O Sequestro do Voo 375, de Marcus Baldini, é uma obra que reconstitui um dos episódios mais tensos da aviação brasileira, o sequestro do voo Vasp 375 em 1988. Com um orçamento de R$ 15 milhões e uma meticulosa atenção aos detalhes técnicos, o filme consegue recriar com precisão o ambiente da aviação dos anos 80, o que certamente desperta um saudosismo em quem vivenciou essa época. Ver as aeronaves da Vasp e Varig tão fielmente recriadas no filme é uma experiência visual envolvente, que reforça o realismo da produção.
Do ponto de vista técnico, o filme se destaca pela excelência. A equipe de produção não mediu esforços ao transportar um Boeing 737 para o set e utilizar um sistema de suspensão para simular os movimentos do avião durante o sequestro. O uso de drones, efeitos físicos e CGI, bem como a coordenação de helicópteros e aviões de apoio como o Electra e o Bandeirante, proporcionam um espetáculo visual raramente visto no cinema nacional. Esses aspectos elevam a obra, dando a sensação de se estar assistindo a um grande evento, algo que o público brasileiro não está acostumado a ver em produções locais.
Entretanto, apesar desse esforço técnico, o filme sofre com um problema que aflige parte do cinema brasileiro contemporâneo: a inconsistência nas atuações. A escolha de elenco recai em dois extremos: ou atores globais ou desconhecidos, o que muitas vezes prejudica a qualidade interpretativa. Aqui, a performance de Jorge Paz como o sequestrador Raimundo Nonato é, infelizmente, um ponto fraco. A falta de química entre ele e Danilo Grangheia, que interpreta o comandante Murilo, compromete a tensão que deveria ser o núcleo dramático do filme. Grangheia até consegue transmitir bem o terror e o senso de dever de seu personagem, mas a dinâmica entre sequestrador e piloto, que poderia ter sido eletrizante, parece superficial e desconectada.
Essa falha nas atuações é agravada por alguns momentos de grandiloquência no roteiro. A obra tenta humanizar o sequestrador, explicando suas motivações como fruto de frustrações com o governo Sarney e a situação econômica do Brasil, mas, em certos momentos, perde a sutileza. A abordagem de Nonato como uma figura quase trágica e incompreendida poderia ter sido mais equilibrada. Mesmo assim, o filme evita cair no sensacionalismo, o que é um mérito da direção de Baldini, que preferiu focar nas consequências sociais e políticas do sequestro.
A tensão no filme é palpável, e Baldini faz um trabalho competente ao manter o ritmo em várias frentes de ação: o cockpit, os passageiros e a torre de controle. Esses múltiplos pontos de vista garantem que o espectador fique engajado, mas a tensão que permeia o filme é constantemente sabotada pelas atuações inconstantes, especialmente em cenas chave que exigem uma interação convincente entre sequestrador e comandante.
Como entretenimento, O Sequestro do Voo 375 cumpre sua função de manter o público apreensivo e envolvido. A trama, inspirada em uma história real pouco conhecida fora do círculo da aviação, traz à tona um momento dramático do Brasil que poderia ser mais explorado na memória coletiva. O filme, no entanto, não atinge todo o seu potencial, em parte pelas falhas de elenco e pela tentativa de inflar o drama com exageros desnecessários.
No final, trata-se de uma obra visualmente impressionante, mas que, no nível dramático, deixa a desejar. O filme tem todos os ingredientes para ser memorável, mas acaba pecando por elementos que poderiam ter sido melhor trabalhados, tanto em termos de atuações quanto de desenvolvimento de personagens. Ainda assim, vale a pena conferir pela qualidade técnica e pela relevância histórica que resgata um momento tenso da aviação brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário