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março 02, 2025

Os Melhores de 2024

 


Melhor Documentário
20 Dias em Mariupol
A Música de John Williams
Sem Chão
The Only Girl in the Orchestra
Trilha Sonora Para um Golpe de Estado


Melhores Efeitos Visuais
Alien: Romulus
Blitz
Guerra Civil
Nosferatu
Wicked


Melhor Edição de Som
Alien: Romulus
Apocalipse Z: O Princípio do Fim
Blitz
Guerra Civil


Melhor Som
Blitz
Emilia Pérez
Guerra Civil
Pisque Duas Vezes
Rivais


Melhor Edição
A Substância
Aqui
Conclave
O Brutalista
Rivais


Melhor Figurino
Blitz
Conclave
Emilia Pérez
Nosferatu
Wicked


Melhor Canção (Original ou Versão Para o Filme)
"Brighter Days", Nicholas Britell, Caitlin Drake, Nancy Sullivan & Florence Dobson, Blitz
"El Mal", Zoe Saldaña & Karla Sofía Gascón, Emilia Pérez
"Las Damas Que Pasan", Adriana Paz & The Mexican Choir, Emilia Pérez
"Mi Camino", Selena Gomez, Emilia Pérez
"Winter Coat", Saoirse Ronan & Nicholas Britell, Blitz


Melhor Maquiagem
A Substância
Emilia Pérez
Nosferatu
Um Homem Diferente
Wicked


Melhor Direção de Arte
A Substância
Aqui
Conclave
Nosferatu
O Brutalista


Melhor Fotografia
A Substância
Conclave
Nosferatu
O Brutalista
Pisque Duas Vezes


Melhor Trilha Sonora (Coletânea)
A Música de John Williams
A Verdadeira Dor
Anora
Babygirl
Pisque Duas Vezes


Melhor Trilha Sonora (Original)
A Substância
Conclave
Nosferatu
O Brutalista
Um Homem Diferente


Melhor Filme de Animação
Flow
Memórias de um Caracol
Robô Selvagem
Wallace & Gromit: Avengança


Melhor Filme em Língua Não-Inglesa ou Não-Brasileiro
A Semente do Fruto Sagrado
Apocalipse Z: O Princípio do Fim
Emilia Pérez
Flow
O Trem Italiano da Felicidade


Melhor Filme Brasileiro
A Flor do Buriti
A Herança
Ainda Estou Aqui
Baby
Saudade Fez Morada Aqui Dentro


Melhor Elenco
Aqui
Conclave
Emilia Pérez
O Brutalista
Rivais


Melhor Roteiro Adaptado
Anora
Aqui
Conclave
Emilia Pérez
Nosferatu


Melhor Roteiro Original
A Substância
A Verdadeira Dor
Hard Truths
O Brutalista
Um Homem Diferente


Melhor Atriz Coadjuvante
Isabella Rossellini, Conclave
June Squibb, Thelma
Margaret Qualley, A Substância
Selena Gomez, Emilia Pérez
Zoe Saldaña, Emilia Pérez


Melhor Ator Coadjuvante
Adam Pearson, Um Homem Diferente
Dennis Quaid, A Substância
Jeremy Strong, O Aprendiz
John Lithgow, Conclave
Kieran Culkin, A Verdadeira Dor


Melhor Atriz
Demi Moore, A Substância
Karla Sofía Gascón, Emilia Pérez
Marianne Jean-Baptiste, Hard Truths
Mikey Madison, Anora
Nicole Kidman, Babygirl


Melhor Ator
Adrien Brody, O Brutalista
Nicholas Hoult, Jurado Nº 2
Ralph Fiennes, Conclave
Sebastian Stan, O Aprendiz
Sebastian Stan, Um Homem Diferente


Melhor Direção
Coralie Fargeat, A Substância
Sean Baker, Anora
Edward Berger, Conclave
Robert Eggers, Nosferatu
Brady Corbet, O Brutalista


Pior Filme
Armadilha
Eu Sou Racista?
Longlegs: Vínculo Mortal
Megalópolis
Silvio


Melhor Filme
A Herança
A Substância
Anora
Conclave
Emilia Pérez
Hard Truths
Nosferatu
O Aprendiz
O Brutalista
Um Homem Diferente

janeiro 30, 2025

No Other Land (2024)

 


Título originalلا أرض أخرى
Direção: Hamdan Ballal, Rachel Szor, Yuval Abraham, Basel Adra
Sinopse: Este filme, feito por um coletivo palestino-israelense, mostra a destruição de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada, por soldados israelenses e a aliança que se desenvolve entre o ativista palestino Basel e o jornalista israelense Yuval.


No Other Land é um documentário de 2024 que oferece uma visão íntima e impactante da vida dos palestinos sob ocupação israelense, focando especificamente na comunidade de Masafer Yatta, na Cisjordânia. Dirigido por um coletivo de cineastas palestinos e israelenses, incluindo Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, o filme combina imagens de arquivo, filmagens pessoais e registros de celular para capturar a realidade cotidiana dos residentes locais.

A produção do documentário se estendeu de 2019 a 2023, período durante o qual os cineastas enfrentaram desafios significativos, incluindo a apreensão de equipamentos e a constante ameaça de censura. A cinematografia, liderada por Rachel Szor, utiliza uma combinação de imagens de arquivo e filmagens em primeira pessoa, muitas vezes capturadas com câmeras de celular, conferindo ao filme uma sensação de imediatismo e autenticidade. Essa abordagem permite que o espectador se sinta imerso na experiência dos moradores, testemunhando a destruição de suas casas e a luta pela sobrevivência.

A edição, realizada pelos próprios diretores, é eficaz em transmitir a continuidade e a repetição dos eventos, refletindo a rotina implacável de destruição e reconstrução enfrentada pelos palestinos. A montagem entrelaça momentos de resistência e de vulnerabilidade, criando uma narrativa que é tanto informativa quanto emocionalmente ressonante.

A trilha sonora, composta por Julius Pollux Rothlaender, complementa a atmosfera do filme, utilizando sons ambientes e música minimalista para intensificar a tensão e a introspecção. A ausência de uma trilha sonora convencional permite que os sons naturais do ambiente – como o som das máquinas de construção e os diálogos cotidianos – se destaquem, reforçando a sensação de realidade crua.

Artisticamente, No Other Land se destaca por sua capacidade de humanizar um conflito frequentemente retratado de forma abstrata ou distante. Ao focar em indivíduos específicos, como Basel Adra e sua família, o filme personaliza a narrativa, permitindo que o público se conecte emocionalmente com as vítimas da ocupação. A amizade entre Adra e Yuval Abraham, um jornalista israelense, serve como um microcosmo das complexas relações interpessoais que podem surgir em contextos de conflito, oferecendo uma perspectiva mais nuançada sobre as dinâmicas entre israelenses e palestinos.

A estética visual do filme é caracterizada por imagens poéticas e contemplativas, contrastando com a dureza dos eventos retratados. Cenas de paisagens áridas e vilarejos desolados são intercaladas com momentos de vida cotidiana, como crianças brincando ou famílias reunidas, criando um contraste que enfatiza a resiliência humana diante da adversidade.

No entanto, a abordagem estilística do filme pode ser vista como excessivamente contemplativa em alguns momentos, o que pode diminuir o impacto imediato de certas cenas. A alternância entre imagens de arquivo, filmagens pessoais e cenas oníricas, embora eficaz em transmitir a complexidade emocional da situação, pode resultar em uma narrativa fragmentada que exige do espectador um esforço adicional para manter o engajamento contínuo.

No Other Land é um documentário que oferece uma visão profunda e pessoal da realidade palestina sob ocupação, utilizando uma abordagem técnica e artística que privilegia a autenticidade e a intimidade. Embora sua estética contemplativa e narrativa fragmentada possam não agradar a todos os espectadores, o filme cumpre seu objetivo de sensibilizar e informar sobre uma realidade frequentemente ignorada. Sua indicação ao Oscar de Melhor Documentário em 2025 é um reconhecimento merecido de sua contribuição significativa para o cinema documental e para a compreensão das complexidades do conflito israelo-palestino.

Eu Vi o Brilho da TV (2024)

 


Título original: I Saw the TV Glow
Direção: Jane Schoenbrun
Sinopse: O adolescente Owen, que está vivendo a sua vida normalmente, tentando sobreviver nos subúrbios quando um colega apresenta a ele um misterioso e intrigante programa de TV noturno sobrenatural. Os dois adolescente, vidrados nesse programa, começam a se distanciar e distorcer a realidade.


Eu Vi o Brilho da TV é uma obra que se destaca pela sua narrativa singular e abordagem estética ousada. Dirigido e roteirizado por Jane Schoenbrun, o filme mergulha o espectador em uma trama que mescla elementos de drama, fantasia e terror, resultando em uma experiência cinematográfica que é, ao mesmo tempo, desconcertante e envolvente.

A história centra-se em Owen, interpretado por Justice Smith, um adolescente que leva uma vida aparentemente comum nos subúrbios. Sua rotina sofre uma reviravolta quando sua colega de classe, Maddy (Brigette Lundy-Paine), o introduz a um enigmático programa de televisão noturno chamado The Pink Opaque. À medida que ambos se aprofundam na obsessão por essa série, as fronteiras entre a realidade e a ficção começam a se desintegrar, levando-os a questionar a própria natureza de suas existências.

A narrativa do filme é deliberadamente ambígua, desafiando o espectador a interpretar os eventos apresentados. A trama é tão bizarra que se torna cativante, prendendo a atenção do público do início ao fim. A diretora utiliza essa estranheza para explorar temas profundos, como a alienação juvenil, a busca por identidade e a influência da mídia na percepção da realidade.

Tecnicamente, o filme é uma obra-prima. A cinematografia é meticulosamente planejada, com uma paleta de cores que oscila entre tons sombrios e vibrantes, refletindo o estado emocional dos personagens. A direção de arte merece destaque pela recriação autêntica dos anos 1990, desde os aparelhos de televisão até os figurinos, imergindo o espectador na época retratada.

A trilha sonora complementa perfeitamente a atmosfera do filme, incorporando músicas da época e composições originais que amplificam a tensão e o mistério presentes na narrativa. A edição de som é precisa, utilizando o silêncio e ruídos sutis para criar uma sensação de inquietação que permeia toda a obra.

As performances dos atores são notáveis. Justice Smith entrega uma atuação convincente como Owen, capturando a vulnerabilidade e a confusão de um jovem à beira da idade adulta. Brigette Lundy-Paine brilha como Maddy, trazendo uma complexidade ao papel que a torna simultaneamente enigmática e relacionável. O elenco de apoio também contribui significativamente, com destaque para Helena Howard no papel de Isabel, adicionando profundidade à dinâmica entre os personagens principais.

Um dos aspectos mais notáveis do filme é sua abordagem da temática trans. Ao contrário de muitas obras que tratam do assunto de forma didática, Eu Vi o Brilho da TV integra essa temática de maneira orgânica e natural. A identidade de gênero é explorada não como um ponto focal, mas como uma faceta da complexa tapeçaria da vida dos personagens, refletindo a diversidade da experiência humana sem recorrer a estereótipos ou explicações excessivas.

A influência de diretores como David Lynch é evidente na construção atmosférica e na narrativa não linear do filme. Elementos surreais e simbólicos são entrelaçados na trama, criando uma sensação de sonho lúcido que desafia as convenções tradicionais do cinema. Essa abordagem pode deixar o espectador com uma grande interrogação na cabeça ao final, incentivando múltiplas interpretações e discussões posteriores.

Contudo, essa mesma ambiguidade pode ser vista como uma faca de dois gumes. Enquanto alguns espectadores apreciarão a profundidade e a complexidade da narrativa, outros podem achar a falta de clareza frustrante. A estrutura não convencional do filme exige uma participação ativa do público, que deve estar disposto a abraçar a incerteza e a interpretar os significados subjacentes por conta própria.

Em termos de ritmo, o filme mantém uma cadência deliberada, permitindo que as cenas respirem e que os personagens se desenvolvam de forma orgânica. No entanto, alguns podem considerar que certas sequências se prolongam além do necessário, potencialmente diminuindo o impacto emocional em momentos cruciais.

A direção de Jane Schoenbrun é assertiva e visionária. Ela demonstra uma habilidade notável em equilibrar elementos díspares, criando uma coesão estética e temática que é rara no cinema contemporâneo. Sua capacidade de evocar emoções complexas e de desafiar as percepções do espectador solidifica sua posição como uma cineasta a ser observada nos próximos anos.

Eu Vi o Brilho da TV é uma obra que desafia categorizações fáceis. É uma exploração audaciosa da psique humana, da influência da mídia e da fluidez da identidade. Embora possa não agradar a todos devido à sua natureza enigmática, é inegável que o filme oferece uma experiência rica e recompensadora para aqueles dispostos a embarcar em sua jornada surreal.

Em última análise, o filme serve como um lembrete poderoso do potencial do cinema como uma forma de arte que pode desafiar, inspirar e provocar reflexão. Eu Vi o Brilho da TV não é apenas um filme para ser assistido, mas para ser vivenciado, discutido e contemplado, deixando uma impressão duradoura que ressoa muito depois dos créditos finais.

janeiro 29, 2025

Hard Truths (2024)

 


Título original: Hard Truths
Direção: Mike Leigh
Sinopse: Pansy, irritada e deprimida, desconta sua frustração na família e em estranhos. Sua crítica constante a isola, exceto de sua alegre irmã Chantal, que continua compreensiva apesar de suas diferenças.


Hard Truths, o mais recente filme de Mike Leigh, marca um retorno poderoso do diretor ao cenário contemporâneo, após uma ausência de seis anos. Conhecido por dissecar as complexidades da classe trabalhadora britânica, Leigh nos entrega uma narrativa profundamente comovente e realista, centrada na vida de Pansy Deacon, interpretada magistralmente por Marianne Jean-Baptiste.

Marianne Jean-Baptiste, que anteriormente colaborou com Leigh em Segredos e Mentiras (1996), oferece uma performance arrebatadora como Pansy. Sua capacidade de transitar entre momentos cômicos e dramáticos, muitas vezes apenas através de expressões faciais sutis, é notável. A atriz captura com precisão a raiva latente de Pansy, uma mulher que vive em constante frustração e medo, afetando profundamente aqueles ao seu redor. A família de Pansy, composta por seu marido Curtley (David Webber) e seu filho Moses (Tuwaine Barrett), vive sob a sombra de seus rompantes de ira, temendo suas reações imprevisíveis. Jean-Baptiste transmite essa tensão de maneira palpável, tornando cada interação carregada de emoção.

Hard Truths pode ser visto como uma resposta de Leigh ao criticado "Simplesmente Feliz" (Happy-Go-Lucky, 2008). Enquanto o filme anterior apresentava uma protagonista excessivamente otimista que alienava o público, aqui Leigh nos oferece Pansy, uma personagem complexa e profundamente humana. À medida que a narrativa avança, descobrimos as camadas de sofrimento que moldaram sua personalidade, transformando o filme de uma comédia sombria para um drama familiar intenso e envolvente. Essa transição de tom é manejada com maestria, permitindo ao público desenvolver uma empatia genuína por Pansy e sua luta interna.

Michelle Austin brilha no papel de Chantal, a irmã de Pansy. Sua personagem serve como um contraponto essencial à natureza tempestuosa de Pansy. Chantal é retratada como uma mulher alegre e equilibrada, trazendo uma leveza necessária à narrativa. Suas interações com Pansy revelam a profundidade das relações familiares e destacam as divergências entre as duas irmãs. Austin interpreta Chantal com uma autenticidade que enriquece a dinâmica do filme, oferecendo momentos de alívio e reflexão.

É surpreendente e decepcionante que Marianne Jean-Baptiste não tenha sido indicada ao Oscar por sua atuação em Hard Truths. Em uma temporada marcada por performances notáveis, a interpretação de Jean-Baptiste se destaca como uma das mais impactantes. Sua capacidade de transmitir a complexidade emocional de Pansy, equilibrando vulnerabilidade e força, é digna de reconhecimento. Comparável apenas à atuação de Demi Moore no mesmo ano, Jean-Baptiste entrega uma performance que certamente será lembrada como uma das melhores de sua carreira.

A cinematografia de Dick Pope merece destaque especial. Utilizando uma paleta de cores frias e uma iluminação naturalista, Pope captura a essência da vida cotidiana da classe trabalhadora britânica. As composições de cena são meticulosas, refletindo o estado emocional dos personagens e amplificando a narrativa. A direção de arte complementa essa abordagem, com cenários que retratam de forma autêntica os ambientes domésticos e urbanos, adicionando camadas de realismo à história.

A trilha sonora, composta por Gary Yershon, é sutil e eficaz. Em vez de dominar as cenas, a música serve para realçar as emoções subjacentes, utilizando melodias suaves que refletem a melancolia e a esperança presentes na narrativa. Essa abordagem minimalista permite que as performances dos atores permaneçam no centro das atenções, enquanto a música fornece um suporte emocional discreto.

Hard Truths é uma obra-prima que exemplifica o melhor do cinema de Mike Leigh. Com performances excepcionais, especialmente de Marianne Jean-Baptiste, e uma abordagem técnica impecável, o filme oferece uma exploração profunda das complexidades humanas e das dinâmicas familiares. É uma narrativa que ressoa com autenticidade e emoção, solidificando seu lugar como um dos melhores filmes do ano.

Nickel Boys (2024)

 


Título original: Nickel Boys
Direção: RaMell Ross
Sinopse: A amizade poderosa formada por dois jovens negros é o centro gravitacional de Nickel Boys. O filme baseado no romance de mesmo nome vencedor do Prêmio Pulitzer acompanha a aliança entre Elwood e Turner, dois adolescentes afro-americanos que são enviados para um brutal reformatório juvenil na Flórida no ápice da implementação das leis segregacionistas de Jim Crow. A forte irmandade criada entre os dois forja um refúgio de esperança e carinho em meio aos horrores e às violências sofridas dentro e fora da detenção. Enquanto Elwood cultiva em Turner uma nova e mais otimista perspectiva do mundo, Turner conhece a realidade desse mundo bárbaro e ensina a Elwood os truques necessários para sobreviver.



Nickel Boys, dirigido por RaMell Ross, é uma adaptação do romance vencedor do Pulitzer de Colson Whitehead. Infelizmente, o filme falha em capturar a profundidade e a essência da obra original, resultando em uma experiência cinematográfica decepcionante e desconexa.

Desde o início, o filme apresenta uma narrativa fragmentada que dificulta a conexão do espectador com os personagens e a história. As transições abruptas entre cenas e a falta de desenvolvimento dos protagonistas tornam a trama confusa e desarticulada. A tentativa de Ross de inovar na narrativa resulta em uma execução pobre, deixando o público desorientado e desinteressado.

A decisão de filmar inteiramente em primeira pessoa, embora ousada, prova ser um desastre técnico. A câmera trêmula e instável cria uma sensação constante de náusea, como se estivesse sendo manuseada por alguém com tremores severos. Essa escolha estilística não só distrai, mas também impede qualquer imersão na história, afastando ainda mais o espectador.

A cinematografia de Jomo Fray é especialmente problemática. Em vez de complementar a narrativa, as escolhas visuais parecem arbitrárias e mal executadas. A iluminação inadequada e os enquadramentos mal compostos contribuem para uma estética desagradável que compromete a integridade visual do filme.

As atuações, embora potencialmente promissoras no papel, são prejudicadas pela direção deficiente e pelo roteiro mal estruturado. Ethan Herisse e Brandon Wilson, que interpretam Elwood e Turner respectivamente, lutam para trazer profundidade a seus personagens devido à falta de material substancial e à direção inconsistente.

A trilha sonora de Alex Somers e Scott Alario falha em adicionar qualquer peso emocional às cenas, muitas vezes parecendo deslocada ou excessivamente melodramática. Em vez de elevar a narrativa, a música serve apenas como mais uma camada de distração em uma produção já caótica.

Em termos de edição, Nicholas Monsour não consegue dar coesão ao filme. As cenas parecem coladas de maneira aleatória, sem um fluxo narrativo claro, tornando difícil para o público seguir a progressão da história.

É surpreendente que Nickel Boys tenha sido indicado ao Oscar de 2025, considerando suas falhas gritantes em quase todos os aspectos técnicos e artísticos. Comparado aos outros indicados, este filme se destaca negativamente, deixando muitos questionando os critérios de seleção da Academia.

Em suma, Nickel Boys é uma tentativa fracassada de adaptação que falha em todos os níveis. Sua narrativa desconexa, cinematografia perturbadora e direção incompetente resultam em uma experiência que muitos espectadores prefeririam esquecer. É um filme que dificilmente merece ser assistido, quanto mais reconhecido com indicações a prêmios.

janeiro 28, 2025

Babygirl (2024)

 


Título original: Babygirl
Direção: Halina Reijn
Sinopse: Uma executiva bem-sucedida coloca sua família e carreira em risco se envolver com seu estagiário bem mais jovem. No thriller erótico de Halina Reijn, Romy (Nicole Kidman) é uma executiva que conquistou seu posto como CEO com muita dedicação. O mesmo se aplica a sua família e o casamento com Jacob (Antonio Banderas). Tudo o que construiu é posto à prova quando ela embarca em um caso tórrido e proibido com seu estagiário Samuel (Harris Dickinson), que é muito mais jovem. A partir daí ela anda corda bamba de suas responsabilidades e, também, nas dinâmicas de poder que envolvem suas relações.


Halina Reijn, cineasta holandesa de grande expressão em sua carreira de direção e atuação, entrega com Babygirl uma obra provocadora que reflete sobre o desejo, o poder e os limites entre o que é ético e o que é moralmente aceitável. Ao longo da narrativa, a cineasta constrói uma história repleta de tensão emocional, erotismo e um toque de crítica à sociedade contemporânea, especialmente no que se refere ao ambiente corporativo e à exploração do prazer feminino. Com um elenco estelar e uma fotografia que leva o espectador para dentro das emoções mais íntimas dos personagens, o filme se torna uma exploração da sexualidade feminina e da dinâmica de poder que envolve os relacionamentos modernos.

Babygirl é um thriller psicológico e erótico que traz a atuação de Nicole Kidman, Harris Dickinson e Antonio Banderas, e apresenta uma história que gira em torno de Romy (Nicole Kidman), uma CEO de uma grande corporação que está em um casamento aparentemente estável com Jacob (Antonio Banderas), mas vê sua vida virar de cabeça para baixo quando um jovem estagiário, Samuel (Harris Dickinson), entra em sua vida. O filme explora a tensão entre o desejo reprimido e as expectativas sociais, levando os personagens a vivenciarem um caso quente e proibido, mas também cheio de complexidades emocionais e existenciais.

Halina Reijn é uma cineasta que consegue balancear os aspectos artísticos e técnicos de forma imersiva e convincente. Sua direção em Babygirl oferece uma estética que reflete a tensão entre os sentimentos de culpa e prazer, ao mesmo tempo em que propõe uma desconstrução das dinâmicas sexuais e de poder no mundo moderno. No entanto, é possível perceber que o filme peca em sua estrutura narrativa ao tentar ir além do seu próprio alcance.

A escolha de Reijn de tratar de temas tão polêmicos, como o desejo entre pessoas de diferentes idades, e as complexas interações no ambiente corporativo, coloca Babygirl em um território delicado. Ao invés de simplesmente mostrar um caso de natureza proibida, o filme explora as contradições internas dos personagens, fazendo com que o público questione o que é moralmente aceitável quando se trata de relações de poder e consentimento.

Ainda que a ideia de questionar essas dinâmicas seja válida e até estimulante, o roteiro acaba caindo em certos exageros, com momentos de tensão que podem ser previsíveis, mas que se esforçam em criar uma atmosfera carregada de tensão sexual. Reijn parece tentar provocar o espectador, mas acaba mergulhando em um território onde a manipulação emocional dos personagens não é tão bem fundamentada quanto poderia ser.

A fotografia de Babygirl é um dos pontos altos do filme. A paleta de cores escolhida por Reijn é sóbria e intensa, com tons de azul escuro e cinza dominando a maior parte da obra. Esses tons frios contrastam com os momentos de calor nas cenas mais íntimas, criando uma separação entre os momentos de tensão emocional e os de desejo ardente. A iluminação é outra característica que chama atenção, com planos fechados e luzes direcionadas que intensificam o foco nas expressões faciais e nos gestos dos atores. Isso não apenas ressalta a vulnerabilidade dos personagens, mas também faz com que o espectador se sinta parte do processo de descoberta e tensão.

Além disso, as cenas íntimas entre Romy e Samuel são filmadas de maneira cuidadosa, evitando a exploração gratuita do corpo. O foco está sempre na psicologia dos personagens e na maneira como eles lidam com os sentimentos que surgem a partir do contato físico, o que dá à narrativa uma dimensão emocional. A câmera se aproxima dos rostos dos personagens, capturando não apenas os momentos de prazer, mas também a confusão, o arrependimento e a busca por algo além do físico. Isso é uma marca registrada do estilo de Reijn, que sabe onde aplicar os momentos de exposição para manter a profundidade da história.

A trilha sonora de Babygirl acompanha o ritmo de sua trama, complementando a tensão e os dilemas dos personagens. A escolha de músicas como "Need You Tonight", da banda INXS, e "Careless Whisper", de George Michael, é um reflexo direto da ambiguidade emocional que permeia o filme. As canções possuem um tom melancólico e sensual, que dialogam com o clima de incerteza e desejo reprimido.

Essa inserção musical no filme não se dá de forma gratuita, mas sim como uma extensão da própria narrativa. As músicas estão atreladas às sensações que os personagens experimentam, e muitas vezes funcionam como uma espécie de espelho do que acontece na trama, intensificando os momentos de crise emocional e de reflexão sobre o prazer e a perda.

Nicole Kidman, como Romy, entrega uma performance de grande intensidade, mergulhando nas complexidades de uma mulher que se vê dividida entre a lealdade ao marido e o desejo por um novo amor, mais jovem e transgressor. A atriz consegue expressar com maestria o conflito interno de sua personagem, criando uma personagem que, apesar de sua posição de poder, é vulnerável e profundamente humana. Sua atuação se destaca especialmente nas cenas de introspecção, onde os sentimentos de confusão e desejo são expressos por meio de pequenos gestos e olhares intensos.

Harris Dickinson, como Samuel, o estagiário jovem, também traz uma atuação sólida, com uma performance convincente que contrasta a energia jovem e irreverente de seu personagem com a experiência e a complexidade de Romy. Ele está à altura de Nicole Kidman, criando uma dinâmica de poder que é ao mesmo tempo atraente e problemática. Juntos, Kidman e Dickinson formam uma dupla que mantém o espectador na ponta da cadeira, aguardando o próximo movimento.

Antonio Banderas, embora presente em um papel secundário como Jacob, o marido de Romy, desempenha com competência sua função no enredo. Seu personagem traz uma estabilidade que se contrapõe ao caos emocional criado pela relação extraconjugal de Romy. Mesmo que o papel não seja central, Banderas é eficaz ao representar a frieza e o desgaste de um casamento que, apesar de aparentemente sólido, está prestes a ruir.

O principal foco de Babygirl é explorar a relação entre desejo, poder e consentimento, colocando esses temas em uma luz desconfortável e complexa. A dinâmica entre Romy e Samuel está longe de ser uma simples história de romance ou atração; ela questiona as fronteiras entre prazer e exploração, entre liberdade e submissão.

A obra também lança um olhar atento sobre a mulher no comando, uma personagem que tem tudo, mas se vê fragilizada por um desejo que a coloca em uma posição vulnerável. O filme propõe uma reflexão sobre o impacto das relações pessoais no ambiente profissional, onde a liberdade individual pode se chocar com as expectativas da sociedade. Em certo sentido, Babygirl é uma metáfora para as mulheres que buscam assumir o controle de suas vidas sexuais e afetivas, mas acabam sendo rotuladas como transgressoras ou, pior, como manipulatórias.

Contudo, o filme também não deixa de ser autoconsciente. Há uma certa ironia em como a história se desenrola, principalmente ao explorar a obsessão que, muitas vezes, o público tem com a sexualidade feminina, e como essa obsessão pode ser tanto libertadora quanto destrutiva. A tensão entre esses elementos é o que torna Babygirl uma obra provocadora e desafiadora, mas, ao mesmo tempo, sua execução acaba sendo mais ambiciosa do que o roteiro consegue alcançar.

Babygirl é um filme que, ao mesmo tempo em que questiona e desconstrói as dinâmicas tradicionais de relações de poder e desejo, acaba se perdendo em sua própria ousadia. A direção de Halina Reijn é envolvente e promissora, mas a obra poderia se beneficiar de um maior aprofundamento em suas ideias centrais. A fotografia e a trilha sonora são espetaculares, e as atuações de Nicole Kidman e Harris Dickinson são notáveis, com performances que dão vida a personagens que são complexos e interessantes, mas que em alguns momentos não encontram a profundidade emocional que a história parece prometer.

Ao final, Babygirl é uma produção que vai dividir opiniões. Para alguns, pode ser uma experiência cinematográfica desafiadora e cativante; para outros, uma história que tenta ser mais do que é, deixando de lado a sutileza em favor de uma provocação que nem sempre atinge o objetivo. Em suma, é uma história de desejo, poder e o jogo de manipulação que ocorre dentro dessas esferas, mas que nem sempre consegue equilibrar as tensões de maneira eficaz.

Tudo Que Imaginamos Como Luz (2024)

 


Título original: പ്രഭയായ് നിനച്ചതെല്ലാം
Direção: Payal Kapadia
Sinopse: Em Mumbai, a rotina da enfermeira Prabha se transforma quando ela recebe um presente inesperado do ex-marido. Sua colega de quarto, a jovem Anu, tenta em vão encontrar um lugar na cidade onde possa ter alguma intimidade com o namorado. Uma viagem ao litoral permite que eles encontrem um espaço para que seus desejos se manifestem.


Tudo Que Imaginamos Como Luz (All We Imagine As Light, 2024), dirigido por Payal Kapadia, é uma obra que, apesar de suas intenções artísticas, falha em entregar uma narrativa coesa e envolvente. O filme acompanha a vida de três mulheres em Mumbai: Prabha (Kani Kusruti), uma enfermeira que lida com as cicatrizes de um casamento fracassado; Anu (Divya Prabha), sua colega de quarto mais jovem, envolvida em um relacionamento secreto; e Parvaty (Chhaya Kadam), uma cozinheira ameaçada de despejo devido à gentrificação. Embora essas premissas ofereçam potencial para um drama profundo, a execução deixa a desejar.

A narrativa é desconjuntada, movendo-se de um ponto a outro sem uma direção clara. As transições entre as histórias das protagonistas são abruptas, e o enredo parece se perder em subtramas que não contribuem para o desenvolvimento geral. Essa falta de coesão resulta em uma experiência frustrante, onde o espectador é levado de um lado para o outro sem um propósito definido.

Um dos principais problemas do filme é a incapacidade de criar empatia pelas personagens. Embora as atrizes entreguem atuações verossímeis e competentes, os roteiros de suas personagens são superficiais, carecendo de profundidade emocional. As motivações e os conflitos internos das protagonistas não são explorados de maneira satisfatória, tornando difícil para o público se conectar com suas jornadas.

No terceiro ato, após uma viagem ao litoral, o filme sofre uma mudança tonal drástica. A narrativa, que até então seguia uma linha relativamente linear, mergulha em sequências abstratas e simbólicas que carecem de contexto ou explicação. Essa virada inesperada desorienta o espectador e adiciona uma camada de confusão a uma história já fragmentada.

A cinematografia busca retratar a realidade de Mumbai, mas o resultado é visualmente desagradável. As locações escolhidas enfatizam a desordem e o caos típicos da cidade, apresentando ambientes sujos e desorganizados que são difíceis de assistir. Embora a intenção possa ter sido mostrar a autenticidade da vida urbana indiana, a execução resulta em uma estética que repele em vez de atrair.

Um elemento particularmente desconcertante é o presente que Prabha recebe de seu ex-marido: uma máquina de fazer arroz. O objeto é introduzido na trama sem contexto claro e não recebe uma conclusão satisfatória. A obsessão de Anu com o aparelho, chegando a colocá-lo entre as pernas em uma cena que sugere uma simulação sexual, é especialmente perturbadora e carece de explicação dentro da narrativa.

Em última análise, Tudo Que Imaginamos Como Luz é uma experiência cinematográfica enfadonha e tediosa. Apesar das performances competentes do elenco, a falta de coesão narrativa, personagens pouco desenvolvidos e escolhas estéticas questionáveis tornam o filme difícil de assistir. O potencial para uma exploração profunda das vidas das mulheres em Mumbai é ofuscado por uma execução que falha em engajar e satisfazer o público.