The Staggering Girl é um exercício visual que tenta se articular entre o cinema e a moda, trazendo consigo o toque estético já característico de Luca Guadagnino. Produzido em parceria com a grife Valentino, o filme é uma imersão estilística, mas que, lamentavelmente, não encontra uma estrutura narrativa ou emocional consistente para sustentar essa ambição visual. Com apenas 37 minutos de duração, Guadagnino desenrola uma sequência fragmentada de memórias e visões desconexas, onde a forma supera o conteúdo, fazendo com que a obra se perca na própria superfície.
O roteiro, assinado por Michael Mitnick, é uma colagem de cenas que tentam construir uma narrativa sobre Francesca Moretti (Julianne Moore), uma escritora ítalo-americana que retorna à casa de sua mãe em Roma. No entanto, o que poderia ser uma jornada de autodescoberta e resolução de traumas parece estar aprisionado por diálogos pouco reveladores e uma superficialidade que não se justifica. As interações entre Francesca e os personagens coadjuvantes, vividos por atores como Marthe Keller, Mia Goth e Kyle MacLachlan, são distantes e pouco envolventes, criando uma sensação de vazio que dificilmente evoca empatia ou compreensão.
O visual é, sem dúvidas, o elemento mais trabalhado do curta, e o trabalho de direção de fotografia de Sayombhu Mukdeeprom é quase impecável. A paleta de cores e o uso de iluminação conferem a The Staggering Girl uma qualidade quase onírica, com cenas que parecem saídas diretamente de uma revista de alta moda. No entanto, essa beleza se torna rapidamente artificial, como uma vitrine que tenta compensar a falta de profundidade emocional com artifícios visuais. É inegável que Guadagnino tem talento para construir imagens belas e cuidadosamente compostas, mas essas qualidades, isoladas, não são suficientes para preencher o vazio narrativo que permeia o filme.
Um dos aspectos que mais pesa negativamente é a falta de desenvolvimento da protagonista. Francesca é, na melhor das hipóteses, uma figura opaca; suas memórias e sentimentos são abordados de forma tão enigmática e minimalista que o espectador é mantido a uma distância considerável de qualquer conexão emocional. A escolha de fragmentar a narrativa em uma sequência de vinhetas também prejudica a linearidade e dificulta a identificação com o enredo. O filme se esforça para capturar uma essência introspectiva e poética, mas acaba soando mais como um projeto de moda, com diálogos ocasionalmente confusos e sem uma direção clara.
A trilha sonora, composta pelo veterano Ryuichi Sakamoto, oferece um contraste interessante e, em alguns momentos, adiciona um toque de melancolia que poderia funcionar em um contexto mais bem definido. No entanto, mesmo a música parece mal empregada, quase sufocada pela falta de substância que permeia o filme. A impressão que fica é que a trilha sonora tenta evocar um drama mais denso do que aquilo que realmente é apresentado.
Em suma, The Staggering Girl é um trabalho bonito, mas esvaziado de propósito. A obra se assemelha a uma campanha publicitária de alto orçamento, onde o foco está no estilo, mas a essência do que se pretende comunicar fica perdida. A ausência de um enredo que realmente envolva e a utilização de personagens como peças estéticas, em vez de figuras humanas, fazem do filme um exercício frustrante. Guadagnino, ao tentar construir algo que se assemelhe a uma pintura em movimento, acaba criando uma obra que é facilmente admirável, mas não significativa. A tentativa de conciliar moda e cinema poderia resultar em algo inovador, mas The Staggering Girl prova que a estética, quando desprovida de alma, torna-se uma casca vazia.