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outubro 21, 2024

Maníaco do Parque (2024)

 


Título original: Maníaco do Parque
Direção: Maurício Eça
Sinopse: Uma jovem jornalista ávida por um artigo que mudará sua carreira entra em rota de colisão com um violento assassino: o Maníaco do Parque.


Vamos começar (e terminar, também) pela grande falha que é Maníaco do Parque (2024), dirigido por Maurício Eça. O que poderia ser um thriller psicológico tenso e arrepiante, acaba por ser um verdadeiro festival de vergonha alheia. Aparentemente, a produção tinha bons recursos financeiros, o que faz o desastre ser ainda mais deprimente. Afinal, é como ter uma Ferrari e pilotá-la como se fosse um Fusca enferrujado. O filme tropeça em todas as suas tentativas de criar tensão, suspense ou até mesmo respeito pela história de um dos mais notórios serial killers brasileiros, Francisco de Assis Pereira. No entanto, aqui, Francisco é tratado mais como um coadjuvante de novela da tarde do que como o vilão que dominou o noticiário em 1998. E nem preciso falar do elenco e do roteiro, mas vou fazer isso mesmo assim.

Começando pela protagonista, Elena, interpretada pela Giovanna Grigio. Já aviso: se você está esperando qualquer tipo de emoção da parte dela, sugiro que vá procurar no Google as expressões faciais possíveis de um robô. Aliás, se o intuito do diretor era criar uma personagem completamente sem expressão, sem presença e sem química com o público, acertou em cheio! Desde o início, você simplesmente não acredita que Elena é uma jornalista investigativa. Na verdade, ela parece mais uma estagiária desesperada para conseguir um furo de reportagem qualquer, mesmo que isso signifique gritar com um assassino em série no meio de uma prisão (sim, isso acontece, e claro, os guardas e advogados ficam ali, estáticos, como quem assiste a um teatro de quinta categoria).

O filme tenta desesperadamente enfiar goela abaixo uma mensagem feminista, como se dissesse: "Olha, criamos uma mulher forte, que vai fazer justiça pelas vítimas". Só que o problema é que isso soa forçado e completamente desconexo com o que o filme entrega. A personagem Elena, no início, não está interessada em justiça alguma. Ela quer fama, quer ver sua matéria estampada no "Notícias Populares" (que nome esdrúxulo, diga-se de passagem). Aí, do nada, na conclusão, o filme vira a chavinha e tenta pintar Elena como uma heroína das mulheres, tudo isso envolto em um monólogo feminista ridículo. Se fosse ao menos bem-feito, mas é só um discurso barato que tenta soar inteligente, mas só consegue ser mais patético que os recortes colados na parede durante a investigação.

Ah, e o que dizer da trilha sonora? Parece que alguém teve a brilhante ideia de vasculhar o fundo do poço dos anos 90 e trazer à tona todas aquelas músicas que já deveriam estar enterradas para sempre. É de uma cafonice atroz. Cada vez que a trilha aparece, você é jogado para fora do filme, pensando que está assistindo a uma paródia mal feita. Não há uma única escolha musical que ajude na ambientação ou que eleve o suspense. Ao invés disso, temos músicas horrorosas que só fazem piorar o que já estava ruim.

Os personagens secundários também não ajudam. Mel Lisboa aparece como Martha, a irmã da protagonista, em uma participação tão apagada que demorei duas cenas para me dar conta que aquela era a "presença de Anita". Pelo visto, sua "presença" foi sugada por um buraco negro, porque não sobra nada de carisma aqui. E, claro, não poderia faltar a clássica cena em que a investigadora faz recortes e colagens na parede para solucionar o mistério. Não sei o que é pior: o fato de que essa cena ainda é usada como um recurso "inteligente" em pleno 2024 ou o quão risível ela é aqui. Elena fica ali, de frente para a parede, tentando conectar pontos óbvios, enquanto o espectador só consegue revirar os olhos.

Agora, falando sobre o vilão da história, Francisco de Assis Pereira, interpretado por Silvero Pereira. O filme, aparentemente, tentou "humanizar" o personagem. Que ideia brilhante, não é mesmo? Pegamos um dos maiores monstros da história criminal do Brasil e o transformamos em um sujeito com transtornos, mas quase inofensivo. Silvero até tenta fazer algumas caretas para parecer ameaçador, mas acaba parecendo mais um vilão de sessão da tarde do que um maníaco que aterrorizava mulheres em São Paulo. Não há um único momento em que você realmente sinta medo dele, exceto talvez quando ele faz um olhar malvado direto para a câmera — algo digno de um vilão de novela mexicana.

E, falando em momentos constrangedores, prepare-se para as aparições surreais de ícones da televisão brasileira como É o Tchan, Gugu Liberato e Gilberto Barros. Não, você não leu errado. No meio de um filme que deveria tratar sobre assassinatos brutais e um serial killer, você tem a inserção gratuita de figuras como essas, criando cenas que são pura vergonha alheia. A impressão é de que o filme estava tão desesperado para capturar a atmosfera dos anos 90 que resolveu enfiar tudo o que podia, desde programas de auditório até memes. Sim, você vai ver Gilberto Barros, o "Kasinão", em duas cenas que desafiam qualquer noção de coerência narrativa.

O roteiro não se dá ao trabalho de explicar o que Francisco fazia com suas vítimas, além de matá-las. Quem não era adulto em 1998 provavelmente assistirá ao filme sem entender absolutamente nada sobre os crimes. A sensação que fica é que o diretor e o roteirista achavam que o público já sabia de tudo e, por isso, não precisavam gastar tempo mostrando os horrores que Francisco cometeu. Só que não. O filme não explora as motivações, os detalhes dos crimes ou o impacto psicológico deles.

No final, o grande clímax do filme, o embate entre Elena e o Maníaco do Parque, deveria ser o ponto alto da trama. Mas, claro, como tudo neste filme, é uma decepção gigantesca. Elena grita, xinga, e Francisco só a encara com aquele olhar genérico de vilão barato. A cena, que poderia ser tensa e eletrizante, acaba sendo mais uma situação cômica. Pior ainda, no fim das contas, o filme tenta nos convencer que a verdadeira motivação de Elena era buscar um pai ausente, o que soa tão clichê e sem graça quanto parece. Essa tentativa de psicologizar a trama só afunda ainda mais o roteiro, que já era ruim desde o começo.

Em suma, Maníaco do Parque tinha tudo para ser um filme forte e envolvente, mas falha em praticamente tudo. Se fosse um filme B, ainda daria para perdoar algumas coisas, mas o orçamento está ali, claramente desperdiçado em uma produção sem alma e sem propósito. É uma pena, porque a história real, que causou tanto terror em São Paulo nos anos 90, merecia uma adaptação muito melhor. Mas o que temos aqui é um filme que só serve para encher o catálogo do Amazon Prime e, quem sabe, virar mais um daqueles filmes "tão ruins que são bons", para assistir num domingo à tarde e rir de nervoso.

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