Terrence Malick é um cineasta polarizador, cujos filmes são frequentemente reverenciados por críticos, mas, para muitos, passam longe de uma experiência cinematográfica satisfatória. A Árvore da Vida (2011) é um exemplo claro desse contraste. Embora tenha sido altamente elogiado por sua ambição e abordagem visual, o filme se revela uma jornada arrastada, pretensiosa e, em última análise, infrutífera, deixando o espectador com mais frustração do que contemplação.
O enredo de A Árvore da Vida é esparso, girando em torno da memória de Jack O'Brien (Sean Penn), que reflete sobre sua infância nos anos 1950, principalmente em relação a seus pais — a mãe amorosa e gentil, interpretada por Jessica Chastain, e o pai rígido e autoritário, vivido por Brad Pitt. A narrativa tenta conectar esses momentos de vida familiar com questões existenciais sobre a criação do universo, a vida e a morte, mas falha em construir qualquer coesão que prenda o interesse ao longo de sua duração.
O maior problema de A Árvore da Vida é sua pretensão. Malick tenta, em quase três horas de filme, abordar o que há de mais profundo e complexo na condição humana, mas o faz de uma maneira que parece desprovida de qualquer senso de narrativa clara. As imagens poéticas de galáxias, dinossauros, e outras sequências grandiosas parecem gratuitas, como se Malick estivesse mais interessado em impressionar com o visual do que em contar uma história. Esse visual não serve para engajar o espectador ou aprofundar os personagens, mas sim criar uma distância emocional que transforma o filme em um exercício enfadonho e desconexo.
Embora o filme seja um desastre narrativo, existem alguns elementos que se destacam positivamente, como as atuações das crianças e, principalmente, de Brad Pitt. Pitt, no papel do pai severo, consegue trazer uma densidade emocional real ao filme, carregando muitas das cenas com uma intensidade que contrasta com a superficialidade do restante da obra. Ele retrata um homem complexo, cuja busca por sucesso e perfeição o leva a tratar seus filhos com uma rigidez sufocante, mas sem deixar de lado a fragilidade emocional que permeia seu personagem. Já as crianças, que desempenham os papéis de seus filhos, também conseguem trazer uma naturalidade impressionante, contribuindo para os poucos momentos de autenticidade emocional que o filme oferece.
Jessica Chastain, por outro lado, é desperdiçada em um papel que não lhe permite explorar sua capacidade como atriz. Sua personagem é idealizada de forma extrema, quase como uma figura angelical, sem qualquer desenvolvimento substancial ou nuance. Malick a utiliza mais como um símbolo da "graça" que ele tenta explorar ao longo do filme do que como uma pessoa real. O resultado é uma performance que parece desprovida de vida, não por culpa de Chastain, mas pela limitação imposta pelo roteiro.
Outro ponto de salvação em A Árvore da Vida é a trilha sonora sublime de Alexandre Desplat. Desplat é um mestre em criar atmosferas sonoras que transcendem a imagem, e aqui ele consegue, mais uma vez, entregar uma composição primorosa. Suas peças musicais têm uma profundidade emocional e uma beleza que, em muitos momentos, são as únicas responsáveis por manter o espectador envolvido com o filme. É como se a trilha carregasse o peso emocional que o próprio roteiro não consegue sustentar. A música de Desplat se ergue como uma obra-prima à parte, proporcionando uma experiência auditiva que poderia, em um filme mais coeso, transformar cenas ordinárias em algo extraordinário.
No entanto, a direção de Terrence Malick, como de costume, é o verdadeiro obstáculo para o filme. Malick é conhecido por sua aversão a narrativas lineares, preferindo visuais impressionistas e uma montagem que beira o caótico. Essa abordagem, que já havia sido testada em Além da Linha Vermelha (1998) e O Novo Mundo (2005), aqui atinge um novo nível de pretensão vazia. Enquanto esses filmes ainda mantinham alguma estrutura e coerência narrativa, A Árvore da Vida se desfaz em fragmentos de reflexões desconexas e visões estilísticas que não levam a lugar nenhum. A lentidão exacerbada do filme também faz com que as poucas cenas emocionalmente impactantes se diluam em um mar de longas pausas e divagações filosóficas genéricas.
Essa insistência de Malick em transformar tudo em uma ode ao sublime frequentemente resulta em um produto desprovido de substância. Filmes posteriores, como Cavaleiro de Copas (2015) e De Canção em Canção (2017), apenas reforçaram a ideia de que o diretor é mais forma do que conteúdo, criando obras visualmente deslumbrantes, mas estruturalmente ocos. São filmes que carecem de alma e autenticidade, elevando a estética acima de qualquer experiência humana ou narrativa que possa tocar o espectador.
Em última análise, A Árvore da Vida é um filme que, apesar de sua ambição e de alguns pontos positivos — como as atuações de Brad Pitt e das crianças, além da trilha magistral de Alexandre Desplat —, fracassa em criar qualquer impacto real. Sua narrativa é diluída, seu ritmo é insuportavelmente lento, e sua pretensão de abordar temas universais resulta em uma experiência emocionalmente vazia. É o tipo de filme que engana pela estética, mas, no final, deixa uma sensação de que a jornada não valeu o tempo investido.
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