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dezembro 06, 2005

Memórias de uma Gueixa (2005)

 


Título original: Memoirs of a Geisha
Direção: Rob Marshall
Sinopse: Chiyo foi vendida a uma casa de gueixas quando ainda era menina, em 1929, onde é maltratada pelos donos e por Hatsumomo, uma gueixa que tem inveja de sua beleza. Acolhida por Mameha, a principal rival de Hatsumomo, Chiyo ao crescer se torna a gueixa Sayuri. Reconhecida, ela passa a desfrutar de uma sociedade repleta de riquezas e privilégios até que a 2ª Guerra Mundial modifica radicalmente sua realidade no Japão.


- "Sayuri, tudo que eu fiz foi porque sempre te amei!"

- "Oh, eu também sempre te amei!"

Só faltou aparecer "FIM" e a Glória Perez agradecendo a todos os envolvidos na produção de mais um sucesso de audiência da TV. Memórias uma Gueixa é isso: pura novela das oito. Se à época do lançamento de Olga nos cinemas brasileiros os críticos reclamavam de que Jayme Monjardim deu um tom um tanto quando ‘novelesco’ à história da personagem-título, o que dirá de Rob Marshall, o queridinho de Hollywood  que estreou no cinema já com o Oscar de Melhor Filme pelo irregular Chicago e agora nos apresenta a saga de uma prostituta (quer dizer, gueixa) ao longo dos anos.

A diferença é que talvez Olga se encaixasse nas produções da Rede Globo e Memórias de uma Gueixa, no SBT, com direito à dublagem dos personagens e tudo. O filme tem um início que engana o público. Parece que a história vai vingar, mas não. Artisticamente falando, a única coisa que está boa é a estreia em um papel principal da pequena Suzuka Ohgo como a aspirante-forçada a gueixa Chiyo. E só. E tecnicamente, sim, o filme é o que realmente dizem (e “uau, concorre a vários Oscar!” – ironia), tem uma fotografia belíssima, ainda que restrita a poucas cenas, uma montagem interessante, ainda que restrita a poucas cenas, uma trilha sonora interessante, ainda que restrita a poucas cenas, uma direção de arte interessante, ainda que restrita a poucas cenas... cansou de ler a mesma frase uma vez atrás da outra? Isso é pra exemplificar exatamente como é a sensação de assistir às intermináveis duas horas e vinte e cinco minutos de novela mexicana, quer dizer, japonesa, quer dizer, chinesa, de Memórias de uma Gueixa.

Por que essa confusão? Por que chinesa? Eu, desavisado, estava percebendo algo ‘errado’ desde o início da projeção. É, não só as ruas (e as bicicletas), montadas pela direção de arte desse filme nos fazem estar dentro de uma cidade da China, mas bem como as principais atrizes – todas chinesas. É nesse momento que o espectador que sempre falou que “orientais são todos iguais” vê que estava redondamente enganado. Com certeza o Japão não está com escassez de atrizes para suprir a necessidade de uma produção como essa. Infelizmente temos que aturar essa ‘mentirinha’ por mais de duas horas, rolando no assento do cinema à espera de uma sorte que não vem, de um final inesperado que nos livre de toda a tortura que esse filme represente.

O mestre John Williams se salva em alguns bons momentos de trilha – poucos, por sinal. Apesar de sua indicação dupla ao Oscar, o verdadeiro destaque em seu trabalho nesse ano é em Munique, com uma trilha muito mais pensada e adequada do que essa comum, cheia de clichês (sim, até na música).

Personagens maus são extremamente maus, sem pedir nada em troca.  Personagens bons são extremamente bons, mas imbecis. A profundidade é nula em qualquer personagem da trama. Se é que existe uma trama, a não ser a parca historinha de como uma menina se transforma em uma prostituta de luxo, pela qual os homens interessados fazem um leilão a fim de desvirginá-la. Para quem não conhece esse processo de formação de gueixas (como eu e 99% da população brasileira), o filme deixa bem claro que elas são tão prostitutas quanto aquelas que elas mesmo abominam em alguns pontos do filme.

No final das contas, Memórias de uma Gueixa dá sono e cansaço. Se for pra assistir a novela malfeita, tenho SBT em casa mesmo pra isso, não preciso ir ao cinema. E vem cá, aquela lente de contato azul não engana ninguém.

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