O primeiro plano de Free Zone já diz tudo sobre o que será o filme. Longuíssimo, escutamos a uma música tradicional judaica enquanto vemos uma Natalie Portman chorando, olhando através de uma janela de um carro. O tempo, chuvoso. Nossas mentes, chuvosas.
Free Zone não foi feito para ser tragado pelo público em geral. Aliás, é para bem poucos. O novo trabalho do aclamado diretor israelense Amos Gitai conta o que primeiramente achamos se tratar de uma história simples: Hanna ben Moshe, que dirige um táxi, vai com uma americana perdida em seus sentimentos (Natalie Portman) para a Jordânia a fim de cobrar uma dívida. Provenientes de outro filme de Gitai, Alila, os personagens Hanna e Moshe (seu marido), têm negócios com a Jordânia (inclusive Free Zone foi o primeiro filme israelense a ser rodado na Jordânia). Obviamente uma americana iria atrapalhar as coisas.
Com algumas cenas tensas espalhadas em sua hora e meia, como a travessia da fronteira e depois as causas do não-pagamento da dívida, captam o interesse do espectador. Mas, como disse, o filme não é de interesse geral, desprovido de trilha sonora e inevitavelmente causa sono em certos momentos.
Após a chegada na Jordânia, Free Zone se concentra em nos mostrar a união e desunião (sim, ao mesmo tempo) de diferentes mulheres. Seja Hanna com Rebecca (Portman) ou com Leila (Hiam Abbass), conhecida como ‘a mulher do Americano’, que deveria pagar a dívida a Hanna ben Moshe. Mesmo o espectador sabendo que se trata de uma situação tensa, em vários pontos temos um humor discreto porém importantíssimo nesses relacionamentos e diálogos incrivelmente bem pensados.
O ponto alto de Free Zone é certamente a interpretação de Hana Laszlo (Hanna ben Moshe), uma atriz fenomenal que consegue nos fazer sentir à vontade mesmo se estivéssemos em problemas numa região fronteiriça israelense. Mas a partir de certo momento, Free Zone deixa de funcionar como deveria. Ao mostrar cenas do passado – Rebecca pensando – sobrepondo imagens do ‘pensamento’ dela com a viagem atual ao lado de Hanna, infindáveis planos, com a pequena presença de Carmen Maura, infelizmente desperdiçada aqui, o espectador definitivamente se cansa de ver aquilo.
Mais mal aproveitado é o encontro de todos com o Americano. Não vou contar o final do filme, mas também não seria nada demais. Assim como Free Zone começa, ele termina: no nada. O clímax é atingido no meio do longa e depois a tensão e emoção descem até atingir o nulo. No final das contas, saímos da sala de cinema com um sentimento de vazio. Mas vale a experiência só pelo gostinho de ver Hanna ben Moshe se aventurando perdida pelas estradas da desértica e pobre Jordânia.