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outubro 21, 2005

A Garota da Vitrine (2005)

 


Título original: Shopgirl
Direção: Anand Tucker
Sinopse: Baseado no livro best seller de Steve Martin, "A Garota da Vitrine" (Shopgirl) é uma história de amor engraçada e comovente nos tempos modernos. O filme mostra três vidas de pessoas em trajetórias diferentes em busca de uma coisa em comum. Mirabelle (Clair Danes) é uma garota simples que trabalha numa loja de luvas quase sem movimento na Saks Fifth Avenue em Beverly Hills. Uma artista que faz o possível para pagar o mínimo do cartão de crédito e os empréstimos para estudantes, ela vai se mantendo assim até que um dia se vê atraída por um cinquentão rico e bonito que se chama Ray Porter (Steve Martin). Ao mesmo tempo Mirabelle está sendo paquerada por Jeremy (Jason Schwartzman), um solteiro nem tão refinado ou bem sucedido quanto Ray. Quando o destino chega, pode não ser tudo como nos contos de fada, porque no final das contas... a vida é assim.


"Relacionamentos nem sempre caem como uma luva." A tagline desse romance um tanto quanto inusitado por várias razões "cai como uma luva" na produção. Produzido, escrito e estrelado por Steve Martin, baseado em seu próprio livro (ufa!), A Garota da Vitrine é bem simplório, por algumas vezes um pouco duvidoso quanto à sua validade, mas o tom geral é de aprovação. Um filme bem simpático.

É mais um filme com narração em off, do próprio Steve Martin (nossa, ele REALMENTE é onipresente nesse filme). Filmes de romance com narradores escondidos costumam ser uma fria, é uma clara indicação da superficialidade e clima de "mais do mesmo". Mas A Garota da Vitrine é completamente verossímil e consegue aproveitar todos seus 104 minutos sem rodeios.

Mirabelle (interpretada por Claire Danes, com uma interpretação mediana, longe de sua esplêndida atuação em A Bela do Palco, por exemplo, mas adequada) é uma vendedora de luvas (!) na Sak’s Fifth Avenue em Los Angeles. Ou seja, ela pouco trabalha. Sente-se sozinha naquele balcão que poucos param para olhar. Ela acaba por conhecer o quase trash Jeremy (Jason Schwartzman, de A Feiticeira e Huckabees: A Vida É uma Comédia) e força um relacionamento com ele, com o claro intento de não ficar sozinha. Mas um dia aparece Steve Martin (mais uma vez!), um homem muito rico que se encanta por ela. Mas nada é perfeito. E é sobre essa não-perfeição o ponto-chave do longa.

Mais interessante do que parecia logo de cara, vemos a jornada de cada personagem em busca do que realmente quer. Cada um terá um destino, totalmente diferente do que o espectador mais premonitório pudesse imaginar. Claro, existem grandes clichês, principalmente na parte final do filme, mas esses mesmos clichês são trabalhados bastante e nos são apresentados de uma forma bonita, plausível. E aí que a narração em off de Martin tem um papel importantíssimo. Milagrosamente ela consegue envolver o espectador de tal forma de acabamos fazendo uma fusão da voz dele com Ray Porter (seu personagem no filme) e, de certa forma, somos até empáticos com ele, mesmo que suas intenções por vezes sejam bem duvidosas.

A surpresa da vez é (mais uma vez!) Steve Martin, que, acreditem ou não, consegue ter créditos como ator dramático. Talvez porque ele, mais do que qualquer outro, conheça o personagem Ray Porter e saiba dar o tom exato a ele. Martin está melhor aqui do que em todas suas últimas dez produções juntas elevadas ao quadrado. Seguramente ele deveria seguir por essa linha e passar a ter reconhecimento, ser levado Aa sério", o que é bem difícil nesse momento da vida, já que sua imagem será constantemente associada a seus ‘clássicos’ cômicos (Parenthood, O Pai da Noiva etc).

A Garota da Vitrine é isso: simples e agradável. Recomendado mesmo para quem não gosta de filmes de romance. Vale dizer que Steve Martin está preparando mais um filme, dessa vez baseado em uma peça sua, Picasso at the Lapin Agile, cujo roteiro também será escrito por ele... e estrelado por ele também (!). É, realmente Steve Martin está com tudo.

outubro 20, 2005

O Sol de Cada Manhã (2005)

 


Título original: The Weather Man
Direção: Gore Verbinski
Sinopse: Apresentador da previsão do tempo ,em Chicago, recebe oferta de trabalho em uma rede de TV ,em NY. Mas, ele é divorciado e, antes de se mudar para a Big Apple, terá de resolver uma série de problemas com a ex-mulher e os filhos.


A vida normal de uma pessoa normal que tem problemas normais como nós, normais. Esse é Dave Spritz, o homem do tempo de uma rede de TV baseada em Chicago. Sua vida está para mudar. Em algumas áreas, pra melhor: uma chance de emprego em Nova York, para receber mais de um milhão de dólares por ano. Já em outras, pra pior: seu pai está morrendo.

O Sol de Cada Manhã é composto de pequenos grandes momentos que, juntos, formam uma composição memorável de uma simples vida. E, principalmente, da solidão. Nicolas Cage carrega esse filme quase que por completo sozinho, contrabalanceado por uma performance surpreendente (e comovente) de Michael Caine, na pele do pai de Dave, que está morrendo.

Através da constante narrativa em off de Dave, sabemos tudo o que ele pensa no seu mais profundo interior e todo o por que de suas ações. Somos, dessa forma, imersos na mente de um personagem que poderia ser qualquer um de nós. Desprovido por completo de clichês, o que acontecerá no minuto seguinte em O Sol de Cada Manhã é imprevisível. Até mesmo porque, ao mesmo tempo que tudo na vida de nosso ‘herói’ é comum e familiar para todos nós, o inverso acontece. Ele tem uma vida fácil, como o próprio diz, trabalha duas horas por dia na leitura do prompter e tendo um pouco de carisma forjado para ser simpático com o público, sempre sorridente.

Mas essa é a vida de Dave na tela. Fora dela, ele é ridicularizado pelas pessoas, que sempre atiram alimentos (!) nele. Sua vida familiar, um desastre. Apesar de fazer de tudo para se dar bem com sua ex-mulher, seus esforços são em vão. O mesmo acontece com sua filha. Os únicos familiares com quem ele consegue interagir, mesmo que pouco, são seu filho e seu pai que está prestes a morrer.

Cage consegue fazer um personagem que conquista a empatia do público, que compreender completamente sua imensa solidão e suas tentativas desesperadas de conseguir o afeto dos que estão perto dele. Prova de que um filme não precisa de uma história magnífica e original para ser sensível e beirar a perfeição, cinematográfica e emocional. Dirigido com esmero por Goran Verbinski, um diretor diferente a cada nova produção. É, o mesmo diretor desse magnífico drama introspectivo dirigiu coisas completamente diferentes, como Um Ratinho Encrenqueiro, A Mexicana, O Chamado e está no comando da trilogia de Piratas do Caribe.

O mais incrível é como o humor é presença constante nesse longa, mesmo em cenas completamente dramáticas. Rimos por falta de outra opção. Rimos pelo desespero. Rimos pelo que acontece não só com Dave, mas com todos nós. Rimos, mas também choramos. Um filme como poucos, que de certa forma nos dá algumas razões para pensarmos e encararmos de uma outra forma os nossos dias que se passam e ‘o sol de cada manhã’. Porque afinal nós todos somos um pouco ‘homens do tempo’.