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setembro 25, 2024

Ferrari (2023)

 


Título original: Ferrari
Direção: Michael Mann
Sinopse: O ex-piloto de corrida, Enzo Ferrari está em crise. A falência assombra a empresa que ele e sua mulher, Laura, construíram do nada 10 anos atrás. O casamento tempestuoso dos dois sofre com o luto pela morte de um filho e a dificuldade de reconhecer outro. Ele decide contrapor essas perdas apostando tudo em uma corrida - a icônica Mille Miglia, na Itália.


Ferrari (2023), dirigido por Michael Mann, é o tipo de filme que te faz questionar como algo tão entediante pode ser feito a partir de uma figura histórica tão polêmica quanto Enzo Ferrari. O filme tenta capturar a complexidade do homem por trás da marca de carros icônica, mas o que vemos é uma narrativa sem alma, onde até mesmo o enredo parece circular sem propósito – assim como as corridas de carros que ele promoveu. Não importa o quanto a história tente humanizar Ferrari ou explorar os dramas pessoais, tudo é extremamente vazio e desprovido de emoção.

Enzo Ferrari, interpretado por Adam Driver, aparece como uma figura insensível e fria. A atuação de Driver é nada menos que caricata, com sua tentativa de incorporar o sotaque italiano soando mais como um retorno de sua performance em Casa Gucci. É difícil entender como alguém poderia se sentir atraído por um personagem tão apático, que não parece importar-se com nada além de seus carros, nem mesmo com as mortes trágicas ocorrendo ao seu redor. A incapacidade de o filme mergulhar na verdadeira complexidade emocional do personagem faz com que a história se arraste ainda mais.

E que história arrastada! A sensação de monotonia permeia cada cena. O filme tenta nos vender o drama da vida pessoal de Ferrari, seu casamento em colapso com Laura (Penélope Cruz, desperdiçada em um papel que poderia ter sido mais explorado) e sua relação extraconjugal com Lina Lardi (Shailene Woodley, igualmente sem brilho). No entanto, toda vez que essas subtramas surgem, é como se o filme parasse bruscamente, travando como um carro de corrida que perde o controle em uma curva. Esses momentos são tão aborrecidos que se tornam quase insuportáveis, e se não fosse pelo barulho constante e irritante dos motores, teria sido fácil dormir.

Falando em barulhos, as cenas de corrida, embora tecnicamente competentes, tornam-se uma tortura sonora. Para alguém que odeia carros e tudo relacionado a eles, o rugido contínuo dos motores se transforma em uma experiência quase insuportável. É um dos sons mais irritantes do mundo, e o filme faz questão de colocá-lo em evidência o tempo todo, como se fosse uma espécie de tortura acústica para o espectador. Mesmo para os amantes do automobilismo, a intensidade dessas cenas parece deslocada, como se fosse uma tentativa desesperada de injetar energia em uma história que está, literalmente, sem combustível.

O grande problema de Ferrari é que, por trás das câmeras, parece não haver propósito real. Enzo Ferrari é tratado como uma espécie de semideus no mundo dos carros, mas o filme falha miseravelmente em explicar por que ele merece essa reverência. No final das contas, ele é apenas um homem que criou máquinas rápidas para andar em círculos, indiferente ao sofrimento e às consequências de suas ações. Sua frieza diante da morte e dos sacrifícios humanos é chocante, e o filme não faz nenhum esforço real para condenar essa postura ou sequer explorá-la de forma crítica.

Com atuações que variam do exagerado ao apático, uma narrativa desinteressante e um personagem principal vazio e insensível, Ferrari é uma decepção monumental. Não há nada aqui que justifique seu tempo de tela ou o investimento emocional do espectador. Se você, como eu, já não tem interesse algum em carros, essa é uma experiência que será particularmente exaustiva. O filme não oferece nada além de motores barulhentos e um vazio emocional tão grande quanto as pistas de corrida que ele celebra.

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