Um Drink no Inferno (1996), dirigido por Robert Rodriguez e com roteiro de Quentin Tarantino, é um exemplo clássico de um filme que começa com promessas grandiosas, mas se perde de forma impressionante no meio do caminho. O início é cativante: a atmosfera de tensão criada entre os irmãos criminosos Seth (George Clooney) e Richie Gecko (Quentin Tarantino) e seus reféns promete um thriller de ação no estilo típico de Tarantino, com diálogos afiados e violência estilizada. Contudo, o que começa como um filme sólido e intrigante, logo se transforma em um espetáculo desordenado, confuso e, francamente, insuportável.
O primeiro ato apresenta-se como uma narrativa policial interessante e bem estruturada. A fotografia é eficaz, com um jogo de luzes e sombras que acrescenta à tensão psicológica dos protagonistas e seus dilemas morais. Clooney, em particular, surpreende com uma interpretação sólida, trazendo uma energia carismática e uma dualidade intrigante para seu personagem. Ele carrega o filme nas costas nesse começo, deixando o público engajado e ansioso pelo desenrolar da trama.
No entanto, assim que os personagens chegam ao bar "Titty Twister", a narrativa perde completamente o rumo. É como se houvesse um filme inteiramente diferente a partir desse ponto, um que se preocupa mais em abraçar o absurdo do que em manter a coesão ou o interesse. A transição de um filme policial para um terror trash é abrupta e desconexa. Se há uma tentativa de homenagear o cinema B e o horror exploitation, esta falha miseravelmente. A mudança tonal poderia funcionar se houvesse uma ligação orgânica entre os dois estilos, mas o que acontece é uma desconstrução caótica e desordenada da narrativa.
A segunda metade do filme, ambientada inteiramente no bar de vampiros, torna-se um fardo insuportável. O ritmo, que antes era ágil e envolvente, torna-se lento e tedioso. As cenas de ação, que poderiam ter sido divertidas em sua intenção trash, se arrastam por tempo demais, criando uma sensação de interminável repetição. Os personagens enfrentam uma série de criaturas absurdas em lutas coreografadas de maneira desajeitada, que parecem se repetir continuamente sem oferecer nada novo ou interessante. A criatividade, que era o ponto forte do início, desaparece em meio a uma cacofonia de efeitos visuais datados e grotescos que mais afastam o espectador do que o envolvem.
Um dos maiores problemas do filme é sua trilha sonora. Composta por uma seleção de músicas de rock e blues, ela começa promissora, mas logo se torna repetitiva e cansativa. O uso excessivo de faixas similares, com guitarras rasgadas e batidas monótonas, transforma o som em uma tortura auditiva. Ao invés de intensificar a ação ou aumentar a tensão, a trilha sonora se torna um ruído de fundo irritante, que só contribui para a frustração do espectador. A música, que deveria ser um elemento importante na construção da atmosfera, aqui atua como um agravante para a já caótica segunda metade do filme.
O design de produção, por sua vez, parece não saber qual caminho seguir. O bar "Titty Twister" é um cenário interessante à primeira vista, com uma estética decadente que poderia ser bem explorada. No entanto, uma vez que os vampiros entram em cena, o ambiente se transforma em um amontoado de sangue e desordem. Os efeitos práticos, claramente inspirados pelo horror gore dos anos 80, falham em causar impacto, em parte por serem mal executados e em parte porque o filme já perdeu completamente seu fio condutor. O que era para ser um espetáculo visual de horror, acaba parecendo mais uma tentativa desesperada de prolongar uma sequência que deveria ter sido encerrada rapidamente.
Além disso, o elenco, que inicialmente funcionava bem, perde o rumo à medida que o roteiro desanda. Clooney e Tarantino parecem desinteressados e desconfortáveis com o material que têm em mãos após a virada da trama. O próprio Tarantino, que normalmente se destaca como roteirista e ator, entrega aqui uma atuação caricatural e sem profundidade. Juliette Lewis e Harvey Keitel, que desempenham papéis importantes como os reféns dos irmãos Gecko, tentam manter alguma dignidade no caos, mas seus esforços são em vão, à medida que são arrastados para uma trama ridícula e sem propósito. Os personagens, que inicialmente possuíam nuances interessantes, tornam-se figuras bidimensionais presas em um enredo que não sabe mais o que fazer com eles.
Mesmo considerando o fato de que o filme abraça uma estética trash intencionalmente, não há justificativa para a baixa qualidade da execução. Há filmes que utilizam o estilo B de maneira inteligente, criando uma experiência divertida e autêntica (como o excelente Marte Ataca! de Tim Burton, lançado no mesmo ano). Um Drink no Inferno, no entanto, confunde o que poderia ser uma homenagem com uma produção simplesmente mal feita e sem qualquer sentido de direção. A sensação é de que o filme se prolonga indefinidamente, uma experiência dolorosamente longa e desinteressante. Não há suspense, não há terror genuíno, e a ação se resume a barulhos ensurdecedores e efeitos visuais que, mesmo para os padrões da época, deixam muito a desejar.
O que poderia ter sido um filme que combinasse habilmente o crime e o horror trash acaba se tornando uma obra sem foco, perdida em suas próprias pretensões e incapaz de sustentar o interesse do público. Em última análise, Um Drink no Inferno começa com a promessa de ser algo ao menos digno de nota, mas se transforma em uma bagunça infindável e insuportável. A trilha sonora barulhenta, a falta de coerência na narrativa e a absoluta desconexão entre as partes que compõem o filme fazem deste uma das experiências cinematográficas mais frustrantes e decepcionantes dos anos 90.
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