nunca conseguir. Quando um filme depende tanto de uma única linha ideológica e, mesmo assim, falha em ser engraçado, o resultado é um verdadeiro desastre cômico.
As tentativas de criar humor ao ridicularizar conceitos DEI e o movimento woke são tão forçadas que é difícil imaginar alguém rindo espontaneamente durante a exibição. Não há uma construção gradual de piadas, nem um desenvolvimento que faça o público se envolver. Em vez disso, cada tentativa de humor parece uma martelada que esmaga qualquer possibilidade de simpatia. Mesmo em mocumentários que têm como objetivo ridicularizar, é necessário haver uma espécie de camaradagem ou identificação com o protagonista. Aqui, no entanto, Walsh faz com que o público torça pelo fim rápido dessa experiência.
O que poderia ser um mocumentário intrigante e provocador sobre o movimento DEI e as dinâmicas atuais da cultura americana se transforma em uma obra ofensivamente ruim. Eu Sou Racista? falha em todos os aspectos, desde a execução do conceito até a construção dos personagens e o desenvolvimento do enredo. Este é o tipo de filme que não só fracassa em seu objetivo, mas que também deixa uma marca negativa no gênero. Ao assistir, fica claro que, longe de propor uma reflexão sobre o momento atual, o filme existe apenas como uma tentativa de validação para um público específico, sem qualquer contribuição significativa para o debate cultural.
Em resumo, Eu Sou Racista? é uma experiência dolorosa de assistir, um dos piores filmes que tive a infelicidade de ver na vida.
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