O filme Tempo (Old, 2021), de M. Night Shyamalan, mergulha em um cenário exótico e angustiante, partindo de uma premissa que parece intrigante: um grupo de turistas descobre estar preso em uma praia onde o tempo passa de forma extremamente acelerada, fazendo com que todos envelheçam de maneira alarmante. A base do enredo é uma adaptação da graphic novel Sandcastle, de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters, o que já estabelece uma expectativa por um suspense de alta tensão. Entretanto, Shyamalan entrega um thriller visualmente chamativo, mas que parece esvaziar-se em sua profundidade e execução.
Tecnicamente, o filme é uma mistura de acertos e tropeços, começando pela cinematografia de Mike Gioulakis, que traz um certo brilho à experiência visual. As imagens da praia são saturadas e parecem quase pictóricas, uma decisão que reforça a beleza do cenário contrastada com o terror da situação. Porém, enquanto Gioulakis compõe belas cenas que exploram a desorientação e o caos dos personagens, a montagem de Brett M. Reed e os enquadramentos de Shyamalan revelam uma inconsistência que prejudica o ritmo. Em vez de criar suspense, a escolha por ângulos desajeitados e rápidos cortes acentua a artificialidade do cenário e do envelhecimento dos personagens, quebrando a imersão que o diretor tenta estabelecer.
No quesito narrativo, Shyamalan começa o filme com o pé direito, introduzindo as tensões familiares dos personagens principais. Este primeiro ato sugere que a experiência será uma análise psicológica do envelhecimento e de seus efeitos nas relações humanas. Contudo, o diretor rapidamente mergulha no território das explicações exageradas e diálogos forçados, uma tendência comum em sua filmografia. As interações entre os personagens soam mecânicas e pouco convincentes, o que dificulta a criação de uma conexão genuína com suas crises. Esse distanciamento emocional é agravado por atuações que oscilam entre a tensão e o melodrama, uma falha que parece derivar da direção inconsistente de Shyamalan.
O elenco, embora promissor, parece limitado por uma caracterização superficial. Vicky Krieps e Gael García Bernal, intérpretes do casal protagonista, tentam trazer humanidade aos seus papéis, mas esbarram em uma trama que não lhes dá espaço para explorar plenamente as complexidades de seus personagens. Mesmo assim, há um esforço visível para equilibrar o medo com a aceitação da situação bizarra em que se encontram, ainda que, no final, o filme falhe em desenvolver arcos de personagens que realmente impactem o público. O envelhecimento físico, um dos principais elementos visuais da história, é retratado com maquiagem e efeitos práticos que variam de impressionantes a incrivelmente inverossímeis, contribuindo para a sensação de que Shyamalan desperdiça uma premissa que poderia ter explorado melhor o terror psicológico.
Do ponto de vista temático, Tempo tenta abordar tópicos densos, como mortalidade e arrependimento, mas acaba caindo em clichês e abordagens simplistas. Shyamalan insere questões existenciais de maneira superficial, quase como adereços narrativos, o que enfraquece o impacto das cenas finais. O resultado é uma experiência que, embora pretenda ser reflexiva, se sente mais como um exercício vazio de estilo. Ao longo do filme, o diretor lança perguntas filosóficas e provocações que são deixadas sem resposta, não por opção artística, mas por uma falta de coesão entre o que se pretende explorar e o que de fato é mostrado. Há uma sensação constante de que Tempo tenta dizer muito, mas se perde em sua própria ambição.
O terceiro ato, que deveria ser o clímax de tensão e mistério, acaba caindo em uma série de explicações que soam tanto desnecessárias quanto insatisfatórias. A revelação final de Shyamalan é apresentada de forma apressada, quase como uma nota de rodapé, o que enfraquece ainda mais o impacto da narrativa. É como se o diretor estivesse mais preocupado em entregar uma “reviravolta” típica de seu estilo do que em construir uma conclusão verdadeiramente impactante. Essa necessidade de amarrar cada ponto do enredo cria uma experiência de suspense que não convida à reflexão, mas apenas ao alívio de que tudo tenha acabado.
Em resumo, Tempo apresenta uma premissa instigante e uma ambientação que poderia facilmente sustentar uma obra memorável. No entanto, a execução tropeça em diálogos mal elaborados, atuações inconsistentes e um roteiro que tenta forçar profundidade onde não há substância. Shyamalan é um diretor conhecido por dividir opiniões, e este filme é um exemplo perfeito de sua tendência a superestimar o impacto de seus próprios truques narrativos. A obra nos deixa com uma sensação de frustração, como uma oportunidade perdida de explorar o terror psicológico do envelhecimento e da mortalidade humana, em vez de apenas criar mais um suspense simplista em um cenário exótico.
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