Infelizmente, A Guerra dos Mundos nunca foi um livro extremamente conhecido por todos. Por isso, essa nova adaptação do clássico de H.G. Wells não foi considerada uma ‘heresia’ pelo público em geral, já que o romance homônimo é de geral desconhecimento. É muito comum esse fato acontecer no mundo do cinema: pessoas fanáticas pelo livro que está adaptado na tela reclamando que o diretor (ou o roteirista) não respeitou as intenções originais do autor. Como exemplo, existem milhares de crianças repreendendo o diretor Chris Columbus e Alfonso Cuarón por terem ‘menosprezado’ pontos-chave dos livros da franquia Harry Potter em suas adaptações no cinema. Mas, como Wells nunca foi pop o suficiente para todos reconhecerem erros e omissões, bem como o filme original de 1953, o novo trabalho de Spielberg ficou sendo meio que um ‘tudo vale’ (para o público leigo, obviamente).
Apesar de a história se passar nos dias atuais, uma jogada óbvia de marketing, ainda mais após a última adaptação/remake de um romance de H.G. Wells, A Máquina do Tempo, de 2002, ter sido um fracasso (em parte por se passar no século XIX, como no livro), o novo Spielberg consegue ser fiel ao romance de 1898 o máximo que pode. Começando exatamente igual ao primeiro capítulo, com uma narração perfeita, tanto em termos de prazer auditivo como visual, já aí está explícita a forma que o filme irá tomar: não uma cópia do texto original ou do filme predecessor, mas o novo Guerra dos Mundos se utiliza dos melhores momentos dos dois para se fazer.
Apresenta uma fotografia interessante em termos de aspecto, apesar de ter as mesmas tomadas óbvias típicas de um Spielberg. Mas, é claro, isso deve ser relevado. É um filme comercial, que entretém muito bem. Obviamente que outra marca registrada de Spielberg está aqui: os efeitos visuais. Centenas de destruições, intempéries, enfim, tudo que é grandioso aparece. E não, não é um novo Independence Day, como andaram dizendo. Ao passo que o filme de 1996 é nada mais que um show de destruição (muito bem executado, por sinal), aqui tudo tem um propósito e está em seu devido lugar. No final das contas, eu classificaria Guerra dos Mundos como sendo tecnicamente perfeito. Especialmente o som e edição, espetaculares.
Steven Spielberg sempre tentou ser o mais pop possível em seus longas, e mais uma vez isso se repete, seja com a mera aparição de Bob Esponja na TV, ou mesmo ao escalar Tom Cruise para o papel principal. O astro de Missão Impossível e O Último Samurai está um pouco deslocado no papel de pai de família aqui, mas devo dizer que, com exceção de De Olhos Bem Fechados, esse é seu melhor papel, se superando até mesmo do que no aclamado drama Nascido em 4 de Julho. E devo mencionar que Dakota Fanning também tem uma boa interpretação, apesar de sua personagem causar uma irritação constante na audiência. Boa assim como foi a sua salvação da fita O Amigo Oculto, sendo até melhor que o veterano Robert De Niro.
Os diálogos foram bem escritos, apesar de bem óbvios, com doses corretas de suspense e humor intercaladas. Toda sensação de pânico em Guerra dos Mundos é realista, desde o início, com a paralisação dos carros, eletrônicos e relógios, e, principalmente, em evitar mostrar os extraterrestres o máximo de tempo possível (como feito em Sinais). Sem enrolar, o filme vai direto para a ação, ao contrário do filme original. Mas, mesmo fugindo da primeira concepção cinematográfica feita, em certos momentos o novo Guerra dos Mundos parece um dèja vu do primeiro longa, principalmente, à primeira vista, pelos cenários, onde até mesmo existe uma igreja muito similar à antiga.
Logo de cara, sentimos falta do longa não ser apresentado em Cinemascope (tela cheia), é particularmente estranho isso devido à proporção da produção (que chegou a ser cogitada como a mais cara da história do cinema). Mas outros fatores logo nos fazem esquecer disso. Mesmo que óbvios, os ângulos e efeitos visuais são excelentes, tais como a trilha de John Williams, aqui neste trabalho extremamente parecido com Bernard Herrmann (Psicose, Cidadão Kane, Taxi Driver), e que vem se superando a cada parceria com Spielberg.