Por mais que todos estejam criticando bem o
novo trabalho de Beto Brant, ele se mostra, na realidade, uma experiência de "como testar sua paciência em um cinema lotado". Desanimado pelo trailer, mas animado pela presença de
Brant e do elenco na sessão de pré-estreia, me joguei dentro desse filme. E que
tombo.
Gostaria de saber até quando o cinema
brasileiro vai continuar tratando o sexo como um grande tema profundo a ser
tratado. Já por essa premissa, Crime
Delicado é mais do mesmo. Brant pode ser considerado cult por seus trabalhos anteriores (especialmente pelo já quase
Hollywoodiano O Invasor), pode se
sair muito bem em tramas policiais, mas, aventurando-se no terreno do drama, ou
melhor, da nudez e sexo sem propósito nas telas, o diretor é um erro certo (se
é que isso pode ocorrer).
Depois de muito tempo com cenas completamente desprezíveis e desnecessárias, temos um bom momento em todo o longa, que é certamente nos diálogos do bar, sem conexão direta com a história, mas que ajudam numa "compreensão" do todo.
Todo o elenco (com exceção da estreante Lilian Taublib, que está ótima) parece estar lendo o script ali na sua frente. Falas decoradas, muitas frases de efeito, muitos palavrões. O antipático Marco Ricca não consegue conquistar o espectador em nenhum momento. Isso é ainda pior pois a redenção de seu personagem depende, mais no final da história, dessa empatia do público. É um filme nacional vazio, feito aos moldes de outros como Meu Tio Matou um Cara ou Sal de Prata no qual o sexo justifica tudo. É filme para pessoas que estão atrás de verem outras pessoas nuas na tela. E só.
Obviamente, como uma grande parcela das produções nacionais, Crime Delicado ainda conta com duas coisas extremamente desnecessárias: um final tão vazio quanto todo o filme e a presença irritante do "venerado" Matheus Nachtergaele, que tem o poder de estragar tudo onde põe o dedo.
Enfim, nada funciona. Pior artisticamente,
menos pior tecnicamente. Mas mesmo assim a tão dita fotografia "fenomenal" do
filme se resume a planos e ângulos mais do que óbvios. Talvez tenham comentando
tanto da fotografia porque existem alguns momentos em preto-e-branco no
longa... e a crítica tem que elogiar, porque vocês sabiam que o rolo de filme
preto-e-branco está pela hora da morte? Afinal, Brant precisa de boa bilheteria
para comprar o leitinho das crianças. Mas, infelizmente, não vou contribuir
para isso...
Claro, e por último, o tal "crime delicado" do título é um estupro. Que delicadeza (e sutileza), não é mesmo? E agora com licença, porque preciso ler a minha crítica em voz alta para todos aqui nessa sala vazia ficarem sabendo o que eu escrevi... aprendi essa técnica revolucionária de comunicação com o crítico Antônio (Marco Ricca). Obrigado, Crime Delicado. O que seria de mim sem esse filme?