Páginas

junho 09, 2005

Sr. e Sra. Smith (2005)

 


Título original: Mr. & Mrs. Smith
Direção: Doug Liman
Sinopse: John e Jane Smith aparentemente parecem formar um casal normal, mas na realidade ambos mantêm um segredo. Os dois são assassinos de aluguel contratados por empresas rivais. A verdade só vem à tona quando John e Jane, sem saber, recebem uma missão para eliminar o mesmo alvo e mais tarde descobrem que devem matar um ao outro.


Provavelmente esse Sr. e Sra. Smith irá vingar e fazer relativo sucesso em sua carreira nas salas de cinema ao redor do mundo. O filme une ação e comédia na dose certa em quase todo o tempo de projeção.

A maioria dos que comentam sobre esse filme são fãs dos atores principais, o badalado (porém, já superexposto) Brad Pitt e Angelina Jolie, considerada por muitos a mulher mais bonita da indústria do cinema. O curioso da maioria desses comentários que li é que eles aplaudem cegamente a ‘interpretação’ dos dois referidos atores, nos personagens que dão o título ao filme, John Smith e Jane Smith. Agora, precisamos separar uma coisa da outra – atuação e beleza. E isso tem se confundido muito ultimamente. O fato é que Pitt tem uma atuação forçada durante todas as cenas em que aparece (ou seja, quase o filme todo), e tenta, de qualquer modo, ser engraçado, mas sem sucesso. Em contrapartida, parece que Jolie achou o papel certo para ela. A personagem Jane Smith está engraçada nos momentos certos, e também cínica quando deve ser. Talvez essa personagem seja a que a filha do veterano ator Jon Voight mais apareceu como atriz e menos como ‘a estrela, famosa e gostosa’, como ela nos é apresentada desde o deplorável Lara Croft: Tomb Raider. Viram? Tomb Raider também é um filme de ação, mas em Sr. e Sra. Smith, Angelina consegue demonstrar que tem mais do que beleza exterior, mas conteúdo. Ao contrário de Pitt, que nunca mais acrescentou nada ao cinema depois de sua interpretação extraordinária (e talvez, única) em Clube da Luta. Aliás, filme esse que é lembrado em algumas cenas aqui, mais descaradamente quando o personagem Benjamin chega a usar uma camiseta do filme.

Esse problema dos protagonistas poderia facilmente ter comprometido todo o longa, mas felizmente isso não acontece. A química entre os dois não existe, e o filme é completamente centrado nos mesmos dois, praticamente desprovido de coadjuvantes. Mas, como já disse, outros fatores salvam Sr. e Sra. Smith do fracasso. A fotografia chama a atenção por nunca ser demasiadamente cheia de cores, talvez pelo fato de Bojan Bazelli, o fotógrafo, levar um jeito para filmagens pseudo-monocromáticas (o tão falado O Chamado também teve sua fotografia assinada por ele). A trilha original do filme é igualmente interessante, composta por John Powell (compositor de outros sucessos recentes como Robôs e Be Cool: O Outro Lado do Jogo, mas principalmente das excelentes trilhas de A Identidade Bourne e A Supremacia Bourne).

Sr. e Sra. Smith tem uma proposta interessante, desenvolvida em um roteiro igualmente interessante (mas não genial), com alguns furos, mas poucos. Algumas coisas são meio que inexplicáveis na história, como o fato de existirem pelo menos três agências de espionagem rivais, duas delas pras quais os Smiths são contratados para se matarem. Para quem vai ao cinema sem saber do que se trata o filme, o 1° ato é meio confuso, parece que o longa será mais algo voltado para a ação mesmo, quando na verdade o forte é a comédia, mostrada num 2º ato brilhante, iniciado logo após Jane Smith descobrir que seu marido é o maior inimigo dela nos ‘negócios’. Nesse 2º ato é que vemos o desenrolar ‘cômico’ da história, com cenas impecavelmente produzidas, como a da luta dos dois dentro de casa – comparável à luta da Noiva com Elle Driver em Kill Bill: Volume 2, só que em escala muito maior.

Nesse meio tempo é que vemos mais do personagem Eddie, interpretado por Vince Vaughn, que não ajuda em nada na evolução dos acontecimentos e que parece recém-saído do Bates Motel. Ver a atuação de Vaughn aqui é como ter um déjà vu do péssimo desempenho dele como Norman Bates em Psicose (remake do clássico de Hitchcock). O déjà vu ainda se confirma quando ele fala em como “só confia em sua mãe”, e mais ainda porque essa mãe dele nunca está em cena durante todo o longa, só ouvimos sua voz. Coincidências demais? Talvez.

É difícil um filme de espionagem não ter as conhecidas ‘geringonças’ tecnológicas e artefatos capazes de fazer qualquer coisa que se queira. E, é claro, tudo isso está presente aqui, mas é preciso dizer que isso até cansa o espectador em certos momentos, ver como tudo se resolve com o apertar de um botão (ou de um gatilho!) e de repente a personagem está ‘voando’ por um cabo, de um prédio para outro, a dezenas de metros de altura na movimentada Manhattan.

Infelizmente o longa se perde um pouco no 3º ato, exageradamente longo e sem propósito. São intermináveis cenas dos dois (agora aliados) fugindo de seus assassinos e ex-colegas de profissão. Mas mais uma vez, isso não é o suficiente para estragar a sensação final que se tem ao assistir Sr. e Sra. Smith. Definitivamente o filme se faz em pequenos momentos e pequenos diálogos. Só pra citar um desses momentos, a cena em que eles estão na loja de móveis tentando escapar da morte, e conversam num elevador ao som de ‘Garota de Ipanema’ é fantástica.

No final das contas, eles são dois agentes 007 um pouco mais irritados do que o normal. E tudo funciona muito bem na cabeça de quem está vendo, uma vez que o filme mostra nada mais do que uma briga de casal (mesmo que seja em níveis estratosféricos). Apesar de tudo o que foi mencionado, o conjunto da obra é positivo e serve à sua necessidade básica, que é entreter sem grandes compromissos. E, diga-se de passagem, serve muito bem a essa necessidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário