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novembro 25, 2024

Estranho Caminho (2024)

 


Título original: Estranho Caminho
Direção: Guto Parente
Sinopse: Um jovem cineasta que visita sua cidade natal é surpreendido pelo rápido avanço de uma pandemia e precisa encontrar seu pai, com quem não fala há mais de dez anos. Depois do primeiro encontro, coisas estranhas começam a acontecer.


Guto Parente, conhecido por explorar narrativas singulares no cinema independente brasileiro, apresenta Estranho Caminho, uma obra que, ao menos em teoria, busca o diálogo entre o real e o onírico. No entanto, o filme parece mais um exercício de paciência que um convite ao mergulho cinematográfico. O longa, com seus 80 minutos, assume uma ambição artística que se dissolve em uma execução arrastada, sem nuances e repleta de escolhas narrativas questionáveis.

A trama gira em torno de David (Lucas Limeira), um cineasta frustrado que retorna à sua cidade natal no Brasil após um evento cultural cancelado. Na tentativa de reconectar-se com suas raízes, ele confronta figuras do passado, incluindo o pai, Geraldo (Carlos Francisco). Contudo, ao invés de desenvolver uma narrativa emocional ou instigante, Estranho Caminho se afunda em um mar de diálogos tediosos e cenas que não avançam a história. David, com sua postura apática, assemelha-se a uma criança desorientada, incapaz de tomar decisões ou enfrentar qualquer desafio com assertividade.

A relação com o pai, potencialmente o núcleo mais promissor da história, é abordada de forma superficial e repleta de clichês melodramáticos. Já a grande "reviravolta" do roteiro surge como um artifício desnecessário, um truque narrativo que falha em conferir impacto ou profundidade à trama. O resultado é uma história que se arrasta por longos minutos, incapaz de capturar ou sustentar o interesse do público.

A direção de Parente opta por uma abordagem que tenta flertar com o surrealismo e o experimentalismo, mas a execução carece de consistência. O uso de cenários degradados e simbolismos visuais, como as ruínas ao fundo em algumas cenas, deveria evocar um clima de deslocamento temporal e emocional, mas acaba se tornando uma distração estética sem substância.

A tentativa de misturar realidade e sonho, um dos pilares narrativos do filme, é conduzida de forma tão desajeitada que fica difícil discernir qualquer intenção artística genuína. O resultado é uma atmosfera que parece pretensiosa, mas não alcança nem o lirismo nem a inquietação que obras similares poderiam despertar.

Talvez o maior pecado de Estranho Caminho seja seu ritmo insuportavelmente lento. Cada cena se prolonga muito além do necessário, transformando os 80 minutos em uma experiência extenuante. A ausência de uma progressão narrativa clara ou de personagens cativantes torna o filme um desafio de resistência para o espectador.

Apesar de abordar temas como reconexão familiar e introspecção, o filme fracassa em criar qualquer conexão emocional. Ao contrário, oferece uma sucessão de situações que, embora estilisticamente ambiciosas, carecem de relevância ou impacto.

Estranho Caminho tenta, mas falha em ser um retrato poético da crise existencial e das relações familiares. O que poderia ser uma exploração intimista de identidade e pertencimento se perde em um emaranhado de decisões criativas frustrantes. É admirável que Guto Parente tenha conseguido realizar e financiar este projeto, mas o resultado final é uma obra que testa os limites da paciência e do interesse do público.

Enquanto muitos cineastas independentes utilizam restrições orçamentárias como impulso para a criatividade, Estranho Caminho evidencia o oposto: um filme que, mesmo com recursos públicos, entrega pouco em termos de valor artístico ou narrativo. Se há algo de positivo, é o fato de a obra, ao menos, não politizar a pandemia, algo que teria sido o golpe final em uma experiência já por si só desagradável.

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