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fevereiro 17, 2006

Ponto Final: Match Point (2005)

 


Título original: Match Point
Direção: Woody Allen
Sinopse: O instrutor de tênis Chris Wilton se casa com a jovem Chloé para conseguir um cargo na empresa do sogro milionário, mas começa a traí-la com Nola Rice, a sensual noiva americana do cunhado, que ameaça expor o romance.


Woody Allen chega ao seu quadragésimo longa-metragem. Aclamado internacionalmente, indicado ao Oscar. Definitivamente não seria o ‘normal’ para Allen. E não é. Tudo o que vemos em Ponto Final é, a princípio, uma simples (e ao mesmo tempo complexa) história de amor, num triângulo amoroso que, inevitavelmente, pede por um grandioso clímax.

Devo dizer que é frustrante não somente não ter Woody aparecendo na tela, mas sua direção também é frustrante, especialmente para quem conhece (e gosta) do trabalho anterior do diretor ultra-novaiorquino. Para quem não se importa com isso, Ponto Final pode representar uma experiência e tanto. Allen não está muito à vontade fora de sua habitual Nova York, isso é certo. Por vezes o filme se parece mais com um vídeo demonstrativo do ‘como Londres é cool’ do que o filme introspectivo que se propõe a ser.

Ainda de acordo com minhas crenças, indicado ao Oscar significa qualidade  duvidosa. Não vou rotular Ponto Final como sendo ruim. Decididamente não é. Mas é um trabalho mediano e nada mais. Ok, Woody Allen finalmente mudou de história depois de quarenta anos. Bem, nem tanto. É a mesma história de amor, pelo menos na maior parte do filme, só que em Londres e não em Nova York.

Ponto Final ainda seria um pouco mais autoral e lógico se terminasse com um final... lógico. Sim, porque o estilo de filme nos propõe um tipo de finalização que não ocorre. E o plot-twist que deveria agradar ao espectador acaba por se demonstrar inverossímil. Passamos mais de uma hora conhecendo os personagens, nos entediando com várias cenas praticamente ‘repetidas’ para depois sermos jogados em personagens que ‘mudam de personalidade’ de repente. O pacífico Chris (Jonathan Rhys Meyers) de repente se transforma. Até mesmo a insossa Nola (Scarlet Johansson) começa a ser uma outra pessoa.

Enfim, no momento em que passamos a acreditar nos personagens, eles se  revelam outras pessoas, coisas impossíveis passam a acontecer e coisas do gênero. Certamente esse terceiro ato de Ponto Final é mais interessante que tudo o que nos foi apresentado anteriormente. Mas infelizmente tem um roteiro que se torna risível às vezes por seus diálogos-clichês mal colocados em personagens pessimamente construídos, como já mencionado, interpretados por um time de atores e atrizes sem competência. Todos têm a mesma cara, seja amando ou odiando. E isso não é um legítimo Woody Allen que valha aqueles clássicos créditos em preto com uma típica música novaiorquina de fundo. Volte para Nova York, Woody.

Bambi 2: O Grande Príncipe da Floresta (2006)


Título original: Bambi II
Direção: Brian Pimental
Sinopse: A história de Bambi crescendo sob os cuidados de seu pai, o Grande Príncipe da Floresta.


Longe de se parecer com qualquer uma das novas produções da Disney, Bambi 2: O Grande Príncipe da Floresta segue a fórmula de sucesso dos antigos sucessos do estúdio. É com gosto que fui ao cinema ver um filme em animação tradicional, um entre muitos blockbusters de computação gráfica que tomam conta dos cinemas nos últimos anos.

Certo, mesmo que todos saibam que as animações clássicas tradicionais da Disney sempre funcionaram, a mesma Disney é conhecida por ser péssima em produzir uma continuação de qualquer filme de forma "decente". São exemplos os decepcionantes O Rei Leão 2: O Reino de Simba ou Toy Story 2. O que dizer sobre uma continuação de um filme lançado originalmente há 64 anos atrás?

Tinha tudo pra dar errado. Tudo mesmo. Mas Bambi 2 é um acerto. A história do veadinho que perde a mãe atinge todas as faixas etárias, desde pessoas com quase 80 anos que eram crianças à época do lançamento até os mais jovens, como eu, que viram o filme nos cinemas em um de seus diversos relançamentos, ou em DVD (recentemente lançado em edição dupla especial pela Buena Vista).

Assim como o longa anterior, Bambi 2 não tem uma história em si. É menos trágico, claro, afinal, se mais alguém morresse, com certeza o personagem Bambi seria o personagem de animação mais dramático da história do Cinema. Bambi 2 é um filme singelo, que vale mais a pena para revermos os personagens tão queridos do passado antes de querermos analisá-lo como um filme sozinho, com uma história plausível e interessante.

O pai de Bambi, o Grande Príncipe, tenta achar uma nova ‘mãe’ para Bambi, visto que ele tem muitos afazeres em suas fiscalizações na floresta e não tem tempo para cuidar de seu filho. E a historinha é somente sobre as artes que Bambi e seus amigos (os cativantes Tambor e Flor, em especial) fazem durante esse tempo. E, obviamente que o pai de Bambi começa a se afeiçoar ao filho. Algumas cenas de ação, do pavor causado pelo Homem (certamente um dos maiores inimigos do Cinema, eleito até mesmo pelo American Film Institute como tal) que nunca aparece na tela, mas sempre ameaça a paz na floresta, não são tão marcantes quanto no longa de 1942, mas mesmo assim são funcionais.

Com algumas canções bem agradáveis, Bambi 2 certamente é mais do que o esperado para uma continuação da Disney. Uma exceção à regra que toda continuação é ruim e deve ser desprezada. Em cada fotograma podemos ver o carinho e a essência colocados no filme, os mesmos conceitos que Walt Disney fez questão de colocar no Bambi original. Essa continuação demorou quatro anos para ficar pronta e, certamente, a espera valeu a pena.

fevereiro 10, 2006

Syriana: A Indústria do Petróleo (2005)

 


Título original: Syriana
Direção: Stephen Gaghan
Sinopse: Muito petróleo significa muito dinheiro. Muito dinheiro mesmo. E este fato libera um esquema de corrupção que se estende desde Houston, passando por e Washington, até o Oriente Médio. E envolve industriais, príncipes, espiões, políticos, exploradores de petróleo e terroristas em uma teia mortal de ações e reações enganosas. Este thriller de ação inteligente e envolvente exige toda a atenção e os nervos do espectador, em intensidade narrativa que não permite descuido por um segundo sequer.


Todos estão louvando Syriana: A Indústria do Petróleo pelo seu cunho político e complexidade. Afinal, a moda é falar mal da política americana. E de tão complexo, o filme se torna uma experiência confusa e muito, muito arrastada. A paciência do espectador é testada aos limites, seja por estarmos vendo uma trama que nunca se desenvolve ou seja por tentar entender o que cada personagem está querendo fazer, coisa que raramente se explica em tela.

Talvez Syriana funcione melhor fora das telas do que nelas. Aliás, na tela, nada funciona. Onde está a tão aclamada ‘interpretação’ de George Clooney que lhe valeu a indicação ao Oscar? Ele só apanha e faz algumas coisas aqui e ali, sem tempo para interpretações. E por falar em apanhar, Syriana traz uma das cenas mais impressionantes de tortura que já vi. Ponto final. O filme seria só isso. Se em 2003 falaram que o Oscar de Melhor Atriz foi para Nicole Kidman só porque ela colocou um nariz falso, se Clooney ganhar o Oscar esse ano, será, com razão, meramente porque ele está usando uma barba, que não é de seu costume.

Muitas pessoas saíram da sala de cinema antes mesmo de se completar uma  hora de projeção. É isso que dá tentar bombardear as mentes do povo com fatos políticos completamente desinteressantes. E o pior, de forma aleatória. Existem modos e modos de se mostrar crítica política. Esse ano mesmo temos o excelente exemplo de Boa Noite e Boa Sorte, que trata de uma denúncia política, mas feita de forma ágil e concisa. Já Syriana não tem nada disso.

Por diversas vezes o filme tenta mostrar um pouquinho de drama, como em algumas cenas do personagem de Matt Damon (que também não acrescenta nada à história), mas o cunho é quase em sua totalidade político, textualmente e graficamente desinteressante. Vários outros longas, como JFK: A Pergunta Que Não Quer Calar, também eram 100% políticos, entretanto, prendiam o espectador, o que nunca acontece aqui, visto que o grande número de personagens em histórias confusas e independentes nunca parecem chegar a lugar algum.

O diretor Stephen Gaghan (roteirista do aclamado Traffic) é o grande culpado de Syriana ser esse monte de fotogramas sem sentido. Para os antiamericanos de plantão, esse filme será considerado uma obra-prima, já que qualquer mínima coisa que mostre algo ruim dos EUA é considerado um marco no cinema (assim como o pavoroso e tendencioso Fahrenheit 11 de Setembro). Um aviso para quem não quer se entediar: não vá assistir a Syriana. Ou, se você sofre de insônia, pegue a última sessão do dia e bons sonhos!

fevereiro 03, 2006

O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

 


Título original: Brokeback Mountain
Direção: Ang Lee
Sinopse: Um conto de amor sobre o relacionamento de dois jovens, Ennis Del Mar, um rancheiro de Wyoming e Jack Twist, um vaqueiro de rodeio, que se encontram no verão de 1963, e nos anos seguintes lutam secretamente para entender e se manter o amor que nutrem um pelo outro.


O Segredo de Brokeback Mountain pode funcionar de diversas formas, mas definitivamente não funciona como um romance tradicional, só alterando os protagonistas – dois homens. Bem, essa é a forma que o filme foi vendido (e aclamado) mundialmente.

Tecnicamente espantoso e artisticamente muito falho. Todos estão indo na onda de que o filme é perfeito. Longe disso. Ang Lee conseguiu nada mais do que um trabalho mediano. Explico porque. A premissa era justamente ser ‘mais um filme de amor’. Pois eis que O Segredo de Brokeback Mountain se mostra um filme de amor inverso: começa com uma cena de grande impacto e vai declinando, declinando, declinando... até chegar ao fundo do poço, num final previsível, ao final de longuíssimos e intermináveis 134 minutos.

Indiscutivelmente mereceu pelo menos duas das indicações que recebeu ao Oscar: Fotografia e Trilha Sonora Original. Mas, como já mencionei, a parte artística é tão simplória que chega a irritar: Heath Ledger faz um cowboy que reprime seus desejos interiores. Mas reprime tanto que nem dá pra se notar quais desejos são esses, resultado de uma interpretação equivocada. Chama mais a atenção o que ele tinha dentro da boca (estranhamente inchada) e o modo como fala pra dentro do que realmente a sua ‘interpretação’. Jake Gyllenhaal não está melhor aqui do que em outros papéis como em Donnie Darko ou até mesmo no recente Soldado Anônimo (injustamente desprezado aqui no Brasil). O destaque das atuações deve-se a Michelle Williams, melhor do que os dois cowboys principais juntos. Sua personagem, Alma, é na verdade o centro e a causa de tudo que acontece (e não acontece) no longa.

A falta do impulso inicial do amor, dos detalhes que fazem a diferença antes do sexo em si é o que estraga O Segredo de Brokeback Mountain logo no primeiro ato. O filme contribui para o pensamento geral da população de que os gays são criaturas depravadas, taradas e maníacas sexuais. O que tanto se falou antes da estreia desse filme, que mostraria que gays amam igual aos heterossexuais, não foi mostrado aqui. Pelo menos eu não vi nada disso. Ao contrário, o que chama a atenção – desviando o espectador da história – é como eles se atracam na tenda, como se atracam na escada (e como, após vinte anos, eles não envelhecem!), enfim, como se pegam em vários lugares (como dito, à medida que o tempo passa, cada vez de forma mais branda) e o amor raramente aparece. Sim, raramente. Ele não é nulo, aparece, mas SEMPRE no personagem Ennis Del Mar (Ledger).

Não é perturbador, não é inovador, mas, como explicado, também não é ‘mais do mesmo’. Difícil descrever O Segredo de Brokeback Mountain. É um filme bonzinho, na média, não melhor que outros trabalhos de Ang Lee. Não merecia esse alarde todo que está sendo feito e faz pior: faz o grande público (não-homossexual) continuar com a imagem ‘estranha’ ou ‘errada’ que tem dos gays. Oito indicações ao Oscar soam como algo completamente absurdo. Resumindo, Muito Barulho Por Nada.  

Edison: Poder e Corrupção (2005)


Título original: Edison
Direção: David J. Burke
Sinopse: Na promissora cidade de Edison, o ambicioso repórter investigativo em início de carreira Josh Pollack descobre fraudes na maior unidade de polícia da região. Enfrentando a resistência de seu editor Moses Ashford, ele acaba demitido por tocar no ponto nevrálgico que é a corrupção dentro do sistema de combate ao tráfico de drogas. Sem ter como sustentar a história, Pollack precisa se aliar ao promotor local Wallace, que aceita aprofundar essa investigação.


O que mais chama a atenção em Edison? "Nossa, quantos atores de renome!" Exatamente. Vemos Morgan Freeman e um cabeludo Kevin Spacey. E... Justin Timberlake. É, o ex-NSync é o principal personagem desse longa, ao lado de LL Cool J. Tudo de mais bizarro está aqui. Conta até com a participação de um (dos milhares) representante da família Wayans (de As Branquelas – sem comentários).

         Sabe-se lá o que o péssimo diretor David J. Burke tinha em suas mãos para ameaçar Freeman e um ridículo Kevin Spacey, e os convencer a participar dessa abominável produção. Tudo em Edison é de mau gosto: lutas absurdas, centenas de tiros sendo disparados na cara dos personagens sem que ninguém (importante) seja atingido, ou assassinatos graficamente violentos sem necessidade.

         A cidade fictícia de Edison (apesar de obviamente filmado em Vancouver, em nenhum momento isso é escondido do público) era uma cidade onde a violência imperava. Atualmente, a violência fica por conta da polícia extremamente corrompida da problemática cidade. É por causa de um desses casos de corrupção que o jornalista de um pequeno periódico, Pollack (Timberlake), começa a farejar que algo de errado está acontecendo. Enfim, isso só serve para nos mostrar muito sangue e um herói patético vivido pelo ex-boy band. O mais impressionante é que Timberlake nem estão TÃO mal assim como era de se esperar. Sua parca atuação é culpa de um roteiro sem pé nem cabeça (escrito pelo mesmo Burke), e isso afeta não só ele mas até mesmo os veteranos e consagrados atores.

         Morgan Freeman é Ashford, o diretor do jornal onde o entusiasmado (e imbecil) Pollack trabalha. Freeman nada mais faz do que beber e dar uns gritos em todo o tempo de projeção. E Kevin Spacey... o que falar? A peruca pavorosa que ele usa chama mais atenção do que qualquer uma das poucas coisas que pronuncia ao longo de 97 minutos de pura bobagem.

         Burke usa alguns aspectos de filmagem que são nulos em estilo e elegância. Planos simplesmente pavorosos, como a insistência em focar dois personagens distantes um do outro em uma imagem só: um Spacey sempre de perfil a la Rede Globo, ou seja, uma cara gigante que preenche metade da tela e um Freeman perdido no fundo da cena. Totalmente deselegante e, como já mencionado, desnecessário, é a frequente aula de anatomia que o diretor nos proporciona com cérebros explodindo por todos os lugares.

         Certamente tudo deveria ser relevado se Edison fosse feito para ser uma comédia. Mas não serve nem para isso. Em alguns momentos chegamos a rir do que acontece na tela. E isso, sinceramente, não é um bom sinal. Vemos o esforço dos atores em demonstrar serviço independentemente da horrorosa direção (e até de Justin Timberlake, acreditem!), mas tudo é feito em vão. Principalmente a ida ao cinema para ver essa bomba.

Boa Noite e Boa Sorte. (2005)

 


Título: Good Night, and Good Luck.
Direção: George Clooney
Sinopse: Ambientado nos Estados Unidos dos anos 50, durante os primeiros dias de transmissões jornalísitcas, o filme conta os conflitos reais entre o repórter televisivo Edward R. Murrow e o Senador Joseph McCarthy. Desejando esclarecer os fatos ao público, Murroe e sua dedicada equipe desafiam seus patrocinadores e a própria emissora para examinar as mentiras e amedrontadoras táticas perpetradas pelo Senador durante sua "caça às bruxas" comunista.


Enfadonho para muitos, uma obra-prima para alguns. A nova incursão de George Clooney na direção é um acerto por completo. Ao contrário do que possa parecer, Boa Noite e Boa Sorte não é um filme pequeno de interesse restrito. É mais do que certo que a grande maioria do público brasileiro não vivenciou e conviveu com as atitudes insanas do senador McCarthy nos anos 50 nos Estados Unidos. Mas alguém com o mínimo de imaginação pode imaginar o que isso representava à época.

Boa Noite e Boa Sorte é, antes de tudo, um grande exercício de estilo, com uma direção impecável (ponto para Clooney depois de Confissões de uma Mente Perigosa), fotografia igualmente impressionante e uma edição que, de tão boa, não foi indicada ao Oscar, como é de praxe acontecer. Clooney fez um pseudodocumentário nessa fita. Ágil e instigante, nos transporta para cada momento daquela época em que a sala de produção da CBS para o programa de TV de Edward Murrow era um planejamento de guerra. Uma guerra a favor da liberdade de expressão, que estava sendo tão mutilada por Joseph McCarthy.

Artisticamente absoluto e único. Estamos na produção do programa e sentimos o que Murrow sente. Respiramos fundo a cada vez que ele fala "boa noite e boa sorte" e ficamos aliviados a cada "encerrado" que o jornalista Friendly (interpretado por Clooney) fala a cada final de programa. Cada programa, uma bomba em McCarthy. 

Certamente o melhor do longa se encontra nessa sensação de pseudodocumentário. A forma com que os atores – um elenco surpreendente, por sinal – interagem com as imagens de arquivo que são inseridas ao longo da projeção é incrivelmente real, se devendo ao impressionante trabalho de montagem aliado a um roteiro sem furos e digno de Oscar (pena que provavelmente não irá ganhar). De todo o elenco, David Strathairn se sai um perfeito Edward Murrow, tenso a cada programa que ia ao ar, fumante inveterado que levou a frente seus pensamentos sem medo das consequências, diferentemente de seu companheiro de emissora, Don Hollenbeck (também perfeitamente interpretado por Ray Wise). 

Pode-se dizer que Murrow venceu. E assim como Clooney, que fez dessa simples (e ao mesmo tempo complexa) história uma pequena obra-prima. Que, infelizmente, poucos darão o valor que realmente tem.