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agosto 29, 2024

Trama Fantasma (2017)

 


Título original: Phantom Thread
Direção: Paul Thomas Anderson
Sinopse: Nos anos 1950, Reynolds Woodcock é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril, para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que, constantemente, entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma, que vira sua musa e amante.


Paul Thomas Anderson, diretor renomado por filmes que exploram o interior dos personagens e suas complexas relações humanas, nos entrega em Trama Fantasma uma obra que combina elegância e intensidade. Situado na Londres dos anos 1950, o filme é centrado no excêntrico e perfeccionista estilista Reynolds Woodcock (interpretado por Daniel Day-Lewis), cuja vida ordenada e meticulosamente controlada sofre uma reviravolta ao conhecer Alma (Vicky Krieps), uma jovem de espírito livre que desafia seu controle. Mais do que uma narrativa sobre moda, Trama Fantasma é um estudo psicológico sobre a dinâmica do poder, obsessão e amor tóxico, envolto em uma estética impecável que eleva a experiência cinematográfica.

Um dos maiores destaques do filme é, sem dúvida, a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, que não só complementa a narrativa, mas a enriquece com uma intensidade emocional profunda. Greenwood, que já havia colaborado com Anderson em filmes anteriores, atinge um novo nível de excelência em Trama Fantasma, criando uma trilha orquestral que captura a tensão e a beleza do mundo de Reynolds e Alma.

A música de Greenwood age quase como um personagem adicional no filme, intensificando cada cena com uma sutileza notável. Desde os momentos mais delicados até os mais dramáticos, a trilha eleva o tom do filme, refletindo as camadas complexas das emoções dos personagens. As composições para piano e cordas são especialmente marcantes, preenchendo o ar com uma sensação de nostalgia e sofisticação que dialoga diretamente com o cenário de alta costura da época. A trilha funciona não apenas como acompanhamento, mas como um eco das personalidades controladoras e obsessivas de Reynolds, ao mesmo tempo que revela as vulnerabilidades ocultas por trás de sua fachada de perfeição.

Outro elemento que brilha em Trama Fantasma é a fotografia, supervisionada pelo próprio Paul Thomas Anderson, que dispensa um diretor de fotografia oficial. O estilo visual do filme é extremamente refinado, e cada quadro parece cuidadosamente desenhado, assim como os vestidos criados por Reynolds. Há uma estética clássica permeando toda a obra, com uma paleta de cores que ressalta os tons suaves e neutros, sem abrir mão de uma profundidade emocional intrínseca.

A luz natural é usada com maestria, especialmente nas cenas dentro da casa e do ateliê de Woodcock, que se tornam quase uma extensão da personalidade do protagonista. O controle visual reflete a rigidez com que ele governa seu mundo, e essa estética rígida é ocasionalmente rompida pelos contrastes sutis, especialmente nos momentos em que Alma começa a desafiar as regras. A câmera de Anderson é precisa, focando nos detalhes das costuras, dos gestos e das expressões mínimas dos personagens, fazendo com que até mesmo um simples olhar ou o ato de ajustar um vestido se torne carregado de significado.

Seria impossível falar sobre Trama Fantasma sem mencionar a excelência do figurino, que desempenha um papel vital na construção da narrativa. Os trajes não são apenas belos de se ver, mas também funcionam como uma extensão da psicologia dos personagens. Reynolds, um homem obcecado pela perfeição e pelo controle, encontra nos vestidos que cria uma forma de expressar seu poder e seu desejo por ordem. No entanto, à medida que a relação entre ele e Alma se desenvolve, esses trajes começam a refletir a luta de poder entre eles.

Os vestidos, desenhados pela figurinista Mark Bridges, são absolutamente deslumbrantes, e capturam perfeitamente a opulência e o glamour da alta costura dos anos 1950. A atenção aos detalhes é impressionante, desde os tecidos luxuosos até os bordados intrincados, que servem como uma metáfora visual para as complexas relações tecidas ao longo da trama. Cada peça de roupa parece uma obra de arte viva, moldada não apenas pela estética, mas pelas emoções reprimidas e pela tensão que atravessa o filme.

No centro dessa história está Daniel Day-Lewis, que, em sua suposta última atuação, entrega uma performance contida e profundamente calculada. Seu Reynolds é ao mesmo tempo fascinante e repelente, um homem cuja genialidade é inegável, mas cuja incapacidade de se conectar emocionalmente torna-o trágico. Day-Lewis constrói um personagem complexo, cujo silêncio e gestos mínimos falam mais do que palavras. Cada movimento seu, seja ajustando um vestido ou movendo uma colher de chá, é carregado de significado. Vicky Krieps, por sua vez, é o contraponto perfeito, trazendo uma leveza inicial que logo se transforma em uma força silenciosa capaz de abalar o mundo de Reynolds. A relação entre eles, marcada pela manipulação e interdependência, é o coração do filme, e suas interações são fascinantes de assistir.

Lesley Manville, como Cyril, a irmã de Reynolds, é igualmente brilhante. Sua personagem é uma presença constante, rígida e fria, mas com nuances que revelam uma compreensão profunda dos mecanismos que sustentam o mundo de seu irmão. Ela é a figura que garante que a ordem seja mantida, mas também é capaz de ver quando essa ordem está em risco.

O roteiro de Paul Thomas Anderson, assim como a direção, é meticuloso e profundamente psicológico. Trama Fantasma não é um filme de grandes reviravoltas ou explosões dramáticas, mas de sutilezas. Cada interação entre os personagens é carregada de subtexto, e o que não é dito muitas vezes tem mais impacto do que as palavras. A narrativa explora temas como o controle, a obsessão e a necessidade humana por conexão, de uma forma quase claustrofóbica.

A estrutura do filme é lenta, mas intencionalmente construída para que cada momento seja uma peça de um quebra-cabeça emocional. Anderson desafia o espectador a ler nas entrelinhas, a observar as camadas escondidas sob a superfície polida de seus personagens, especialmente no jogo psicológico entre Reynolds e Alma, que se desenrola de forma quase invisível, mas sempre presente.

Trama Fantasma é uma obra de arte cinematográfica que se destaca pela sua sofisticação técnica e emocional. Desde a trilha sonora envolvente de Jonny Greenwood até a fotografia meticulosa e o figurino luxuoso, o filme é uma experiência visual e auditiva que se entrelaça com uma narrativa densa e provocativa. Através das atuações sutis, mas poderosas, e da direção precisa de Anderson, o filme explora as profundezas da psique humana e as dinâmicas do poder nas relações de uma maneira elegante e inesquecível. É um filme que exige paciência e atenção, recompensando aqueles que mergulham em seus detalhes com uma experiência rica e gratificante.

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