O namorado branco é interpretado por Ashton
Kutcher, que tem se mostrado um bom ator, não só em comédias totalmente
impensadas como essa, mas também em filmes de outros gêneros (vide o excelente Efeito Borboleta). Neste cansativo A Família da Noiva, Kutcher nada pode
fazer para desenvolver um personagem fraco, sem força de vontade, que é
empurrado de uma cena para outra em direção a lugar nenhum. O personagem Simon
(Kutcher) é praticamente o único ator branco do elenco, e isso funciona muito
bem para mostrar o "isolamento" que ele está sentindo nos acontecimentos
mostrados. Mas não é só o personagem que está isolado. Kutcher também está. A
performance dele é a única que não é totalmente caricata, das várias
apresentadas pelo resto do elenco.
O filme já começa de uma forma tão óbvia que causa medo ao espectador, logo de cara, pelo que o espera pela próxima hora e meia que será aterrorizado por infindáveis piadas sem graça (como toda a cena da mesa de jantar, em que são contadas inúmeras piadas raciais preconceituosas, e também os numerosos casos e de piadas de cunho homossexual depreciativas que insistem em aparecer por todo o longa). Simon esconde coisas de sua namorada quando ele é pego de surpresa: ele pediu demissão e logo depois descobre que a coisa que seu sogro mais preza é o trabalho. Ele subtrai essa informação então, para a felicidade de todos... do sogro, que vai ficar feliz, de sua namorada, que vai ficar feliz porque seu pai vai ficar feliz e pra dele mesmo, que vai ficar feliz porque os outros dois estão felizes. Complicado, não? Não mesmo. No final das contas, o único que não fica feliz é o espectador, que tem sua inteligência subestimada com cenas tão previsíveis como essa já mencionada e dezenas de outras mais. Só para citar mais um exemplo, quando o casal está no táxi, e o motorista, negro, é insistentemente focalizado, qualquer um com um mínimo de discernimento deduzirá que algo irá acontecer. E realmente acontece. O sogrão acha que o taxista é o namorado da filha e que Simon é o taxista, já que ele se presta a carregar todas as malas para fora do carro (?!).
E por falar no personagem do sogro, ele é
terrivelmente interpretado por um Bernie Mac extremamente maquinal, robótico,
mergulhando a fundo no estereótipo de ‘pai da noiva’. Resultado de um roteiro mal escrito, por falas óbvias que chegam a doer nos ouvidos, e de uma direção mal executada (o diretor é o mesmo de Barbershop
2), em que até gestos e olhares dos personagens são clichês intermináveis.
O personagem de Mac é extremamente neurótico, chegando a irritar antes mesmo da
metade do filme. Simon nunca dá motivos para que ele desconfie tanto dele
(sabe-se lá de que, isso nunca é dito, ele só "não gosta"). O único problema
dele seria ser branco, mas o roteiro apresenta uma fuga fenomenal do argumento
inicial. Na maior parte do tempo, a questão racial nem é mencionada.
O filme chega a extremos do absurdo e do
ridículo, atingindo o clímax na cena em que o sogro desafia Simon em uma
corrida de kart, em uma sequência que não possui qualquer ligação direta com o
resto das cenas anteriores ou posteriores. O personagem de Mac causa uma
antipatia tão grande no público (e, muito provavelmente, em Simon também), que
nos perguntamos porque Simon ainda insiste em ficar na mesma casa que o
paranoico "pai da noiva", que chega ao ponto de dormir com ele na mesma cama
todas as noites para ‘salvaguardar’ sua filha.
A
Família da Noiva
não é um zero total talvez somente por uma única cena, que funciona perdida
como uma Atlântida de erros crassos e piadas entediantes: no carro, indo para o
hotel, é o único momento do longa em que Bernie Mac e Ashton Kutcher se
entrosam, enquanto escutam no rádio músicas sobre desigualdade racial, por
acaso. Momento esse que culmina em "Ebony and Ivory", de Paul McCartney e
Stevie Wonder, que, dadas as circunstâncias, acaba de tornando engraçadíssima.
Depois disso, mais alguns bons momentos de Kutcher e só. Por aí acabam as
qualidades, mesmo.
Depois de mais de uma hora e vinte minutos de
projeção e vinte e cinco olhadas no relógio pra ver se a tortura está prestes a
acabar, ainda não dá pra se ver uma conclusão viável à história. Aliás, esse
filme poderia até se transformar em novela, já que usa e abusa da "técnica
enrolativa", não necessitando de um final crível e rápido. De repente, então, o
sogrão fica bonzinho e passa a achar Simon perfeito para sua filha, depois
deste o ensinar a dançar (sim, o desrespeito à capacidade intelectual do
espectador é assustador).
Um fato curioso é que esse terrível A Família da Noiva tenta copiar
descaradamente os exageros de Entrando
Numa Fria (Meet the Parents, EUA,
2000). A diferença é que no segundo, tudo funciona, e no primeiro, não. Simples
assim. Bernie Mac não consegue ser vilão e engraçado ao mesmo tempo, como
Robert De Niro foi em Entrando Numa Fria,
nem Ashton Kutcher consegue ser atrapalhado o suficiente como Ben Stiller no
mesmo filme. Escalação de elenco errada, o longa sofre com um tenebroso
problema de timing, com cenas que
parecem se prolongar por toda a eternidade.
E, como a cereja no topo do bolo, somos "presenteados" com um número musical deprimente no final, e, o pior de tudo,
cenas durante os créditos finais. Sim, e ainda por cima, com vozes em off. Tinha que ser com vozes em off pra colocar a moldura nesse desastre
que é A Família da Noiva.
Sinceramente, pra completar o ridículo mesmo, só faltavam as aparições de Didi
Mocó e Dedé Santana.
Ao invés de perder seu tempo com esse filme, vá passar o dia com sua sogra. A experiência deverá ser tão "maravilhosa" quanto ver isso aqui... esse amontoado de bobagens que algum dia alguém ousou chamar de filme.
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