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setembro 28, 2024

Teatro de Guerra (2018)

 


Título original: Teatro de Guerra
Direção: Lola Arias
Sinopse: Documentário inovador que revela as histórias pessoais de ex-soldados britânicos e argentinos, cujas vidas foram profundamente afetadas pela guerra das Malvinas.


Teatro de Guerra (2018), dirigido pela argentina Lola Arias, traz consigo a premissa instigante de reunir veteranos argentinos e britânicos que combateram na Guerra das Malvinas, 35 anos após o conflito, e os coloca frente a frente para recontar suas experiências e angústias. A ideia é confrontar memórias e emoções de soldados de lados opostos, o que, na teoria, poderia render uma análise rica e sensível sobre os traumas da guerra e o fardo de quem sobreviveu. Na prática, no entanto, a execução do projeto revela-se falha e superficial, beirando o ridículo em certos momentos.

A começar pelo estilo documental de Arias, que ousa em um formato híbrido entre ficção e documentário, mas que falha em capturar qualquer tipo de naturalidade nas reações dos participantes. Os veteranos, homens carregando cicatrizes físicas e emocionais, parecem deslocados, desconfortáveis com o papel que o filme tenta impor a eles, quase como atores amadores forçados a recriar um momento que preferiam esquecer. Essa “inovação” estilística, que seria um dos pontos fortes do filme, apenas contribui para tornar a experiência constrangedora para quem assiste e visivelmente embaraçosa para os próprios veteranos.

A cena em que os soldados, de nacionalidades opostas, reencenam batalhas e revivem momentos de horror na tela, com falas forçadas e pouco críveis, demonstra o quanto o filme falha em sua tentativa de humanizar essas histórias. Ao fazer com que esses homens atuem as próprias memórias, Teatro de Guerra parece banalizar as dores que deseja explorar, subjugando sentimentos genuínos ao espetáculo vazio. O desconforto dos participantes é perceptível e, em vez de empatia, o espectador é levado a questionar a ética da abordagem de Arias, que parece forçar seus personagens a encenarem o pior momento de suas vidas para uma câmera fria e distante.

A montagem, feita com uma interposição confusa de entrevistas e encenações, torna a narrativa cansativa e dispersa. Não há uma construção coesa que leve a uma reflexão real, e o filme perde-se em suas próprias pretensões de vanguarda, falhando em entregar a conexão emocional que prometia. O documentário tenta se sustentar como um experimento psicológico e emocional, mas ao transformar dor real em entretenimento superficial, torna-se insuportável de assistir, e o espectador é desestimulado a continuar até o final.

Em termos técnicos, Teatro de Guerra não oferece nenhum aspecto visual ou sonoro memorável. A câmera parece não ter uma linha de condução clara e se apoia em longas tomadas que tentam desesperadamente captar um realismo bruto. Em vez disso, esse estilo desajeitado e excessivamente cronometrado só contribui para intensificar a falta de verossimilhança. Cada cena parece uma tentativa frustrada de levar o espectador ao mundo interno dos soldados, mas o resultado é apenas desconforto e tédio. A trilha sonora é esparsa, o que, embora costume ser uma boa escolha em documentários, neste caso, só evidencia a ausência de atmosfera e direção.

A crítica central a Teatro de Guerra é sua falta de sutileza e empatia, que o transforma em um projeto que, de maneira desastrosa, falha em sua proposta. Ao final, o filme é um exercício de resistência para quem assiste, mais pelo desconforto alheio e pela superficialidade do que por qualquer emoção real. A única coisa que se salva — e é o mínimo — é a tentativa, fracassada, de colocar soldados em um diálogo, mas o formato ridículo e forçado torna impossível qualquer conexão verdadeira.

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