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agosto 27, 2024

O Homem do Norte (2022)

 


Título original: The Northman
Direção: Robert Eggers
Sinopse: Baseado na obra de Shakespeare, Hamlet, e na lenda viking de Amelth. No ano de 914, o príncipe Amleth (Alexander Skarsgård) testemunha o brutal assassinato de seu pai, Horvendill (Ethan Hawke) por seu tio, Fjölnir (Claes Bang). O menino foge mas jura que voltará para vingar seu pai, salvar sua mãe e matar seu tio. Vinte anos depois conhece uma vidente que o lembra que é chegada a hora de cumprir sua promessa.


Robert Eggers emergiu como uma força no cinema moderno, conhecido por suas visões singulares e seu comprometimento com a precisão histórica. No entanto, O Homem do Norte (2022) marca um ponto de inflexão, onde o diretor, antes elogiado por sua ousadia e autenticidade, se perde em clichês e repetição. A história de vingança viking, embora visualmente impressionante, não escapa do desgaste que o próprio tema já sofreu nos últimos anos, especialmente com o sucesso prolongado da série Vikings. O resultado é um filme que, apesar de alguns méritos técnicos, acaba sendo tedioso e exaustivamente previsível.

Desde o primeiro momento, o filme já apresenta os elementos familiares: um jovem príncipe exilado (Alexander Skarsgård) jura vingar a morte do pai e reconquistar seu reino. Essa narrativa, arquetípica e repetida à exaustão na ficção viking, não oferece nenhuma novidade. O desejo de Eggers de se manter fiel aos mitos e sagas nórdicas é evidente, mas o problema está na ausência de frescor. A história já foi contada de diversas maneiras e, infelizmente, aqui não há nada que a diferencie. O espectador já sabe o que esperar, e o filme falha em surpreender ou provocar reflexões mais profundas. Ao tentar enfiar complexidade em uma trama que, em sua essência, é simples, o filme acaba se arrastando, sem conseguir atingir o impacto emocional desejado.

Em termos visuais, O Homem do Norte explora amplamente as paisagens da Islândia. Montanhas geladas, campos desolados e neblinas espessas servem como pano de fundo para a jornada de vingança do protagonista. No entanto, essas paisagens, outrora deslumbrantes, já não causam o mesmo efeito de encantamento. A Islândia, que nos últimos anos se tornou cenário recorrente em filmes e séries, começa a parecer cansativa, quase previsível em sua beleza. A exaustão visual é palpável, e a fotografia que deveria evocar grandiosidade e mistério acaba por parecer apenas mais do mesmo. A beleza natural da Islândia perde seu impacto quando constantemente reutilizada, e, neste filme, o que poderia ser um elemento atmosférico crucial se torna uma escolha banal.

A trilha sonora de Robin Carolan e Sebastian Gainsborough é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. Ela traz um peso dramático e uma intensidade ritualística que casa bem com a brutalidade e o misticismo da narrativa. No entanto, mesmo a música, por mais bem executada que seja, não é suficiente para salvar o filme da monotonia. A familiaridade com os sons nórdicos – tambores, coros guturais e cânticos ancestrais – também já se tornou algo esperado, e enquanto a trilha cumpre seu papel de amplificar as emoções, ela não oferece nada além do que já se ouviu antes em produções similares.

O filme sofre também com sua duração. Com quase duas horas e vinte minutos, O Homem do Norte se estende além do necessário. A narrativa poderia ter sido enxugada sem perder sua essência, mas ao tentar adicionar camadas de complexidade à história simples de vingança, o ritmo se torna arrastado. Há cenas que parecem excessivas, diálogos que se repetem em temas e simbolismos que, ao invés de enriquecerem a trama, apenas sublinham o óbvio. Essa sensação de repetição e lentidão faz com que o espectador perca o interesse, tornando a experiência exaustiva ao invés de imersiva.

Outro aspecto decepcionante é a presença de Björk no elenco. Conhecida por sua excentricidade, a cantora islandesa interpreta uma vidente, mas sua atuação deixa a desejar. Na verdade, Björk não atua – ela simplesmente está lá, como Björk. Com maquiagem elaborada e uma presença enigmática, sua performance parece mais uma extensão de sua persona pública do que uma verdadeira contribuição ao filme. Sua presença no elenco parece mais uma jogada de marketing, destinada a atrair curiosidade e público, do que uma escolha artística genuína. E, enquanto ela certamente traz um elemento de estranheza à cena, isso não é suficiente para compensar a superficialidade de sua interpretação.

Eggers, um diretor conhecido por sua precisão histórica e cuidado com os detalhes, parece, aqui, ter se deixado levar pela grandiosidade da produção. O que funcionou em seus filmes anteriores, como A Bruxa e O Farol, era a intimidade das narrativas e o controle sobre a tensão e o medo psicológico. Em O Homem do Norte, essa intimidade é substituída por uma grandiosidade artificial, que acaba por diluir o impacto emocional. A tentativa de explorar as mitologias vikings em uma escala épica soa forçada, e o resultado é um filme que, por mais bem produzido que seja, carece da alma e do frescor dos trabalhos anteriores de Eggers.

Em última análise, O Homem do Norte acaba caindo na armadilha de se tornar apenas mais uma história de vikings, em uma época saturada por narrativas semelhantes. O desgaste do tema é evidente, e o filme não oferece nada de novo ou interessante para reverter essa saturação. Embora existam momentos de beleza visual e uma trilha sonora competente, esses elementos são ofuscados por uma narrativa cansada, performances questionáveis e uma duração excessiva. Robert Eggers, que já demonstrou ser um cineasta talentoso, infelizmente tropeça aqui ao tentar transformar uma história simples em algo que ela não é.

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