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junho 15, 2005

A Casa de Cera (2005)


Título original: House of Wax
Direção: Jaume Collet-Serra
Sinopse: Um grupo de amigos da faculdade está a caminho de um jogo de futebol quando, em uma cidade fantasma, o carro quebra e são obrigados a procurar auxílio no único lugar que está aberto: o museu de cera local. Eles ficam impressionados com a perfeição das esculturas e logo percebem a razão de tanto realismo. Aterrorizados, fogem para não se transformarem em peças de museu.


É até ousado (ou seria "bobo"?), é um remake de um "clássico" do terror norte-americano dos anos 50, foi reescrito para se tornar um thriller adolescente pós A Bruxa de Blair. Não estou tentando fazer comparações com o referido filme de 1999 (A Bruxa de Blair), e nem o tomando como parâmetro, uma vez que desprezo esse filme – e que isso fique bem claro. Bem, sabendo-se de tudo isso aí sobre A Casa de Cera, o que se poderia concluir é que esse filme também foi feito para ser desprezado. Mas não. Ele tem tudo pra dar errado, mas não dá. Na verdade, o que acontece é o contrário. Ele dá certo.

Sem levar em consideração as centenas de clichês e obviedades que o filme apresenta (sim, a música de abertura que toca nos créditos iniciais é um hard rock característico de filmes de terror "adolescentes" atuais), A Casa de Cera tem muitas qualidades. O prólogo é interessante, com o ataque físico-psicológico de um dos irmãos – que descobrimos depois serem gêmeos siameses separados – chamados Bo e Vincent, quando crianças. A mãe amarra Bo em sua cadeira, numa cena um tanto quanto "forte", logo de cara. Serve pra preparar o espectador para o que vem pela frente. O longa tem classificação 18 anos e não é pra menos. Se você tem o estômago fraco, não assista. A Casa de Cera faz por merecer a classificação etária que lhe foi concedida.

Já no mesmo prólogo, além desse tom pesado que sabemos que o filme irá tomar, somos induzidos na atmosfera de A Casa de Cera: uma fotografia verde-azulada constante (cores essas que compõem o pôster do filme, inclusive), que passa a sensação de tristeza e solidão necessárias para nos transportarmos a Ambrose, uma minúscula cidade, misteriosamente vazia...

Logo que "entramos" de fato no filme, o que se vê na tela não é grande coisa. Pode-se até dizer que o primeiro ato do filme é sem sentido, meio que querendo copiar de tudo um pouco do que já foi feito de terror nos últimos anos... grupo de adolescentes com todos os estereótipos presentes lá, carros que se desviam da estrada principal e pegam um desvio que os levará até o perigo, e até a menina que sai sozinha no meio da noite em um acampamento porque escutou "algo". O filme ainda se utiliza de mais recursos de A Bruxa de Blair, principalmente ao mostrar ao espectador fatos através de uma câmera digital que um dos personagens carrega. Mas, felizmente, esse recurso é logo abandonado.

O filme carece de uma ‘unidade’. Certo, deve-se levar em consideração que esse é o primeiro longa do diretor espanhol Jaume Collet-Serra, e que ele acerta em muita coisa, mas, sinceramente, parece que o primeiro ato foi dirigido por outra pessoa. Quanto ao elenco: a grande espera (ao menos ao meu ver) era ver como Paris Hilton iria ‘aparecer’. E foi como o previsto. Realmente algo estranho acontece com ela. Hilton não tem nenhuma expressão facial, é como se ela tivesse acabado de aplicar botox e estivesse na fase de não poder mexer os músculos do rosto (quem viu A Nova Cinderela vai entender do que estou falando), além de parecer um travesti, com uma voz tão grossa às vezes que dá até pra achar que ela é o irmão maléfico escondido de Bo, Vincent Sinclair. E Chad Michael Murray está bem no papel do bad boy, pelo menos diferindo um pouco do pouco que ele fez até hoje, mas também, nada além disso, somente está bem e ponto.

Quando somos apresentados à cidade de Ambrose, só a mera existência dela causa arrepios. Ninguém na cidade, um posto de gasolina abandonado, algumas casas, uma igreja (onde estão ‘todos’ da cidade, em um velório), e... o museu de cera. Os bonecos de cera e tudo mais dentro do desolado museu já apavoram, sem nenhum motivo aparente, mas apavoram. E, com certeza, o público se choca ainda mais quando descobre como esses bonecos são feitos... e quando se descobre como são todas os habitantes de Ambrose.

A partir daí o filme se torna uma corrida de gato e rato, dos irmãos assassinos atrás do grupo de adolescentes, que, obviamente, são apanhados um a um. Algumas cenas se destacam nessa corrida, que pode parecer óbvia e sem graça a princípio. E é, mas consegue prender a atenção do espectador até o fim. Quando Bo persegue Carly no velório, descobrimos que os gêmeos são mais dois Norman Bates duplicados do que qualquer outra coisa. A mãe deles está lá, imortalizada em cera no caixão, e toda a cidade fora feita em sua homenagem. Uma ideia doente que eles planejam levar até as últimas consequências. E o modo que as estátuas de cera são feitas é simplesmente escabroso. Aliás, o filme inteiro é explícito ao máximo, com dedos (e cabeças) sendo decepados com alicates e facas, pessoas que têm a boca colada com cola Super Bonder etc. É explícito demais, mas a proposta era exatamente essa, e funciona bem.

O ponto alto de todo o longa é, com certeza, a perseguição dentro da sala de cinema. O antigo cinema da cidade está passando O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, um clássico do suspense, de 1962. O filme antigo, que é sinistro em sua própria maneira, fica ainda mais aqui. Ninguém gostaria de estar na pele da protagonista (Elisha Cuthbert, muito melhor do que em seu trabalho anterior, Show de Vizinha): um cinema escuro com um assassino te perseguindo, o boneco de cera pavoroso ao seu lado é na verdade uma pessoa que foi morta pelo mesmo homem que está te perseguindo e Bette Davis, como a pavorosa Baby Jane do filme,  cantando "I’ve Written a Letter to Daddy" na tela... convenhamos, não é nada agradável.

A Casa de Cera é um dos raros exemplos de filmes que começam muito mal, mas muito mal mesmo, e vão melhorando a cada minuto que passa, culminando em um interessante, inteligente terceiro ato, com cenas como a já mencionada acima e com um grand finale a la Hitchcock, que é o derretimento da casa de cera, e a morte (irônica, pela posição em que morrem – quem viu o filme entenderá) da dupla de vilões. Para completar o final, há uma ‘revelação’, nem um pouco genial, mas que não deixa de ser interessante, ao menos.

É diversão enlatada, só isso. Produzido pela Dark Castle, de Robert Zemeckis (a mesma que produziu o péssimo Na Companhia do Medo), A Casa de Cera agrada, tem uma composição interessante em quase todos os 113 minutos de projeção. Mesmo se aproveitando de uma idéia anterior (mas bem modificada), ela ainda soa original. E perdi a vontade de revisitar o Museu de Cera de Madame Tussaud. Quem sabe em outra oportunidade...

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