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outubro 23, 2024

Machete (2010)

 


Título original: Machete
Direção: Robert Rodriguez, Ethan Maniquis
Sinopse: Machete (Danny Trejo) é um ex agente federal mexicano e foi contratado por um homem misterioso (Jeff Fahey) para assassinar um importante político americano. Mas ele também se tornou alvo de outro matador e agora o que parecia ser uma simples e rentável missão, transformou-se num sanguinária trama de conspiração contra o povo mexicano. Machete não vai deixar por menos, quer vingança e para isso conta com seu velho amigo "O Padre" (Cheech Marin).


Machete (2010), dirigido por Robert Rodriguez e Ethan Maniquis, é uma experiência cinematográfica que parece ter sido feita para ser controversa e explosiva. O filme é uma homenagem direta ao cinema “grindhouse” dos anos 70, aquela era de produções exageradas, de baixo orçamento, repletas de violência gráfica e ação extravagante. Rodriguez, ao lado de Maniquis, traz ao público um longa que abraça a estética desse cinema transgressor, porém com uma abordagem moderna e um elenco repleto de estrelas, misturando elementos de sátira, humor e crítica social de maneira propositalmente exagerada e cômica. No entanto, ao tentar equilibrar essa combinação de intenções, Machete acaba escorregando em sua própria ambição e perde o foco em diversos momentos.

O protagonista é Machete Cortez, interpretado pelo icônico Danny Trejo, que traz toda a sua persona austera e intimidadora para o papel. Um ex-federal mexicano em busca de vingança contra um cartel de drogas e políticos corruptos, Machete é o herói sombrio que está disposto a lutar por justiça, mas com uma abordagem que transborda violência e humor sombrio. Danny Trejo, que possui um histórico colaborativo com Rodriguez, personifica com intensidade o estereótipo do anti-herói durão e inflexível, cujo carisma reside mais na brutalidade do que nas palavras. Sua presença é de fato cativante, mas a profundidade do personagem se limita a uma série de clichês que eventualmente se tornam previsíveis e cansativos.

No campo técnico, Rodriguez utiliza vários recursos de edição e fotografia para simular uma aparência de filme antigo e desgastado, com filtros que fazem o filme parecer mais envelhecido e estilizado. A fotografia de Jimmy Lindsey usa tons sépia e uma iluminação propositalmente saturada para reforçar o clima grindhouse, enquanto a montagem é acelerada e repleta de cortes bruscos, um tributo evidente ao estilo de cinema que Rodriguez homenageia. Essas escolhas, embora estilisticamente coerentes, às vezes caem no risco de serem vistas como uma “piada interna” que não atinge a universalidade de uma audiência mais ampla, especialmente quando o estilo visual acaba ofuscando o conteúdo.

A trilha sonora, composta por Chingon (a banda de Robert Rodriguez), faz um excelente trabalho ao intensificar as cenas de ação com uma pegada western e latina. A música desempenha um papel fundamental em criar a atmosfera do filme, proporcionando uma fusão de rock e influências mexicanas que conferem ao filme um tom ainda mais excêntrico e característico. No entanto, ao longo da narrativa, a trilha se torna repetitiva e não consegue sustentar o ritmo frenético que as cenas exigem. Eventualmente, a música, embora bem executada, não consegue acompanhar o excesso visual e a saturação de temas.

No elenco de apoio, temos uma série de rostos familiares que parecem ter se divertido interpretando esses papéis absurdos e caricatos. Jessica Alba, como a agente de imigração Sartana Rivera, e Michelle Rodriguez, como Luz, trazem uma dualidade feminina interessante ao filme, mas suas personagens são desenvolvidas superficialmente, quase como arquétipos em vez de indivíduos com motivações reais. Steven Seagal, por sua vez, aparece como o vilão Torrez, e seu desempenho parece mais uma paródia de si mesmo, com diálogos exagerados e uma performance que mistura vilania com uma dose de autodepreciação. Essa escolha reforça o tom de sátira, mas a falta de seriedade faz com que o vilão perca a gravidade e o impacto que deveria ter em um filme com uma proposta de ação intensa.

Outro ponto interessante, embora mal-executado, é a tentativa do roteiro de abordar temas políticos e sociais. Rodriguez e Maniquis introduzem elementos como a imigração e a corrupção política em um esforço de satirizar a complexa relação entre os Estados Unidos e o México. No entanto, essa crítica social, ao invés de funcionar como um comentário relevante, acaba sendo diluída pela abordagem cômica e exagerada. Em vez de instigar reflexões, a narrativa fica tão centrada na violência e na estética que a crítica soa superficial e quase desrespeitosa, tratando assuntos complexos de maneira caricatural e com pouca profundidade.

Além disso, é preciso reconhecer que o ritmo do filme é um dos maiores desafios. Com a quantidade de subtramas, personagens e exageros visuais, Machete em diversos momentos parece perder o fôlego. A falta de consistência na narrativa enfraquece o impacto das cenas de ação e torna difícil para o público se conectar com o personagem principal e com a jornada de vingança que ele deveria estar realizando. Essa desconexão, associada ao humor irregular, faz com que o filme, que inicialmente promete uma explosão de entretenimento e exagero, acabe se arrastando e perdendo o seu próprio propósito.

Ao final, Machete é um filme que se destaca pela tentativa audaciosa de homenagear o cinema grindhouse, mas falha em alcançar um equilíbrio entre forma e conteúdo. Robert Rodriguez e Ethan Maniquis criam um espetáculo visual e um universo onde a violência e a sátira andam de mãos dadas, mas a falta de uma narrativa coesa e de personagens realmente envolventes faz com que o filme, em última análise, não passe de uma coleção de cenas grotescas, sem o impacto emocional que poderia ter atingido se a trama fosse um pouco mais focada. A experiência de assistir Machete é como estar em uma montanha-russa que, depois do terceiro loop, começa a cansar, deixando uma sensação de desgaste e exagero.

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