Ao assistir ao filme dinamarquês Não Fale o Mal (2022), de Christian Tafdrup, após conferir o remake de 2024, pude apreciar as notáveis diferenças entre as duas versões. Tafdrup se destaca pela construção de uma atmosfera densa e psicológica, onde o desconforto progressivo transforma uma história simples em uma experiência angustiante. No entanto, a adaptação americana diverge no tom, adicionando camadas de motivação para os vilões e criando um terceiro ato com um desfecho mais convencional e “palatável” ao público. Enquanto o remake entretém com sua narrativa direta, o original dinamarquês apresenta uma proposta mais enigmática e perturbadora que deixa o espectador em uma zona de desconforto que parece interminável.
O filme dinamarquês foca em Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal que busca escapar da monotonia ao aceitar o convite de um casal de amigos, Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders). Através de um roteiro que esconde intenções e eventos sinistros até o último momento, Tafdrup mostra como a gentileza e o desconforto social podem tornar-se ferramentas de manipulação. Enquanto o remake constrói Ben e Louise com uma dinâmica conjugal turbulenta, o filme original apresenta Bjørn e Louise de maneira sutilmente mais harmoniosa, o que intensifica a sensação de horror: eles não percebem a ameaça crescente porque, inicialmente, não veem motivo para suspeitar.
Tecnicamente, Tafdrup cria tensão com planos estáticos e composições que deixam os personagens desconfortavelmente centralizados ou fora de foco, emoldurando a disfunção relacional e psicológica que emerge entre eles. A trilha sonora é minimalista, quase inexistente, ressaltando o silêncio opressor. Em contraste, o remake introduz uma trilha mais intensa e cortes de câmera que dramatizam as interações, tornando o perigo mais palpável para o público. Além disso, a fotografia no original se apega a tons frios e imagens granuladas, o que acentua a atmosfera sombria e crua, enquanto o remake é visualmente mais limpo e dinâmico, mantendo o espectador constantemente envolvido.
O ápice do horror no filme de Tafdrup ocorre de forma brutal e sem redenção. O desfecho, que se desenrola com um naturalismo perturbador, expõe as vítimas à impotência completa, sem oferecer ao público o alívio do confronto. Esse final desconcertante é um dos pontos que tornam a versão dinamarquesa mais difícil de assistir, mas também muito mais provocativa em termos de impacto psicológico. No remake, as cenas finais seguem uma direção mais familiar ao gênero de horror, com sequências de confronto que aliviam a tensão de maneira esperada, apelando a um público mais amplo.
Assisti ao remake primeiro, e a experiência de retornar ao original revelou a essência mais sutil e psicológica da obra de Tafdrup. A adaptação americana, embora eficiente em seu propósito de entreter, torna-se menos desafiadora. Assim, enquanto o remake chama atenção com cenas impactantes e suspense mais direto, o filme dinamarquês permanece como uma experiência incomodamente esquecível — o tipo de horror que se deixa de lado antes mesmo do fim dos créditos.
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