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outubro 26, 2006

Olhar Estrangeiro (2006)

 


Título original: Olhar Estrangeiro
Direção: Lúcia Murat
Sinopse: Baseado no livro de Tunico Amâncio, O Brasil dos Gringos, o documentário mostra a visão de diretores, roteiristas e atores internacionais sobre o Brasil, procurando desvendar os clichês que o cinema internacional perpetua a respeito do país.


Incrivelmente divertido. É o mínimo que se pode dizer desse mais novo exemplo de como o Brasil anda bem em termos de cinema documental. Olhar Estrangeiro traz um tema interessante e de conhecimento geral de 100% da população: o Brasil. Não como ele é, mas como os outros pensam que ele é.

Contando com entrevistas com atores e diretores internacionalmente reconhecidos, desde Jon Voight e Michael Caine ao diretor Zalman King (de Orquídea Selvagem), Lúcia Murat nos leva a um Brasil que existe somente na cabeça dos ‘gringos’. É realmente impressionante ver como alguns REALMENTE pensam (ou pensaram, antes de conhecer o país) que aqui as pessoas esquiam em jacarés, que o topless é lei nas praias do Rio de Janeiro, ou como se pensa que no Brasil ninguém trabalha. É, doze meses de férias.

Além dos diretores e atores envolvidos em produções cujo personagem principal era o Brasil, o enxuto e conciso documentário de Murat é permeado com depoimentos de pessoas desconhecidas, dos Estados Unidos, França e Suécia. O delírio deles é a nossa realização. Por muitas vezes o filme deixa de se tratar de um documentário para entrar no gênero comédia de cabeça, nos mostrando cenas bizarras dos mais variados tipos de filmes rodados no Brasil. Ou, como ficamos sabendo, muitas dessas produções que se passam nesse país não foram de fato filmadas aqui, e sim em lugares como a Flórida. As cenas citadas vão desde as conhecidas do grande público no trash-hit com Jon Voight e Jennifer Lopez, Anaconda, até imagens de Orson Welles, que foi o único cineasta que realmente se importou em filmar a realidade mas que, ironicamente, nunca teve seu filme finalizado.

Muito interessante é também ver a cara dos diretores, produtores e atores envolvidos nessas produções quando ficam sabendo da ‘terrível verdade’. Alguns reagem de forma meio arrogante, não voltando atrás em momento algum acerca de suas decisões do passado, enquanto outros morrem de rir ou ficam até mesmo envergonhados.

Certamente eles têm na cabeça o Brasil que os próprios brasileiros venderam (e continuam vendendo) para os outros países há séculos. E para isso infelizmente não há remédio. Enquanto isso, ficamos aqui nos divertindo com a ignorância alheia. Afinal, não é todo dia que se houve: “venha comigo para São Paulo para pegarmos uma praia.” Que país é esse?