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agosto 28, 2024

Oppenheimer (2023)

 


Título original: Oppenheimer
Direção: Christopher Nolan
Sinopse: A história do físico americano J. Robert Oppenheimer, seu papel no Projeto Manhattan e no desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial, e o quanto isso mudaria a história do mundo para sempre.


Christopher Nolan retorna com mais uma de suas produções grandiosas em Oppenheimer (2023), um filme que busca retratar a vida de J. Robert Oppenheimer, o físico responsável pela criação da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, como muitos dos filmes de Nolan, Oppenheimer sofre com os mesmos problemas que permeiam suas obras anteriores: um excesso de pretensão, uma narrativa inchada e uma tentativa frustrada de combinar múltiplos gêneros sem coesão.

Em termos de duração, Oppenheimer peca por ser um filme incrivelmente longo, o que compromete a fluidez da narrativa. Ao invés de construir uma tensão crescente ou de proporcionar um aprofundamento significativo na vida do personagem título, o filme se arrasta, estendendo-se por mais de três horas. Esse tempo exagerado não só cansa o espectador, mas também dilui o impacto que a história poderia ter tido se fosse contada de maneira mais concisa. O resultado é uma obra enfadonha, com um anticlímax que deixa o público desapontado ao final.

A trilha sonora de Ludwig Göransson, colaborador frequente de Nolan, também não ajuda. Assim como em Interestelar (2014), a trilha parece invasiva e fora de lugar. As composições são grandiosas, mas sem sutileza, e acabam parecendo mais adequadas para fundos de stories e reels do Instagram do que para um filme que deveria ser um drama histórico de peso. Em vez de intensificar a narrativa, a música soa exagerada e distraída, atrapalhando a imersão do espectador na história. A trilha sonora falha em criar a ambientação emocional necessária para a história de Oppenheimer e seu impacto global.

A própria história, que deveria ser o centro emocional e narrativo do filme, é contada de maneira confusa e sem foco. O filme se vende como uma biografia de Oppenheimer, mas falha em capturar a profundidade e complexidade do personagem. Ao longo das três horas de exibição, pouco se revela sobre as motivações internas do físico, o que o transforma em um personagem entediante e difícil de se conectar. A oportunidade de explorar o peso emocional e psicológico de ser o “pai da bomba atômica” é perdida, resultando em um retrato superficial que não faz jus à relevância histórica do personagem.

Além disso, Oppenheimer falha em desenvolver adequadamente a narrativa em torno da bomba atômica em si. Para um filme que deveria tratar de um dos eventos mais impactantes do século XX, Nolan oferece muito pouco em termos de reflexão sobre a bomba, seu desenvolvimento ou as consequências morais de seu uso. O público que entra no cinema esperando uma abordagem mais intensa sobre o Projeto Manhattan e suas repercussões se vê frustrado por um enredo que parece se dispersar em subtramas políticas e pessoais que não conseguem se conectar de maneira satisfatória.

Em termos de abordagem política, Nolan escolhe uma linha que pode ser considerada, no mínimo, polêmica. O filme se posiciona como uma defesa disfarçada da esquerda política, apresentando os comunistas da época de maneira suavizada, quase vitimizada. Em diversos momentos, os personagens comunistas são retratados como “coitadinhos”, como se suas motivações fossem sempre puras e nobres. Oppenheimer, que teve suas ligações com o comunismo exploradas durante o Macartismo, é tratado de forma extremamente benevolente. Essa abordagem acaba por distorcer os fatos históricos, retirando a ambiguidade moral que torna a história real de Oppenheimer tão interessante.

A crítica ao capitalismo e ao sistema político americano durante a Guerra Fria é feita de maneira rasa e previsível, sem grandes insights ou complexidade. Nolan parece indeciso se quer fazer uma biografia de Oppenheimer, um filme político ou uma reflexão filosófica sobre o poder destrutivo da ciência. No final, não consegue ser nenhum dos três. O filme se perde em sua própria grandiosidade, sem se aprofundar em nenhum desses aspectos de maneira satisfatória. O resultado é uma narrativa confusa que não sabe a que veio.

Visualmente, o filme tem momentos impactantes, principalmente nas cenas que envolvem o teste da bomba em Los Alamos. A cinematografia de Hoyte van Hoytema, que colabora frequentemente com Nolan, é competente e oferece algumas tomadas visualmente deslumbrantes, especialmente nos momentos de maior tensão. No entanto, as belas paisagens e os efeitos especiais não são suficientes para compensar a falta de profundidade no enredo e a caracterização rasa dos personagens.

Em termos de ritmo, o filme tem momentos que parecem promissores, mas são rapidamente seguidos por cenas que parecem não ir a lugar nenhum. A narrativa se torna repetitiva e monótona, com diálogos longos e pouco dinâmicos, que minam qualquer senso de urgência ou de desenvolvimento emocional dos personagens. Nolan tenta infundir complexidade em uma história que, ao contrário de suas pretensões, é simples e direta. Essa tentativa de complicar a narrativa acaba prejudicando o filme, que se arrasta sem uma direção clara.

Em resumo, Oppenheimer é um filme que falha em quase todos os aspectos. Sua duração excessiva, narrativa confusa, e uma trilha sonora exagerada fazem com que a obra se torne um fardo para o espectador. Nolan, conhecido por suas abordagens ambiciosas, mais uma vez se perde em sua própria grandiosidade, esquecendo-se do que realmente importa: contar uma boa história. Oppenheimer poderia ter sido uma reflexão poderosa sobre a ciência, a moralidade e as consequências da bomba atômica, mas se transforma em um filme inchado e superficial. Mesmo sendo o "menos pior" dos filmes de Nolan, ele ainda carrega os mesmos problemas que afetam toda a filmografia do diretor.

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