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setembro 19, 2024

A Chegada (2016)

 


Título original: Arrival
Direção: Denis Villeneuve
Sinopse: Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise Banks, uma linguista especialista no assunto, é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios coloca em risco a vida de Louise e a de toda a humanidade.


Em A Chegada, Denis Villeneuve nos entrega uma ficção científica que tenta, ao mesmo tempo, ser um espetáculo visual e uma narrativa intimista, mas acaba tropeçando em sua própria ambição. A história de primeiro contato com alienígenas, baseada no conto "Story of Your Life" de Ted Chiang, tem todos os elementos para ser uma obra de reflexão sobre linguagem, tempo e comunicação, mas é inflada desnecessariamente pela visão de Villeneuve de que um filme precisa ser grandioso para ser memorável. O resultado é um filme visualmente impressionante, porém emocionalmente diluído, que poderia ter sido um clássico menor, mas impactante, se não fosse a insistência em exagerar.

Um dos pontos mais fortes do filme é a maneira como ele trata o conceito de linguagem e comunicação. A linguista Louise Banks, interpretada com sensibilidade por Amy Adams, é recrutada pelo governo para tentar decifrar a linguagem dos alienígenas que chegaram à Terra. A premissa é instigante e convida o espectador a uma experiência mais cerebral, em que a comunicação não é apenas uma questão de palavras, mas de percepção do mundo. Nesse aspecto, o roteiro de Eric Heisserer é inteligente, evitando os clichês de invasões alienígenas e optando por uma abordagem mais humana e filosófica.

Visualmente, A Chegada é inegavelmente impressionante. A cinematografia de Bradford Young cria uma atmosfera envolvente, quase etérea, com o uso de tons frios e uma iluminação suave que combina perfeitamente com o tema da incerteza e da descoberta. Os cenários, especialmente o interior da nave alienígena, são minimalistas e misteriosos, reforçando a ideia de que o foco deveria ser a comunicação e o entendimento, não o conflito. A trilha sonora de Jóhann Jóhannsson contribui para a imersão, com uma música que é ao mesmo tempo imponente e sutil, sem jamais ofuscar as cenas.

No entanto, é aqui que os problemas começam a surgir. Villeneuve, conhecido por sua grandiosidade visual e por transformar qualquer narrativa em algo monumental, parece incapaz de deixar A Chegada ser o que ela é: uma história sobre pessoas e comunicação. Ele infla a trama com momentos de tensão militar e uma escala desnecessária que tira o foco do elemento mais interessante do filme — a jornada emocional e intelectual de Louise. As cenas que envolvem reuniões militares e discussões geopolíticas entre potências mundiais soam deslocadas, como se fossem uma tentativa de dar ao filme uma importância maior do que a história exige. É um exemplo clássico de "mania de grandeza", onde a simplicidade é sacrificada em nome de uma ambição visual e temática que, no final, pouco acrescenta à narrativa.

Se Denis Villeneuve tivesse confiado mais na força do conto original, A Chegada poderia ter sido um filme mais íntimo, daqueles que permanecem na mente do espectador justamente por sua modéstia e foco. A presença da protagonista, que lida não só com os mistérios alienígenas, mas também com sua própria dor pessoal, deveria ter sido o coração do filme, sem a necessidade de extrapolar para uma escala global. O impacto emocional da revelação sobre a filha de Louise, um dos pontos centrais da trama, é poderoso, mas perde força no meio de todo o aparato grandioso que cerca a história. A estrutura não-linear do filme, que conecta passado, presente e futuro de maneira fluida, é uma das melhores escolhas narrativas, mas também é prejudicada pelo desejo de transformar A Chegada em algo maior do que o necessário.

É claro que Villeneuve é um diretor de talento inegável, e isso fica evidente nos aspectos técnicos de A Chegada. Cada quadro parece meticulosamente pensado, cada som cuidadosamente planejado. No entanto, essa perfeição técnica muitas vezes se sobrepõe à necessidade de um ritmo mais contido e de uma direção mais concentrada na essência do que o filme deveria ser. A comparação com outras obras do diretor, como Blade Runner 2049, é inevitável. Em ambos os casos, Villeneuve parece querer elevar a ficção científica a patamares grandiosos, mas esquece que nem sempre é preciso "agigantar" um filme para torná-lo grandioso. A beleza de uma narrativa como a de A Chegada está na sua capacidade de explorar temas profundos em uma escala menor, mais pessoal.

Em última análise, A Chegada é um filme que flerta com a grandeza, mas que seria muito mais poderoso se fosse menor. A complexidade da comunicação entre humanos e alienígenas é uma metáfora potente para a incompreensão que muitas vezes permeia nossas relações pessoais e políticas, mas essa metáfora perde parte de sua força quando inserida em um contexto tão amplificado. Villeneuve, ao tentar transformar essa história em uma ópera épica de ficção científica, acaba diluindo a experiência emocional do espectador. Um filme mais focado, mais intimista, teria o potencial de se tornar um clássico duradouro da ficção científica, algo que A Chegada vislumbra, mas não alcança.

A tentativa de Villeneuve de criar um filme grandioso, no final, acaba subtraindo da obra seu verdadeiro potencial. A Chegada é uma bela experiência visual e filosófica, mas que se perde em sua ambição desnecessária. Em vez de ser um estudo intimista sobre linguagem, perda e percepção, é inflado a uma proporção que não faz jus à simplicidade que poderia ter sido sua maior virtude. A mensagem está lá, mas a forma como é entregue fica sobrecarregada, tornando o filme uma experiência menos impactante do que poderia ter sido.

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