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outubro 09, 2024

O Nosso Pai (2022)


Título original: O Nosso Pai
Direção: Anna Muylaert
Sinopse: Três irmãs são obrigadas a viver juntas durante um dos momentos mais intensos da pandemia, em março de 2021. Da convivência, surgem discussões, uma galinha quebrada no chão da cozinha e também uma ideia inusitada, um plano improvável e a possibilidade de salvar o mundo.


O Nosso Pai, de Anna Muylaert, surgiu como um experimento dramático que não apenas falha em entregar uma narrativa consistente, mas também se mostra um produto construído essencialmente para expressar insatisfação política. No centro da trama, acompanhamos três irmãs confinadas durante o lockdown pandêmico, em uma convivência permeada por discussões desconexas, bebidas e um insólito plano contra o presidente Jair Bolsonaro. O que poderia ter sido um interessante estudo sobre a exaustão do isolamento e as tensões familiares, transforma-se em um panfleto político que chega a beirar o censurável ao insinuar um plano fictício de assassinato do presidente. Esse conceito, ao invés de contribuir para o debate social ou enriquecer o filme como arte, apenas escorrega em um moralmente questionável apelo à violência.

Assistir a este filme é, de fato, vexatório. Sua trama, claramente conduzida por uma visão unilateral, parece ter sido criada unicamente para expressar a frustração da esquerda frente aos cortes de financiamento cultural. Desde 2019, houve uma diminuição no patrocínio de produções culturais que antes recebiam grande parte de seu financiamento do governo e suas estatais. Parece evidente que, sem esses fundos, cineastas como Muylaert buscaram transformar suas críticas em obras como essa, onde o valor cinematográfico cede espaço para o manifesto de protesto contra o governo vigente.

Por conta disso, O Nosso Pai deixa de ser uma obra cinematográfica coerente para se tornar uma peça politizada e rasa. A discussão sobre a pandemia, que poderia ter agregado algum conteúdo crítico, perde força com a falta de aprofundamento e uma constante tentativa de alfinetar o governo, em uma narrativa que insiste na indignação política. A obra opta por um caminho panfletário, tornando-se menos sobre as consequências e dores reais do isolamento e mais um veículo de crítica unidimensional, com pouco valor reflexivo.

O curta é um exemplo de como a expressão artística perde seu propósito quando o objetivo principal é político, especialmente em um contexto onde até o público pode se sentir desconfortável com a direção moral da narrativa. Isso faz com que O Nosso Pai soe como uma produção apressada e carente de propósito, e ainda mais questionável quando se observa a inclusão de um conteúdo que flerta com uma ideia criminosa. Filmes como este, que preferem servir ao protesto em vez da arte, estão fadados ao esquecimento, pois seu valor cultural se perde no caminho da tentativa de provar um ponto.

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