É até difícil falar algo sobre um filme tão malfeito como Sahara. A produção não convence o espectador sério de jeito nenhum. Certo, é um ‘filme-pipoca’, mas se pelo menos ele servisse ao seu propósito básico de entreter... e isso definitivamente não acontece por aqui.
Sahara começa até bem, com uma batalha de um encouraçado em um rio. Uma batalha noturna, bem executada, e com uma das únicas e poucas qualidades do filme presentes nela, que é a mixagem de som, mas que assim mesmo, não é nada para se ficar impressionado.
Mas Sahara desanda completamente depois dessa primeira sequência. Aliás, o resto do filme faz até essas cenas iniciais se transformarem em um gigantesco clichê. Aquela batalha serve para nada mais do que contar uma historinha que se passou, e que pouco ajudará no desenvolvimento do filme. Mas, afinal, qual é a história de Sahara? Boa pergunta.
A palavra mais educada e carinhosa com a qual posso definir esse roteiro é ‘estúpido’. Na primeira meia hora de projeção, o que parece é que iremos ver um remake de Anaconda sem as cobras, e, no lugar delas, imensos e ‘maus’ africanos que defendem seu país (e seu ditador). Sim, e estão presentes lá todos os sofríveis estereótipos de personagens concebidos em roteiros de filmes de aventura... um personagem retardado que atrapalha os outros na jornada, um bonitão que no final sempre termina com a gostosa do filme (era J.Lo em Anaconda, aqui somente substituída por uma Penélope Cruz desajeitada e que nunca acha o tom da personagem), um coadjuvante que salva todos da destruição, e, é claro... nada melhor do que nativos vilões.
É incrível como os nativos nigerianos são tratados no filme. Parece que o cargo de figurinista passou longe das planilhas de produção de Sahara. Ou até mesmo, quem sabe, o cargo de diretor é o que tenha ficado sem preencher. Breck Eisner faz turbantes aparecerem magicamente no meio do deserto, ou até mesmo um bar (!) com logotipo da Coca-Cola e tudo... será uma miragem? O figurinista, se é que há algum, decide transformar os nigerianos que estão no museu, ouvindo a apresentação de um almirante da NUMA (William H. Macy, completamente sem poder adicionar nada, em uma participação ínfima), em pessoas que estão prestes a desfilar no sambódromo. E além de tudo mais, é claro, há os americanos que fazem cara feia para as ‘exóticas’ comidas da festa, como de praxe.
Enfim, história completamente previsível, roteiro com furos (na verdade, rombos), como quando os personagens colocam pra funcionar um avião despedaçado (no maior estilo O Vôo da Fênix, mas aqui eles acham o avião no meio do deserto, por mágica!), e usam-no como um barco à vela com rodas, e, como era de se esperar, coisas que nos fazem pensar: “eu não estou vendo isso!” – um canhão que passou 120 anos enterrado nas areias do Saara funciona perfeitamente (e derruba helicópteros).
Tudo isso fora uma Penélope Cruz que leva a nocaute vários africanos com o dobro do tamanho dela com a maior facilidade, e o personagem de Steve Zahn com uma linha irritante: “Hi, how are you?”, que ele repete incessantemente dezenas de vezes a cada vez que se confronta com um personagem ameaçador no longa. E põe longa nisso. Os espectadores são torturados por intermináveis 127 minutos, obrigados a aceitar que todos ali na tela estão passando por inimagináveis perigos em Mali. Mas sinceramente... parecia que eles estavam em uma joy ride no deserto do Saara, como se este fosse a Disney World.
Quer filme de aventura no deserto? Alugue o DVD de Lawrence da Arábia na locadora que é melhor negócio. Ou, nem isso. Qualquer O Vôo da Fênix ou até mesmo Mar de Fogo parecem obras-primas perto desse péssimo Sahara.
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