O Sol de Cada Manhã é composto de pequenos grandes momentos que, juntos, formam uma composição memorável de uma simples vida. E, principalmente, da solidão. Nicolas Cage carrega esse filme quase que por completo sozinho, contrabalanceado por uma performance surpreendente (e comovente) de Michael Caine, na pele do pai de Dave, que está morrendo.
Através da constante narrativa em off de Dave, sabemos tudo o que ele pensa no seu mais profundo interior e todo o por que de suas ações. Somos, dessa forma, imersos na mente de um personagem que poderia ser qualquer um de nós. Desprovido por completo de clichês, o que acontecerá no minuto seguinte em O Sol de Cada Manhã é imprevisível. Até mesmo porque, ao mesmo tempo que tudo na vida de nosso ‘herói’ é comum e familiar para todos nós, o inverso acontece. Ele tem uma vida fácil, como o próprio diz, trabalha duas horas por dia na leitura do prompter e tendo um pouco de carisma forjado para ser simpático com o público, sempre sorridente.
Mas essa é a vida de Dave na tela. Fora dela, ele é ridicularizado pelas pessoas, que sempre atiram alimentos (!) nele. Sua vida familiar, um desastre. Apesar de fazer de tudo para se dar bem com sua ex-mulher, seus esforços são em vão. O mesmo acontece com sua filha. Os únicos familiares com quem ele consegue interagir, mesmo que pouco, são seu filho e seu pai que está prestes a morrer.
Cage consegue fazer um personagem que conquista a empatia do público, que compreender completamente sua imensa solidão e suas tentativas desesperadas de conseguir o afeto dos que estão perto dele. Prova de que um filme não precisa de uma história magnífica e original para ser sensível e beirar a perfeição, cinematográfica e emocional. Dirigido com esmero por Goran Verbinski, um diretor diferente a cada nova produção. É, o mesmo diretor desse magnífico drama introspectivo dirigiu coisas completamente diferentes, como Um Ratinho Encrenqueiro, A Mexicana, O Chamado e está no comando da trilogia de Piratas do Caribe.
O mais incrível é como o humor é presença constante nesse longa, mesmo em cenas completamente dramáticas. Rimos por falta de outra opção. Rimos pelo desespero. Rimos pelo que acontece não só com Dave, mas com todos nós. Rimos, mas também choramos. Um filme como poucos, que de certa forma nos dá algumas razões para pensarmos e encararmos de uma outra forma os nossos dias que se passam e ‘o sol de cada manhã’. Porque afinal nós todos somos um pouco ‘homens do tempo’.
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