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setembro 03, 2024

Armadilha (2024)

 


Título original: Trap
Direção: M. Night Shyamalan
Sinopse: Um pai e sua filha adolescente assistem a um badalado show de música pop, quando percebem que estão no epicentro de um evento sombrio e sinistro.


Em seus primeiros trabalhos, M. Night Shyamalan construiu uma reputação sólida com filmes como O Sexto Sentido e Corpo Fechado, obras que consolidaram seu domínio sobre o suspense e as reviravoltas surpreendentes. No entanto, com o tempo, Shyamalan parece ter perdido o toque que o tornou uma figura única no cinema, e seu novo filme, Armadilha (Trap), é uma evidência incontestável dessa queda livre criativa.

A premissa do filme é, no papel, intrigante: um pai, interpretado por Josh Hartnett, leva sua filha adolescente a um show de uma famosa pop star chamada Lady Raven (interpretada por Saleka Shyamalan). No entanto, o evento, que deveria ser uma experiência divertida, logo se transforma em um cenário caótico e perigoso, à medida que eles percebem que estão no centro de uma armadilha elaborada para capturar um serial killer conhecido como "The Butcher". Esta premissa, que poderia ter sido um suspense psicológico interessante, é completamente sabotada pela execução desastrosa de Shyamalan.

A direção de Shyamalan é confusa e sem foco. O filme parece não saber para onde quer ir, e as tentativas de criar tensão falham miseravelmente. Tudo o que o vilão, Cooper (Josh Hartnett), precisa que aconteça, o roteiro convenientemente faz acontecer, sem nenhuma explicação ou lógica aparente. As coincidências são forçadas a tal ponto que o espectador se sente insultado pela falta de coerência no desenrolar da trama. Não há nada de natural nas ações dos personagens, que parecem ser meros fantoches de um roteiro preguiçoso, onde as motivações são nebulosas e os eventos se desenrolam de maneira absurdamente artificial.

Josh Hartnett, que em outros tempos poderia ter sido uma âncora sólida para o filme, aqui parece perdido em meio ao caos narrativo. Seu esforço é notável, mas ele é tragado pelo abismo que é o roteiro. Ele tenta dar profundidade a Cooper, um pai que, à primeira vista, parece normal, mas que na verdade esconde sua identidade como o assassino "The Butcher". No entanto, o roteiro ruim e as reviravoltas previsíveis o impedem de realmente salvar o filme. Suas interações com a filha Riley (Ariel Donoghue) e com os outros personagens carecem de qualquer nuance emocional ou credibilidade.

O filme parece existir, em grande parte, para promover a carreira musical de Saleka Shyamalan, filha do diretor, que interpreta Lady Raven. Infelizmente, tanto sua atuação quanto suas músicas deixam muito a desejar. As canções, embora claramente criadas para se integrar à narrativa, são genéricas e repetitivas, e sua performance como a cantora pop é superficial. A insistência em colocá-la no centro da ação, tanto como personagem quanto musicalmente, torna-se irritante e transforma o que poderia ser um ponto de apoio emocional no filme em algo insuportável.

A falta de coesão narrativa é exacerbada pela necessidade de Shyamalan de forçar reviravoltas em momentos que, ao invés de surpreender, apenas frustram. Os momentos finais do filme, quando o vilão tenta escapar, são risíveis de tão absurdos. A revelação de que a esposa de Cooper, Rachel (Alyson Pill), orquestrou a armadilha para capturá-lo, culmina em um clímax mal executado e anticlimático. A cena em que Cooper tenta escapar mais uma vez, utilizando uma armadilha secreta em sua casa, beira o ridículo.

Visualmente, o filme também falha em criar o impacto desejado. A cinematografia de Sayombhu Mukdeeprom, que já foi capaz de criar imagens vibrantes em filmes como Me Chame Pelo Seu Nome, é desperdiçada aqui em cenários pouco inspirados e direção de arte genérica. Mesmo com uma equipe de produção competente, Armadilha carece de qualquer identidade visual marcante, algo que costumava ser um ponto forte de Shyamalan em seus melhores dias.

Em resumo, Armadilha é um filme que não tem absolutamente nada para se salvar. A premissa, que prometia um thriller intenso, é diluída por um roteiro sem pé nem cabeça, onde os eventos simplesmente acontecem para conveniência do enredo. Josh Hartnett se esforça, mas é incapaz de superar a mediocridade do texto. Saleka Shyamalan é uma presença insuportável, tanto visual quanto musicalmente, e o filme, no fim das contas, parece mais uma propaganda disfarçada para sua carreira do que uma obra com propósito narrativo. Shyamalan, que há muito tempo nos encantou com reviravoltas inteligentes e atmosfera tensa, parece ter se perdido completamente, entregando uma obra que é insuportável em todos os sentidos possíveis.

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