Páginas

março 01, 2006

O Fim e o Princípio (2005)

 


Título original: O Fim e o Princípio
Direção: Eduardo Coutinho
Sinopse: O documentário registra o cotidiano e as histórias dos moradores da pequena São João do Rio do Peixe, na Paraíba. Por meio de depoimentos, o filme retrata o sentimento de uma população humilde que esbanja alegria e esperança, além de apresentar as nuances de um nordeste de alma densa e fecunda.


Não seria correto afirmar que um dos mestres do cinema brasileiro, Eduardo Coutinho, “não é o mesmo de antes” ou “perdeu a forma”. Só se, obviamente, isso se tratar de algo muito repentino. Desde seus tempos de Rede Globo – ele sendo, aliás, uma das únicas coisas que eram boas em toda a história da péssima emissora – passando pelo Globo Repórter, ele nos tem presenteado com verdadeiras pérolas da arte do documentário. Um de seus grandes trabalhos com certeza foi Edifício Master, recentemente lançado em DVD duplo nas locadoras. Um trabalho magnífico de análise social que vale a pena ser visto.

Talvez o sucesso tenha subido à cabeça de Coutinho. Seu novo longa, O Fim e o Princípio, conta com a mesma premissa abordada em Edifício Master, com a mudança de que o filme não contaria com nenhuma espécie de roteiro previamente desenvolvido. Essa ideia poderia tranquilamente seguir adiante se não fosse o constante problema que o diretor apresenta com a edição de seus filmes. Parece que tudo o que é filmado é colocado na edição final do filme, sem cortes.

Se em partes de Edifício Master o público conseguia dar uns bons bocejos, isso é palavra de ordem em O Fim e o Princípio. A história não deixa de ser tão interessante quanto a do filme anterior, mas o público é derrotado pelos 110 minutos de documentário, mesmas pessoas e paisagens áridas do interior da Paraíba.

Teimo em dizer que o tempo ideal de um documentário beira, no máximo, uns 80 ou 90 minutos. É tempo suficiente para se contar tudo o que quer e mostrar tudo que se pensa. Documentários mais longos que isso tendem a ser enfadonhos e a não receberem boa resposta do público. Com a exceção de Fahrenheit 11 de Setembro (que não se trata de um documentário, e sim uma propaganda tendenciosa), que conta com mais de duas horas de projeção e, mesmo assim, foi o maior sucesso comercial na história do cinema documental, os últimos filmes do gênero que tenho assistido e se mostrado excelentes possuem menos de uma hora e meia, como o brasileiro A Pessoa É Para o Que Nasce e o francês A Marcha dos Pinguins, cada um com 85 minutos.

Pode parecer simples e superficial dizer isso, mas sim, a extensão de O Fim e o Princípio é a condenação do longa-metragem. As histórias das pessoas simples (e idosas) paraibanas são muito interessantes, com bons momentos aqui e ali espalhados por todo o filme. Se fosse editado da forma correta, com certeza seria mais um dos melhores (e inovadores, aí sim funcionando a proposta do diretor de “não haver direção ou roteiro”) documentários brasileiros dos últimos tempos.