Mesmo tratando-se de um documentário sobre
três irmãs cegas que vivem de pedir esmolas enquanto tocam e cantam canções (de
composição própria) em seus ganzás (instrumento de percussão do Nordeste), não
se esperava que o filme apresentasse uma composição sonora tão cuidadosa. Seja
pela curiosa forma de ‘musicalização’ das falas das protagonistas, quando elas
se apresentam para o espectador, seja pela forma em que as canções delas nos
são apresentadas, como "Sereno da Madrugada", que ficam na cabeça do público,
este querendo ou não, ou mesmo pela trilha original do filme: simples, porém,
serve ao seu propósito.
Na parte técnica o filme é impecável, com uma
edição ágil com vários inserts de TV entre as cenas. Porém, apresenta um
ponto fraco: nas cenas mais dramáticas, o diretor, Roberto Berliner, não se
preocupou muito em deixar a emoção se desenvolver, preferindo seguir mais pelo
caminho da comédia até a "redenção" final das irmãs. Funciona, e com boa
resposta do público, que pareceu se divertir bastante (assim como eu) com os
inúmeros diálogos cômicos do filme. Vale lembrar que a falta de edição é um
ponto alto em certa parte, logo após a cena em que uma das irmãs se declara
apaixonada pelo realizador do longa, o mesmo diretor Berliner. A cena seguinte
é constituída de um único plano longo, em que elas, num quarto de hotel,
sozinhas, escutam à música "À Distância", de Roberto Carlos, que dá o tom
dramático e de desilusão corretos ao momento.
Apesar de se tratar de uma história dramática, com um final igualmente dramático, porém com algumas vitórias, saímos da sala de cinema com um sorriso no rosto, pois o documentário nos passa a sensação de que mesmo com inúmeras adversidades, as três irmãs cegas tiveram um final "feliz", pelo menos nas cabeças delas. Chama a atenção o comentário de uma delas de que o cinema é, além de tudo, uma forma de esquecer a realidade, mesmo que a estejamos encarando de frente, como feito nesse filme.
Para finalizar com o tom de bom humor presente ao longo dos 80 minutos de projeção, as irmãs recomendam ao público que escute as músicas delas, regravadas por cantores famosos no Brasil, e que comprem o CD do longa. E funciona. O público ficou na sala até o final dos créditos. Eu quero o CD das irmãs ceguinhas de Campina Grande... mas, infelizmente, para encontrá-lo, talvez seja necessária uma maratona tão grande quanto achar uma sala de cinema no país que esteja com A Pessoa É Para o Que Nasce em cartaz. Uma pena.
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