120 Batimentos por Minuto, dirigido por Robin Campillo, mergulha no ativismo do grupo ACT UP, uma organização que lutou pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/AIDS na Paris dos anos 1990. A proposta do filme é reviver uma época de luta e desespero, marcada pela negligência do governo, da sociedade e das indústrias farmacêuticas em relação à epidemia de AIDS. O longa, no entanto, embora tenha sido aclamado em muitos círculos, falha em trazer uma abordagem inovadora ou instigante, repetindo temas que, ao longo dos anos, se tornaram previsíveis e cansativos dentro do gênero.
Não há dúvida de que o contexto histórico do filme é relevante, mas ele se insere em uma longa linha de produções que já exploraram extensivamente a questão da AIDS e o impacto no meio gay. Embora seja inegável a importância do debate sobre saúde pública, 120 Batimentos por Minuto acaba reforçando uma fórmula já desgastada, sem adicionar novas camadas ao tema. É uma repetição de dramas anteriores que colocam a doença como eixo central de sua narrativa, focando na dor, na luta e no sofrimento, sem trazer uma abordagem renovadora.
Além disso, o filme perpetua o estereótipo do gay promíscuo, algo que, em pleno século XXI, parece ultrapassado e até contraproducente para a própria comunidade que ele pretende representar. As cenas de sexo entre desconhecidos, mostradas de maneira repetitiva e explícita, soam como uma escolha que reforça a imagem estereotipada do comportamento sexual excessivo, em vez de enriquecer a narrativa com a profundidade emocional ou a complexidade dos personagens. Ao apresentar os personagens quase sempre através de suas ações sexuais, o filme deixa de lado o potencial de criar figuras multifacetadas que poderiam cativar o espectador de maneira mais significativa.
Um dos aspectos mais desconfortáveis de 120 Batimentos por Minuto é a forma como as cenas sexuais são tratadas. A explicitude pode até ter um objetivo dramático de choque, mas o filme ultrapassa o limite ao fazer disso um elemento recorrente, e não um aspecto pontual. A sensação de exagero é reforçada pela repetição de encontros íntimos entre desconhecidos, o que pode fazer o espectador se perguntar se todas essas cenas são realmente necessárias para contar a história que o filme se propõe a explorar. Em vez de criar uma atmosfera emocional ou reflexiva, essas cenas parecem existir apenas para provocar e causar desconforto.
Essa repetição também contribui para o que parece ser uma tentativa forçada de chocar o público, mais do que narrar uma história de maneira significativa. As cenas de ativismo e protestos — que poderiam ter sido o coração pulsante da narrativa — são frequentemente eclipsadas pela fixação na vida sexual dos personagens, tornando o filme cansativo e desnecessariamente repetitivo. Há uma sensação de que o filme tenta se equilibrar entre o drama político e a crônica sexual, mas acaba falhando em ambos os aspectos.
Outro ponto que não colabora para o envolvimento do espectador é a trilha sonora. O filme utiliza músicas que já foram exaustivamente associadas ao contexto gay ou à narrativa de luta contra a AIDS. Em vez de dar frescor à narrativa, essas escolhas parecem clichês e deslocadas, contribuindo para a sensação de que o filme está preso a um modelo ultrapassado. As batidas da música eletrônica, que deveriam impulsionar o ritmo e dar um senso de urgência à narrativa, soam batidas e cafonas, transformando momentos que poderiam ser emocionantes em sequências previsíveis e desprovidas de impacto.
A trilha sonora é, de certa forma, uma metáfora para o próprio filme: uma repetição de fórmulas que já foram usadas à exaustão em produções anteriores. Se a intenção era evocar a atmosfera da época, o resultado final não consegue ir além da superfície e acaba por contribuir para a experiência arrastada do filme.
Os personagens de 120 Batimentos por Minuto também não ajudam a criar uma conexão emocional com o espectador. Muitos deles são construídos com base em estereótipos já vistos em outras produções sobre o tema. Ao invés de oferecerem complexidade ou nuances, os protagonistas são apresentados de forma óbvia e, em alguns casos, irritantes. O protagonista, por exemplo, é quase sempre apresentado como um mártir da causa, sem que o filme explore de maneira mais profunda suas motivações ou seus dilemas internos.
Esse tipo de construção torna difícil para o público criar empatia com os personagens. Em vez de sentir a urgência de sua luta, muitas vezes o espectador se encontra distanciado, quase torcendo para que as tragédias anunciadas ocorram logo, libertando-o da experiência tediosa que o filme proporciona. A morte, que deveria ser o ponto culminante de uma narrativa emocionalmente carregada, acaba sendo recebida com apatia, tamanho o desinteresse que o filme gera ao longo de suas duas horas e vinte minutos.
120 Batimentos por Minuto é uma tentativa frustrada de recontar uma história que já foi explorada à exaustão. A promessa de um filme com uma narrativa relevante sobre a luta pela sobrevivência e pelos direitos civis é rapidamente diluída por escolhas artísticas que se repetem, cenas desnecessárias e uma trilha sonora sem inspiração. Ao invés de proporcionar uma reflexão profunda ou uma experiência emocional envolvente, o filme se arrasta por temas cansativos e uma abordagem que soa, em muitos momentos, provocativa por pura provocação.
A crítica ao sistema de saúde e à negligência governamental são questões importantes, mas a insistência em retratar os personagens de maneira unidimensional e estereotipada impede que o filme alcance seu potencial. No fim das contas, 120 Batimentos por Minuto acaba sendo mais um exemplo de como a repetição de temas sem inovação pode transformar um tópico de grande importância em uma experiência cinematográfica exaustiva e desinteressante.
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