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setembro 05, 2024

Você Nunca Esteve Realmente Aqui (2017)

 


Título original: You Were Never Really Here
Direção: Lynne Ramsay
Sinopse: Um homem, veterano de guerra, ganha a vida resgatando mulheres presas em cativeiros trabalhando como escravas sexuais. Após uma missão mal sucedida em um bordel de Manhattan, a opinião pública se torna contra ele e uma onda de violência se abate na região.


Você Nunca Esteve Realmente Aqui, dirigido por Lynne Ramsay, é um filme que, apesar de suas intenções de provocar e confrontar, falha em diversos níveis, tornando-se uma experiência frustrante. O longa, que tem Joaquin Phoenix no papel principal, não oferece a profundidade emocional esperada em uma história de violência e resgate, e sua abordagem, ao invés de ser impactante, acaba por ser exaustiva e fria.

O enredo, que gira em torno de Joe (Phoenix), um veterano de guerra com traumas profundos, agora especializado em resgatar garotas sequestradas, promete uma narrativa pesada e visceral. Entretanto, a execução decepciona. Phoenix, em mais uma performance introspectiva e monótona, parece repetir a mesma expressão inexpressiva e carrancuda que vimos em tantos outros filmes de sua carreira. Se em Johnny & June (único filme em que realmente gosto de sua interpretação) ele trouxe camadas de emoção e vulnerabilidade, aqui sua interpretação segue o padrão desgastado: o semblante de sofrimento contido, que não evolui ao longo da trama.

A escolha de Ramsay por um estilo minimalista, tanto em termos de diálogo quanto de ação, poderia ter criado uma atmosfera opressiva e intensa. No entanto, o que encontramos é um filme com uma energia pesada e, por vezes, desagradável. Desde o começo, somos imersos em uma atmosfera sombria que não encontra alívio ou respiro. A violência, sempre presente, é tratada de forma quase indiferente, o que enfraquece seu impacto emocional. Não há espaço para a construção de uma verdadeira conexão com as vítimas que Joe tenta salvar. Elas se tornam meros dispositivos narrativos, e o filme não parece interessado em explorá-las além de sua função de gerar angústia e sofrimento.

A cinematografia, por mais competente que seja em criar uma estética coerente com o tom da obra, contribui para essa sensação de desconforto. As cores escuras e a iluminação baixa, embora tenham sua função na criação de uma atmosfera tensa, acabam tornando o filme visualmente opressor. Não há nuances, nem mesmo nos momentos mais íntimos ou vulneráveis de Joe, como as cenas com sua mãe. Esses raros momentos de "humanidade" parecem insuficientes para quebrar a dureza contínua que permeia o filme. A trilha sonora, composta por Jonny Greenwood, é caótica e, em muitos momentos, intrusiva, amplificando ainda mais a energia negativa que o filme transmite. Normalmente celebro vigorosamente as trilhas de Greenwood, mas não aqui. Em vez de complementar a narrativa, a música frequentemente distrai e agrava a sensação de desconforto, o que dificulta a imersão completa na história.

Outro aspecto problemático é a superficialidade com que o filme trata seus temas centrais. A exploração do tráfico de menores e da violência sexual poderia ter sido tratada com muito mais profundidade e sensibilidade, mas aqui tudo é raso. O filme não se esforça para desenvolver empatia pelas vítimas, que aparecem e desaparecem sem deixar qualquer impressão emocional no público. Falta profundidade na construção dessas personagens, e o resultado é que a violência que elas sofrem parece mais um artifício narrativo do que uma realidade a ser questionada e enfrentada. Isso cria uma barreira emocional entre o espectador e o filme, tornando difícil qualquer tipo de envolvimento ou reflexão mais significativa.

A estrutura narrativa fragmentada, com constantes saltos entre flashbacks e o presente, também contribui para a desconexão emocional. Embora Ramsay tenha tentado utilizar esses recursos para explorar o trauma de Joe e suas motivações, a falta de clareza e coesão na montagem acaba tornando a narrativa confusa e, por vezes, irritante. Não há uma progressão clara, e isso enfraquece o impacto que a história poderia ter.

No que diz respeito ao protagonista, Joe é uma figura quase impenetrável, o que dificulta qualquer tentativa de simpatia ou empatia por parte do público. Seu passado traumático e seu comportamento autodestrutivo são apresentados de forma tão vaga que não conseguimos nos conectar verdadeiramente com ele. Mesmo nos momentos em que o filme tenta humanizá-lo — como nas cenas em que ele cuida de sua mãe idosa —, a frieza da narrativa impede qualquer verdadeira comoção.

No fim das contas, Você Nunca Esteve Realmente Aqui falha em criar um equilíbrio entre estilo e substância. Sua estética sombria e suas escolhas narrativas ambiciosas não compensam a falta de profundidade emocional e de conexão com seus personagens. A sensação que o filme deixa é de uma obra que tenta ser mais profunda e provocativa do que realmente é, resultando em uma experiência árida e desconfortável. Para quem esperava um drama intenso e comovente, o filme decepciona ao oferecer pouco mais que um exercício de estilo visualmente perturbador, mas emocionalmente vazio.

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