É até ousado (ou seria "bobo"?), é um remake
de um "clássico" do terror norte-americano dos anos 50, foi reescrito para se
tornar um thriller adolescente pós A
Bruxa de Blair. Não estou tentando fazer comparações com o referido filme
de 1999 (A Bruxa de Blair), e nem o
tomando como parâmetro, uma vez que desprezo esse filme – e que isso fique bem
claro. Bem, sabendo-se de tudo isso aí sobre A Casa de Cera, o que se poderia concluir é que esse filme também
foi feito para ser desprezado. Mas não. Ele tem tudo pra dar errado, mas não
dá. Na verdade, o que acontece é o contrário. Ele dá certo.
Sem levar em consideração as centenas de clichês e obviedades que o filme apresenta (sim, a música de abertura que toca nos créditos iniciais é um hard rock característico de filmes de terror "adolescentes" atuais), A Casa de Cera tem muitas qualidades. O prólogo é interessante, com o ataque físico-psicológico de um dos irmãos – que descobrimos depois serem gêmeos siameses separados – chamados Bo e Vincent, quando crianças. A mãe amarra Bo em sua cadeira, numa cena um tanto quanto "forte", logo de cara. Serve pra preparar o espectador para o que vem pela frente. O longa tem classificação 18 anos e não é pra menos. Se você tem o estômago fraco, não assista. A Casa de Cera faz por merecer a classificação etária que lhe foi concedida.
Já no mesmo prólogo, além desse tom pesado
que sabemos que o filme irá tomar, somos induzidos na atmosfera de A Casa de Cera: uma fotografia
verde-azulada constante (cores essas que compõem o pôster do filme, inclusive),
que passa a sensação de tristeza e solidão necessárias para nos transportarmos
a Ambrose, uma minúscula cidade, misteriosamente vazia...
Logo que "entramos" de fato no filme, o que
se vê na tela não é grande coisa. Pode-se até dizer que o primeiro ato do filme
é sem sentido, meio que querendo copiar de tudo um pouco do que já foi feito de
terror nos últimos anos... grupo de adolescentes com todos os estereótipos
presentes lá, carros que se desviam da estrada principal e pegam um desvio que
os levará até o perigo, e até a menina que sai sozinha no meio da noite em um
acampamento porque escutou "algo". O filme ainda se utiliza de mais recursos de
A Bruxa de Blair, principalmente ao
mostrar ao espectador fatos através de uma câmera digital que um dos
personagens carrega. Mas, felizmente, esse recurso é logo abandonado.
O filme carece de uma ‘unidade’. Certo,
deve-se levar em consideração que esse é o primeiro longa do diretor espanhol
Jaume Collet-Serra, e que ele acerta em muita coisa, mas, sinceramente, parece
que o primeiro ato foi dirigido por outra pessoa. Quanto ao elenco: a grande
espera (ao menos ao meu ver) era ver como Paris Hilton iria ‘aparecer’. E foi
como o previsto. Realmente algo estranho acontece com ela. Hilton não tem nenhuma
expressão facial, é como se ela tivesse acabado de aplicar botox e estivesse na
fase de não poder mexer os músculos do rosto (quem viu A Nova Cinderela vai entender do que estou falando), além de
parecer um travesti, com uma voz tão grossa às vezes que dá até pra achar que
ela é o irmão maléfico escondido de Bo, Vincent Sinclair. E Chad Michael Murray
está bem no papel do bad boy, pelo
menos diferindo um pouco do pouco que ele fez até hoje, mas também, nada além
disso, somente está bem e ponto.
Quando somos apresentados à cidade de
Ambrose, só a mera existência dela causa arrepios. Ninguém na cidade, um posto
de gasolina abandonado, algumas casas, uma igreja (onde estão ‘todos’ da
cidade, em um velório), e... o museu de cera. Os bonecos de cera e tudo mais
dentro do desolado museu já apavoram, sem nenhum motivo aparente, mas apavoram.
E, com certeza, o público se choca ainda mais quando descobre como esses
bonecos são feitos... e quando se descobre como são todas os habitantes de
Ambrose.
A partir daí o filme se torna uma corrida de
gato e rato, dos irmãos assassinos atrás do grupo de adolescentes, que,
obviamente, são apanhados um a um. Algumas cenas se destacam nessa corrida, que
pode parecer óbvia e sem graça a princípio. E é, mas consegue prender a atenção
do espectador até o fim. Quando Bo persegue Carly no velório, descobrimos que
os gêmeos são mais dois Norman Bates duplicados do que qualquer outra coisa. A mãe
deles está lá, imortalizada em cera no caixão, e toda a cidade fora feita em
sua homenagem. Uma ideia doente que eles planejam levar até as últimas
consequências. E o modo que as estátuas de cera são feitas é simplesmente
escabroso. Aliás, o filme inteiro é explícito ao máximo, com dedos (e cabeças)
sendo decepados com alicates e facas, pessoas que têm a boca colada com cola
Super Bonder etc. É explícito demais, mas a proposta era exatamente essa, e
funciona bem.
O ponto alto de todo o longa é, com certeza,
a perseguição dentro da sala de cinema. O antigo cinema da cidade está passando
O Que Terá Acontecido a Baby Jane?,
um clássico do suspense, de 1962. O filme antigo, que é sinistro em sua própria
maneira, fica ainda mais aqui. Ninguém gostaria de estar na pele da
protagonista (Elisha Cuthbert, muito melhor do que em seu trabalho anterior, Show de Vizinha): um cinema escuro com
um assassino te perseguindo, o boneco de cera pavoroso ao seu lado é na verdade
uma pessoa que foi morta pelo mesmo homem que está te perseguindo e Bette Davis,
como a pavorosa Baby Jane do filme, cantando "I’ve Written a Letter to Daddy" na
tela... convenhamos, não é nada agradável.
É diversão enlatada, só isso. Produzido pela
Dark Castle, de Robert Zemeckis (a mesma que produziu o péssimo Na Companhia do Medo), A Casa de Cera agrada, tem uma
composição interessante em quase todos os 113 minutos de projeção. Mesmo se
aproveitando de uma idéia anterior (mas bem modificada), ela ainda soa
original. E perdi a vontade de revisitar o Museu de Cera de Madame Tussaud.
Quem sabe em outra oportunidade...
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