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setembro 23, 2024

Twisters (2024)

 


Título original: Twisters
Direção: Lee Isaac Chung
Sinopse: Kate Cooper é uma ex-caçadora de tempestades assombrada por um encontro devastador com um tornado durante seus anos de faculdade, que agora estuda padrões de tempestades nas telas em segurança na cidade de Nova York. Ela é atraída de volta às planícies por seu amigo, Javi, para testar um novo sistema revolucionário de rastreamento.


Twisters (2024) é um daqueles filmes que desafia a lógica ao existir. Uma sequência completamente desnecessária para um filme já duvidoso como Twister (1996), esta produção consegue a proeza de ser pior que o original em quase todos os aspectos, criando uma experiência não apenas entediante, mas ativamente dolorosa para quem ousa sentar-se diante dela por mais de 10 minutos. Seria exagero chamar Twisters de um desastre natural cinematográfico? Não mesmo. A ironia aqui é que os tornados retratados no filme não são tão catastróficos quanto o próprio roteiro, os personagens ou as decisões criativas. Se existisse uma competição para "Pior Filme do Ano", este já estaria no topo da lista.

Vamos começar com o roteiro, que mais parece ter sido escrito por um algoritmo de clichês. Aqui temos a cientista prodígio Kate Carter (Daisy Edgar-Jones), que, após um passado trágico, retorna ao perigoso mundo da caça a tornados, relutantemente se unindo ao "bad boy" de tempestades Tyler Owens (Glen Powell), uma personalidade de YouTube obcecada por capturar os tornados mais extremos e lucrar com a desgraça alheia. Juntos, eles atravessam uma série de situações previsíveis e completamente absurdas, como encontrar não um, não dois, mas oito tornados diferentes, cada um mais ridiculamente irreal do que o anterior. Há até um momento surreal em que um tornado destrói um cinema, em uma tentativa bizarra de ser "meta", como se o público fosse se conectar com essa bobagem​.

A quantidade de clichês reciclados é simplesmente exasperante. Desde o inevitável romance entre os protagonistas, que parece ter sido tirado diretamente do manual dos "relacionamentos forçados em blockbusters", até as tentativas rasas de humanizar a trama com algum drama de fundo que, francamente, ninguém se importa. Parece que os roteiristas jogaram tudo que podiam no liquidificador e cruzaram os dedos para que algo fizesse sentido — o que, evidentemente, não acontece. O filme se arrasta entre cenas expositivas sem fim e diálogos que fariam qualquer roteirista iniciante corar de vergonha. E mesmo quando chega a tão aguardada ação, ela é manchada por efeitos visuais risíveis, para não dizer amadores, especialmente para uma produção de orçamento gigantesco.

Falando dos efeitos, é inacreditável que em pleno 2024, com toda a tecnologia disponível, Twisters tenha conseguido ser visualmente tão ruim. Tornados que parecem ter saído diretamente de um filme de 2003, feitos com CGI de segunda categoria, colocam em dúvida como o dinheiro do orçamento foi gasto. O que deveria ser o ponto alto da experiência — as sequências das tempestades — se torna uma fonte de gargalhadas involuntárias. A tentativa de criar grandiosidade e tensão, com tornados flamejantes e gêmeos assassinos, resulta apenas em um espetáculo visual de quinta categoria, sem qualquer senso de perigo real​. Quando as maiores emoções que um filme de desastre pode evocar são risadas, há algo muito, muito errado.

E se os efeitos são ruins, a trilha sonora não fica atrás. Prepare-se para ter seus ouvidos torturados com o pior da música country cafona americana. A trilha, em vez de intensificar a ação ou criar atmosfera, joga o público em um mar de guitarras dedilhadas, letras chorosas e refrãos dignos de karaokê de quinta. Essa escolha musical apenas sublinha o quanto Twisters está fora de sintonia com qualquer ideia de qualidade cinematográfica, como se os produtores quisessem, deliberadamente, criar uma experiência desagradável em todos os níveis sensoriais.

Mesmo as performances, que poderiam ao menos salvar alguma coisa, falham em nos convencer. Daisy Edgar-Jones, que já provou ser uma atriz competente em outros trabalhos, parece perdida em um roteiro que a obriga a murmurar diálogos insossos enquanto corre em meio a efeitos de vento gerados por computador. Glen Powell, por sua vez, faz seu melhor para injetar um pouco de humor em um personagem insuportável, mas até ele parece perceber o tamanho da bobagem em que se meteu. A dinâmica entre eles é tão previsível quanto mal-executada, tornando difícil para o público se importar minimamente com seus destinos.

Além disso, o filme se esforça desesperadamente para ser relevante, jogando referências aleatórias à cultura de mídia social e influenciadores digitais, mas falha miseravelmente em torná-las interessantes. A tentativa de incluir discussões sobre meteorologia, mudanças climáticas e capitalização de desastres soa tão superficial e mal pensada que qualquer espectador com o mínimo de senso crítico ficará revirando os olhos a cada nova cena.

Se há algo que Twisters faz com perfeição, é exemplificar o estado lamentável do cinema comercial americano. Ao lado de tantos outros blockbusters recentes, incluindo os intermináveis filmes de super-heróis que saturam o mercado, este filme é mais um prego no caixão da criatividade em Hollywood. Não há originalidade, não há risco, apenas uma tentativa desesperada de capitalizar em cima da nostalgia dos anos 90, mas sem qualquer respeito pelo público ou pela arte cinematográfica em si. É a prova de que, em meio à mediocridade, o cinema comercial de grande orçamento perdeu completamente a noção de propósito.

Se Twisters fosse um tornado real, ele certamente não deixaria destruição para trás — só uma profunda decepção, uma vontade de pedir reembolso e um questionamento sério sobre as escolhas de vida que te levaram a assistir a isso. Candidato a pior filme do ano? Sem sombra de dúvida.

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